Páginas

17.3.10

Mesmo que mude (é sempre amor).

"Ela vai mudar,vai gostar de coisas que ele nunca imaginou. Vai ficar feliz de ver que ele também mudou. Pelo jeito não descarta uma nova paixão, mas espera que ele ligue a qualquer hora só pra conversar e perguntar se é tarde pra ligar. Dizer que pensou nela, estava com saudade, mesmo sem ter esquecido que é sempre amor, mesmo que acabe com ela aonde quer que esteja. É sempre amor, mesmo que mude, é sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou.

Ele vai mudar, escolher um jeito novo de dizer "alô". Vai ter medo de que um dia ela vá mudar que aprenda a esquecer sua velha paixão, mas evita ir até o telefone para conversar, pois é muito tarde pra ligar. tem pensado nela, estava com saudade. Mesmo sem ter esquecido que é sempre amor, mesmo que acabe com ele aonde quer que esteja. É sempre amor, mesmo que mude, é sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou.

Para conversar nunca é muito tarde pra ligar. Ele pensa nela. Ela tem saudade. Mesmo sem ter esquecido que é sempre amor, mesmo que acabe com ele aonde quer que esteja.

É sempre amor, mesmo que mude. É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou." (bidê ou balde - Mesmo que mude)

E dizendo assim, que pode ser qualquer coisa dessas, dessas coisas inúteis que me lembre qualquer coisa inútil tipo amor, mudança esse estar constante e esse não ser. Qualquer coisa, Caio F., Clarice, Bidê ou Balde. Uma palavra, uma foto, um dia ou um gesto, usando qualquer coisa dessas pra tentar te dizer aquilo que dia após dia eu só sei é sentir: Garoto, você (ainda) me dói.

11.3.10

Então volta.

Eu nem sei o que pensei quando te vi partir, porque certamente eu nem me lembro o dia exato que te vi partir, pois caso tivesse visto eu teria me doído toda de qualquer jeito bem errado e me arrastado em cima de você e te dito pra ficar por-favor ou pelo-amor-de-deus ou pelo-amor-que-você-já-sentiu-por mim, ou qualquer coisa do tipo, bem melosa-melante, bem final de canção de bolero, toda latina querendo conseguir um jeito para que você ficasse comigo.

Não foi assim. Você partiu e eu nem vi. Não houve o desfecho clássico dos filmes, em que a pessoa amada diz que vai e então o rejeitado segura em seus joelhos e implora pelo-amor-de-qualquer-coisa que a pessoa amada fique pois a vida sem ela parece um constante desacerto, um constante andar pelos caminhos errados e não se encontrar nunca. Você nem partiu. Ou partiu em doses tão homeopáticas que eu nem tive tempo de ver. Uma vez não te encontrava no café, e depois não te encontrava no jantar e um dia não atendias mais meus telefonemas diários até que quando eu me dei conta eu vivia com uma enorme ausência de você.

Ausência quando a gente acha impossível de acontecer dói bem mais. Eu te tinha tantos dias e tantas vezes que queria que não me lembro nem de ter imaginado como seria um dia acordar e não ter você pra dar oi de qualquer maneira. É claro que haviam os dias em que não nos encontravamos, ou as semanas atarefadas que impediam a rotina, mas de algum modo estavas. Estavas na ponta do sofá depois do almoço, no tico de café que me roubava, nas conversas intermináveis, no dizer que só tinha a mim para conversar, nos telefonemas estranhos, no dividir as velharias e sorrir, nos filmes da tv, ou dos dvds, ou do cinema. De qualquer modo esteve, e esteve sempre. E assim estando não precisava haver outro modo de existir. Simples presença. Assim se era e se fazia, ou talvez-quem-sabe, amor de verdade.

Vez ou outra me imaginava num futuro rápido com você. E eis que me vinha uma casa comum, e na verdade nem era uma casa, era um apartamento - mas um desses lugares que se chamam lar - e me via ali em sofás cor de não sei o quê sentada com você, ora assistindo tv, ora te contando sobre meu dia e ora sozinha contemplando de longe suas atividades importantes. Era as vezes assim e as vezes um simples depois de dez anos você passar em casa para tomar um café e tudo acontecer assim, do jeito que deveria ter sido. Vez ou outra também só te via amigo, e queria te cuidar do jeito que pudesse para que não tropeçasse nunca e nunca também se machucasse, porque sempre te gostei além da razão, embora nunca tivesse percebido com certeza.
Foi quando você começou a partir e quando eu sentia a sua ausência pingada, ora faltava ali, ora aqui que eu comecei a fazer planos maiores que envolviam além de casa filhos e além de filhos, muito além, envolvia em me compartilhar com você. No começo era uma simples compartilhação: eu te dou tal coisa e você me dá tal coisa e assim poderíamos viver, compartilhando sentimentos. Você me dava esse teu espírito sonhador e em troca eu te devolvia a minha melancolia pra você dar jeito. Depois você me entregava esse seu amor-por-tudo e em troca eu te dava um pouco da minha mania dos pés no chão. Aí você me dava o seu pensar com as imagens e eu te dava em troca as minhas palavras. No começo eram poucas, e geralmente faladas, e geralmente muito rápidas e quase sem nexo. Depois elas foram tomando forma e ficando cada vez mais bonitas e cada vez mais escritas e cada vez mais profundas e até que chegou o dia em que quando você fechava os olhos eu te invadia com alguma coisa minha pra você e quando me dei conta você já era o meu verbo.

