(Pequeno tratado sobre coisas que sempre continuarão a acontecer.)
Você já percebeu que tipo de relação doentia a gente tem?
Não. Não deve ter percebido, não faz sentido nenhum que você perceba, porque eu tenho uma relação doentia com você e o contrário não acontece.
Eu não estou falando de amor. se eu fosse seu amor e você o meu menino eu acho que bem, eu acho que a gente nem teria chegado a ser como de fato não chegou. é só uma relação. uma relação, como todas as outras relações humanas. relação de conversa, saídas e de uma certa ajuda. nas relações saudáveis é o que se chamaria de ajuda mútua, mas no nosso caso é só ajuda mesmo, de você pra mim. eu me desdobrando e você assistindo, braços cruzados, sentado e achando que não precisa fazer mais nada. eu meio que faço tudo por você.
eu meio que faço isso por todo mundo. pelos meus pais, meus outros amigos, meus amores. mas com você é diferente. com você não tem um pingo de coisa que venha de você pra mim. é tudo de mim pra você. e não é por nada. não é porque são cinco e meia da tarde de uma terça feira absurdamente cansativa e eu mal consigo colocar meus pensamentos em ordem e nem mesmo porque os seus problemas na maioria das vezes se tornam meus problemas, mas eu estou cansada. cansada mesmo. cansada de você. cansada de ser isso daí que eu sou pra você. na verdade, cansada disso daí que você é pra mim.
eu só queria que você resolvesse seus problemas sem precisar da minha ajuda. eu só queria te dizer não quando você viesse atrás dela. eu só queria não (re)descobrir hora ou outra que eu estou fazendo de tudo por alguém por quem meio já estava bem perto do bastante. Não que você não goste de mim ou nada disso e nem que a gente precise fazer as coisas esperando algo em troca, mas às vezes eu fico te olhando e pensando que eu não deveria fazer nada por você. nada mesmo. não deveria perder minhas noites de sono pra ouvir seus problemas que nem problemas direito são. ás vezes eu fico pensando, você já parou pra pensar nisso? parpu pra pensar o quanto você está fantasiando? parou pra ver que você é só mais um deles? só mais um. eu já achei que você era diferente, mas você é só mais um cara. um cara como todos os outros na eterna fila dos caras comuns. um cara. você diz que não mas é só isso, mais um cara.
um cara. um cara desses que acordam todos os dias pensando em ganhar dinheiro e ser famoso. que pensam em descolar aquela mina, enquanto não tem coragem de falar pra garota que está do seu lado o quanto talvez goste dela. mais um cara desses que se preocupam mais com eles mesmos. um cara desses de calça jeans, camiseta e moletom um cérebro com metade da capacidade utilizada. um dessa porcentagem de caras que se acha um dos vermelhos nos pretos, mas é só mais um vermelho no vermelho e acabou. um cara que vai crescer, se reproduzir, ter um carro bonito, uma mulher sem muito na cabeça e vai acabar envelhecendo aí, mais um na porcentagem das estatísticas da classe média ascendente que sonha em ter uma casa maior. mais um cara que vai ensinar seus filhos a gostar de futebol e como se dar bem na vida. mais um. eu já achei que você era um cara, mas você é só mais um cara e eu cansei de carregar você nas costas.
cansei. vontade mesmo de falar pra você que olha, já deu, eu gosto muito de você mas você é grandinho o suficiente pra segurar o seu, cuidar da sua vida e não fazer com que eu compartilhe todas as vezes com a merda que você vive fazendo e muito menos fazer com que eu esteja ali, ombros, ouvidos e olhos pra te segurar depois que você cair quando eu tinha te avisado milhões e milhões de vezes que essa não era a escolha certa. tudo bem, eu não cobro nem peço nada, você sabe eu nunca fui de fazer isso, se eu fosse acho que a gente nem estaria aqui, desse jeito, nesse estado.
não é nada, só estou pedindo afastamento de você, de mim, da nossa relação doentia e dessa coisa de você ser só um cara e ainda esperar que eu resolva seus problemas. é só pra te alertar que em uma dessas manhãs, e nem vai demorar muito, você vai procurar por mim e eu já vou ter ido embora.
27.5.09
Das relações humanas.
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Um comentário:
tenho uma relação tão doentia quanto.
e suas palavras me fizeram ver o quão.
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