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16.2.08

Eu sou um erro.

Eu sou um erro.

É tudo que você precisa ouvir de uma menina que faz o gênero bonitinha-depressiva, ás 16.51 de uma tarde de sábado de fevereiro em que as coisas que aqui estavam não estão mais, enquanto ela faz onda pra se arrumar para ir ver o novo filme do Tim Burton com o gato do Johnny Depp, simplesmente por não poder ir fazer outra coisa.

Mas eu sou um erro.
Se o mundo está certo, eu sou um erro. Eu só posso ser um erro. Um defeito de fábrica em cromossomos, uma indisposição genética da humanidade. Um disperdício de massa corporal e uso de oxigênio no belo baile da vida.

Se o mundo todo é que está certo, eu sou uma apendicite. Uma coisa que não deveria existir e só existe pra dar incômodo ao resto das pessoas normais. É, eu sou um erro. um zero esquerda, a contramão em que você entra e bate.

Eu sou um erro porque os filmes que estão em cartaz não me interessam, e os que me interessam não estão aqui. e quando estão, ficam pouco porque as outras pessoas, essas normais, não gostam deles. sou um erro, não gosto de música eletrônica, nem do que toca no rádio. não saio pra dançar e não bebo. Só posso ser um erro, não gosto de nada que todo mundo gosta.
Eu sou um erro porque vejo medíocriedade em todos os cantos, e eu anseio por coisas melhores. porque eu espero das pessoas o que elas não podem me dar e porque fico querendo dar o que elas não querem. Sou um erro porque não vejo propósito nessa vida em que todo mundo leva. Eu só posso ser uma anomalia no cormossomo sem número da humanidade. eu não quero um carro importado, ou uma casa grande, ou um cachorro. e não quero encher minha conta no banco nem ser horrivelmente bem sucedida. eu não quero ser um bracinho do capitalismo, não quero ter sucesso e glamour, nada disso. eu só quero ser feliz, porra. feliz com minha família e minha vida confortável. feliz. trabalhar com o que eu gosto, ouvir frases bonitas as seis da tarde e cozinhar macarrão. eu sou um erro, porque o que eu espero são bolinhos de chuva e uma conversa que valha a vida.

Sim, eu sou um erro. um erro porque eu não vejo graça nos filmes em que todo mundo vê, e porque eu acho que o mundo não tem jeito. sou um erro porque não apoio pena de morte, acho que bandidos tem solução e que todo mundo merece uma segunda chance. sou um erro porque fico querendo cuidar do mundo. porque me importo com a menina que está na rua porque perdeu os pais. me importo com quem eu não conheço. porque não disperdiço água, evito usar sacolinhas plásticas e gosto de respeito.

Eu sou um erro bem grande e ruídoso porque não troco minhas amizades por dinheiro nenhum nesse mundo. porque largaria minha carreira e minha vida confortável pra viver um grande amor. porque não jogo lixo no chão, e aceito muito bem ficar de pé para que um velhinho se sente. sou um erro porque acredito em um jeito pro mundo, num futuro pra humanidade e em políticos honestos. um erro que não acha violência aceitável em nenhum aspecto e que fica por aí expondo sua opinião por todos os lugares. uma anomalia que fica em casa em sábados a noite assistindo filmes, que não vai pra balada e não liga pra churrascos de faculdade.

Eu sou um erro em todos os aspectos. uma pária, porque não quero marido que me sustente. porque não ligo de ser mais baixa ou mais pobre que o meu namorado. porque respeito gente que não fez faculdade. porque prefiro ler a ver televisão, porque escrevo sendo designer. porque fico por aí contestando as coisas que as pessoas acham certas. sou um erro designer-comunista. um erro sem propósito.

É, eu sou um erro sim. Todo mundo acha que o mundo tá bom do jeito que tá. que morrer e matar é normal, que bandido e pobre não é gente. que algumas pessoas vão ter coisas e outras não e isso é a lei da vida. todo mundo quer ter uma carro, uma casa, cara, tv de plasma, uma mulher bonita e uma vida de aparências. todo mundo quer status, empregos milionários e ser infeliz por dentro. todo mundo procura a felicidade numa nota de papel e em líquidos alucinóginos. todo mundo está aí dançando em boates no sábado a noite ao som da música eletrônica que eu odeio. todo mundo está assistindo a novela, comentando a novela. todo mundo está apoiando a guerra. falando mal de quem não é igual a eles. todo mundo espera que tudo caia do céu, e todo mundo acha que as coisas não tem mais jeito. todo mundo está jogando lixo no chão, correndo demais e achando tempo pra conversar uma perda de tempo. e se eu não quero nem gosto de tudo isso, eu só posso ser um erro. um cromossomo sem número com uma anomalia gravíssima, vão ter que me amputar daqui para que eu não me alastre.

Eu sou um erro. dos grandes.
e vocês que concordam com as coisas que eu concordo também são erros. vocês, meus amigos, são erros como eu.
somos todos erros, estamos errados, a gente quer o que ninguém quer.

Somos erros indesejáveis, uma doença estranha e vão nos curar.
Mas eu não quero que me curem, pelo amor de Deus, ou de quem quer que seja. não quero deixar de ser essa doença, essa anomalia.

Eu sou um erro, um erro grande, malcheiroso e sem cura.

E quero ir embora daqui antes que me transformem num acerto.

2 comentários:

Keila disse...

Céus, eu sou um erro. Um erro bem errado meeeeesmo. Mas, qual é a graça em ser certo, quando o certo deles é tão errado para nós. Como disse o menino do balaio, talvez aquela menina no shopping esteja certa. Se ela estiver, quero continuar sendo errada. Quero continuar sendo parte das pessoas andando lá trás, com pirulitos de sabor alternativo. Quero continuar assistindo os filmes que só passam no catuaí 3. Quero ser um otário. aushaushsuahsahsuhsushu \o/
Ser certo é muito cara de melão u.u
~bjuussss
Amo-te, lalari

Anônimo disse...

quase uma mafalda você, mor