E logo depois os planos foram dando lugar para pequenos acordos que eu queria fazer com você, sempre imaginários, e eu já não compartilhava nada, eu me dava pra você. Eu te daria qualquer coisa que me pedisse, material ou imaterial. E foi quando eu comecei a tomar conta da sua vida e mais do que isso, bem mais do que isso, eu comecei a dar coisas pra você cuidar. No começo eram coisas pequenas, porque eram as minhas idéias, os meus pensamentos, as coisas que eu gostava.

Depois cresceram um pouco e você começou a cuidar da minha rotina. Mais um tico e você estava cuidando dos meus planos, e foi aí que de repente sem nem saber eu te dei minha vida pra cuidar. E depois não só pra cuidar, mas pra fazer o que você bem entendesse dela. Minha vida era sua, e não só a minha vida, mas qualquer coisa que você me pedisse eu te daria, porque naquelas alturas do sentir eu já era sua, sem posse ou escrita, mas sua de alma e sentimento. Sonelemente sua.

Foi quando o viver a minha vida consistia em pensar em você na minha vida, de todas as maneiras e formas, e além disso constatar a obviedade das obviedades- eu sem você sou um ser humano sem uma parte- que você resolveu partir. E você vivia tão dentro de mim que eu nem te vi partir. Te via aos poucos, mas logo resgatava teu pedaço em mim e vivia ele de um jeito tão febril que não existia mais ausência. Você, sempre tão meu, e eu em tantas partes pra você cuidar que qualquer separação parecia impossível. Foi quando eu olhei pro lado e o vazio dos vazios me engoliu: a sua ausência. Não mais a ausência que contemplava vez ou outra um telefonema, ou uma carta ou até quem sabe uma visita para um café, ou um simples pensamento no fim de tarde. O que se viu foi a ausência das ausências, o nada absoluto, o corpo sem alma.

E fiquei casca. Casca oca, sem alma nem cor. Tantos pedaços meus em você que não sei nem contar. Tanto seu em mim, todo um futuro, um lar, tantos acordos. E você andando por aí carregando a minha vida com você. A minha vida mais feliz, a melhor parte dela, essa minha vida que só faz sentido ao te ter perto-pertíssimo. Tivesse eu visto você partir teria feito cena ou qualquer coisa, teria te implorado ficar pelo amor-que-já-senti(mos) ou qualquer outro clichê moderno ou não. Teria eu te mostrado que eu sempre fui teu melhor lugar, tua melhor companhia, teu melhor acordo e seu melhor compartilhamento. Teria te dito que eu estava disposta a entregar muito mais, qualquer coisa que fosse pra que esse eu-e-você machucados nos tornassemos uma flor linda, daquelas trepadeiras que invadem os cômodos e precisam de cada vez mais espaço pra respirar. Eu estou dizendo sim do nosso amor infinito e incontável, do meu por você e de uma vida que só faz sentido com a sua companhia.

Teria te enlencado razões, ou teria chorado. teria quem sabe deitado no tou colo, ou talvez te convencido de uma maneira bem menos barata e teria te sentadona tua ponta do sofá e te dado o teu café e teria então te contado sobre os planos, o compartilhamento, a nossa sala com cara de lar, com sofá cor de sei lá-o-quê. Eu estava disposta, eu que nunca dividi nada, que nunca soube dar. Por você eu dividiria a vida e me daria inteira, toda toda, porque só sou completa se for com você.

Mas eu não te vi partir e não pude fazer nada. Hoje choro a dor da sua ausência e daquela vida toda que eu te dei um dia e que eu não espero que você devolva, ou tire de você ou qualquer coisa. Essa minha vida que eu te dei que eu só quero que você guarde e que um dia volte pra me dar de volta que aí eu te dou de volta os seus pedaços em mim e a gente promete debaixo das estrelas deitados na rua que não se larga nunca mais, exatamente assim, nunca mais, porque tem muita vida sua em mim e tanta vida minha em você que qualquer separação não faz qualquer sentido e então é isso, eu resolvi te esperar, e tudo aquilo que eu prometi te dar ainda é seu, eu ainda sou tão disposta. e agora que eu já percebi que você se foi eu só te peço: volta.

a saudade é arrumar o quarto de um filho que já morreu.

É difícil te dizer essas coisas.
Mais difícil ainda porque tenho tentado repetidamente há alguns meses sem sucesso algum. Não que eu não saiba as palavras certas. Você tem que concordar comigo que de palavras eu sempre entendi. De amor nem tanto, mas sobre palavras, como colocá-las da maneira certa pra te atingir aqui ou ali eu sempre soube. Talvez saiba até hoje, mas já não tenho tanta certeza.

Existe algo, aqui dentro, que vem quebrado repetidamente. Todos os dias quebra mais um pouquinho. Não sei se você entende sobre coisas que quebram. Eu sempre fui a quebrada das coisas. Você sabe, bem por detrás do meu sorriso bonito sempre teve alguma coisa quebrada. Dor, ou qualquer coisa assim. Aquela coisa que você olhava ou ouvia e depois me dizia que não sabia como agir quando eu lhe dizia essas coisas. Eu sempre achei bonito. Bonito esse seu não-saber-mas-querer. Eram momentos assim que me faziam querer te guardar em caixinhas. Daquelas pequeninas, ali na estante. Sentimento. Dos bons.

Eu tenho repetido rotas. Rotas que repito todos os dias, repetidamente. Comigo, com outras dez pessoas, com uma só, só que outra. Partes do meu cotidiano assim, imagens daquelas tão corriqueiras que se nos pedirem os detalhes a gente nem lembra. Faz um tempo que em todas as minhas rotas lembro de você. E não importa quantas vezes eu tenha passado lá com outras pessoas e nem quantas vezes ou quanto tempo faz desde que o trajeto não é feito com os seus pés de tênis sujos do lado do meu, mas tudo grita: vo-cê. Em detalhes.

A esquina em que um dia deixei você ir e fiquei te esperando, sentada, vendo o sorriso bonito. O caminho que devo ter feito dez, vinte, sessenta e sete vezes desde a única vez que o fiz com você, mas lembro é de ti, em detalhes. Me lembro do dia que te esperei e te vi. Me lembro do único dia que me esperastes, nervoso. Me lembro dos teus pés do lado dos meus, silenciosos quase e eu gritando nervos, falando demais, como sempre-sempre. Me lembro de primeiras vezes, de únicas, de rotinas esquecidas aqui e ali. Me lembro de você. Do cheiro e do sorriso. Do jeito de rir, dos dentes errados, do desajeitamento, da altura exata e até das vezes que eu deveria ter prestado mais atenção eu me lembro.

Tenho me lembrado, que nem doença, de você.
Me lembrado como se lembra das pessoas que morreram. O não as ter nos faz lembrar delas em trajetos e rotas e rotinas. Faz lembrar do que um dia se teve e não se vai ter mais. Por fatalidade. Um dia você acorda e te contam que aquela pessoa nunca mais fará parte da sua vida. Nunca mais os telefonemas, as visitas, as tardes e as rotinas.
Nunca mais.
E é quando você começa a viver com lembranças. Me lembro do dia que. Daquele outro dia que. Da camiseta verde. Da camiseta azul marinho. Da bolsa. Da carteira. Lembranças. Lembranças que qualquer dia somem e só sobra a essência. O cheiro de morte, tudo que deveria ainda ser e não é mais.

O que eu quero dizer, sem eufemismos ou tragédia demais, é que você morreu pra mim. Não por dentro. Ninguém morre por dentro de ninguém. As pessoas que morrem continuam tão vivas ou mais vivas que as pessoas que respiram e andam perto da gente. Mas em algum lugar, você morreu. Um dia eu acordei e te vi, morto, sem nenhuma respiração ou aspiração na minha vida. Tenho contado os dias, e os meses. Tenho vestido meu luto. Tem doído. Eu tinha resolvido não aceitar. Eu tinha vestido meu luto na frente da porta e esperado você voltar. Todos os dias eu esperava você voltar. Todos os dias a saudade aumentava um pouco. Todos os dias a dor aumentava demais. Cada pedaço de terra, de rua, de comida ou de livro me lembrava você. Eu tenho um quarto todo mobiliado com coisas suas desde que você morreu. Eu tenho esperado como a mulher que perde o marido na guerra ou a mãe que espera o filho desaparecido. Eu tenho sentido as saudades mais doídas. Todos os dias.

Mas hoje eu olhei a ausência e pensei na falta de sentido que faz conservar os mortos. O falar em cada conversa, o esperar em cada jantar, o guardar os presentes e as lembranças. E é isso que eu queria te dizer, que eu espero que você morra dentro de mim, como já morreu fora. Delicadamente, causando pouco estrago, aos poucos. Eu não espero acordar amanhã e ver você morto dentro de mim. Eu sei que eu ainda vou me recolher no meu luto algumas vezes, sei que ainda vou chorar sua partida, e mais que tudo vou desejar que você estivesse comigo, vivo e falante, com todos os trejeitos que eu conheço tão bem.

Mas por hoje, eu decidi que eu quero que você morra, e é isso que eu queria te dizer. Faz tanto tempo que você se foi e eu aqui, cultivando essa saudade, esse vazio essa vontade de. Eu não posso mais, o te ter viva em mim é que me faz morrer.




10.3.10

trecho.

Daí ela me perguntou de onde vinham aquelas coisas e eu queria lhe explicar que todas aquelas coisas vinham da minha cabeça. Todas aquelas coisas, desde as coisas mais bonitas até as coisas mais sujas. Aquelas coisas que a tinham encantado, até as coisas que a fariam me ter asco profundo para todo o sempre, todas aquelas coisas, eu não tinha emprestado nem lido, todas elas vinham de mim. Diretamente da minha cabeça.

6.3.10

Um diário, quatro ou três ou cinco dias.

5 de maio de 2009

Dos dias normais que me seguem, esse foi mais um. Mais um dos dias cansados e normais que acontecem sempre-sempre. A aula do professor mais querido e o encontro com aquilo que acredito. Porque se a gente não fosse aluno-professor, com certeza seria amigo.
Criei a agenda pra fazer de hábito, mas ando tãotão cansada que prefiro dormir ao invés de escrever. Fez muito frio na terça, daqueles frios que doem a alma. Fica cada dia mais difícil acordar pra fazer qualquer coisa, principalmente ir à uel.
Mas visitei a tia, fazia tanto tempo desde a remota infância de comer pão e tomar café. Pequenas saudades "daquele tempo bom que já passou".
Fiquei preocupada, mas daí a chamar de saudades acho que é um pouco demais. Talvez se preocupe com as coisas que se ama. Mas eu não posso dizer. Não posso dizer coisa alguma com certeza. Mas algumas pessoas sentem mais do que as outras.
Continuo precisando da sua consideração, de uma certa forma. Acho que preferia as vezes que queria te matar. De verdade.

13 de maio de 2009

Acho que não sei mais escrever.
Poxa, que exagero!
Enfim, não importa, escrevo para passar o tempo da aula mais chata do universo. Hoje foi um dia essencialmente de sono, dentista e patê de ricota. Como um dia pode ser resumido em sono, dentista e patê de ricota você me pergunta e eu te respondo que meus dias podem. Tenho comido muito, dormido pouco e ando sempre cansada.
Não é uma vida empolgante, é só uma vida. E tem uma diferença absurda entre essas duas coisas. A diferença entre ser feliz e estar contente, talvez. Se é que alguém é realmente feliz em algum lugar.
Tentei sem sucesso aprender francês com Carla Bruni. É bem mais difícil que aprender italiano com renato russo. J'ne parle français. Fica sempre uma salada louca entre espanhol, italiano e francês. Mas vou aprender tudo, um dia.
Manuelli me fez chorar, quase, de novo. Eu sempre fico pensando como se pode amar tanto alguém que nunca se viu, desse jeito não-lésbico de amar, de amizade pura e simples. Dos "eu te amo" sinceros que eu nunca achei capaz de sentir (salvo os amores fraternais) ela é um deles. Talvez porque seja de certa forma um amor fraternal, dessas irmãs que eu não tive. Que fazem a sua vida valer a pena. E só. (e TU-DO)

19 de maio de 2009

Dezenove de maio não é um dia bom.
Existe algum livro em algum lugar no espaço que diz que mil novecentos e alguma coisa não foi um dia bom. As minhas tristezas são mais simples. Dia dezenove de maio não é um dia bom e só. Não é auspicioso. Dizem que as pessoas melancólicas escrevem melhor, são mais criativas, é a falta de serotonina no cérebro. Eu não sei o que dizem sobre pessoas tristes. Elas provavelmente não podem escrever, assim, como as pessoas alegres. Corre-se o risco do melodrama, assim como corre-se o risco da euforia burra quando se está alegre. Portanto, prefiro não dizer nada.
Me calo diante dos fatos. Podia ser poética, mas tristeza é coisa que dói nos ossos, não na língua. Ouço suspiros do meu lado. Do outro lado há um olhar perdido entre outras coisas e atividades. Compartilhamos tristezas, só que no silêncio. Te diria tudo o que sinto se eu soubesse. A partir de agora sei que vou me perder disso. Sei que vou. Alguma coisa dói muito e tudo que sei que consigo é olhar pela janela. Completamente apática.
Triste.

"How does it feel? To be on your on. Like a completly unknow.
Like a Rolling Stone."

E no final do dia, o surto.
Às vezes a vida é um pouquinho mais do que a gente pode aguentar.
Quase sempre.

4 de maio de 2009

Pode uma pessoa estar um poquinho mais confusa?
Tenho feito da minha vida pequenas frases de twitter. É interessante, mas é um pouco raso.
Esse azul não combina nada com a cor em que eu resolvi colocar as tais datas. Não tenho canetas pretas que possa usar. Talvez comprar, talvez.
Acho que twitter é bom pra quem pensa abstrato. Como não consigo mais ter linhas de raciocínio estou achando abusrdamente interessante.
Tive conversas sobre casamentos e afins, e estou me sentindo velha, sabe? acontece.
Preciso desesperadamente parar de falar de você. Tem ficado muito evidente. Porque entrar nessa depois de tanto tempo você me pergunta e eu não sei responder. Das coisas que eu sempre amei uma delas sempre foi você. Das coisas que me fazem parte, uma delas é você.
E dói.
Putaqueopariu.

4.3.10

Do amor que mora em cabeças.

Hoje acordei querendo fazer você morar em outra cabeça. Te aquente, rapaz. Existem tantas cabeças aí no mundo pra você morar e você resolve criar morada justo na minha. Me invade todas as sinapses e meu inconsciente te grita. Te grita e personifica. O filme da minha alma te tráz em cartaz todos os dias, durante o sono. Do jeitinho que eu imaginava. Sonho na essencia da palavra. O estar imaginado aquilo que se queria concreto. Sempre te quis. Só meu sonho te tem.
Tenho medo dessas coisas que escrevo, te escrevo, escrevo simplesmente. Dessas palavras que jogo ao vento sem nenhuma história definida, começo-meio-fim. Esse vômito de palavras atrás de palavras, essa literatura b que eu escrevo e chamo de literatura. Os trechos de mim personificados e toda a carga semântica que o existir traz. Minha literatura barata, de besteira, de botequim, de coisa não pensada. Do apenas sentir e sentindo ser e escrever e colocar as palavras desse jeito sem jeito assim que é.

E tudo começou ao te conhecer, naquele janeiro-fevereiro perdido no espaço dos tempos e da nosss história longa e intrincada, nossa pequena biografia de fatos. Te enumero fatos. O te conhecer, o isso, o aquilo, o sorriso, o filme, a água, o macarrão, as mãos, o lugar. Um colorido todo da cidade que me lembra você. Minha biografia de lugares. Ali te encontrei pela primeira vez. Ali foi que te vi sorrir pela primeira vez. Foi naquele lugar ali mais a frente que nos tornamos rotina. Foi ali naquele lugar que não sei que nos perdemos de vez.

Me perdi. De você e consequentemente tenho me perdido de mim. O não te ter desatura as cores que vejo e a alma. E as almas desaturadas são as almas mais tristes que existem. Pretas e brancas de contraste parco, sem música nem nada. Almas que desaturam não escrevem nem amam, nem fazem nada e acima de tudo, desconhecem a paixão. Desapaixonadamente do alto de minha alma cinza é que te digo: Me perdi. Disso, daquilo, daquele outro ali, da parte mais bonita de mim. E vivo de lembranças. De nostalgias que doem.

Um dia o lembrar do prmeiro dia que foi fitar meus olhos nos seus e te achar todo malfeito. O outro lembrar da música que era sua, ,foi nossa e hoje é minha. O depois uma lembrança ainda mais simples, o mero estar lado a lado sem dizer muito. Depois o sorriso. Esse indivízivel e alto, e único. Às vezes o perfume, que some e volta como desses ventos passageiros. Depois o simples eu e você que era assim, trazia a beleza da simplicidade de se amar sabendo e sem saber. Depois a cumplicidade nada ensaiada. Um estar não estando. Lembrar-me até do mercado, de uma palavra dita ao acaso e do sorriso fechado daqui ou de lá.

Estranha essa tal ausência. Pega a gente num dia desses de frio ou chuva e nos lembra desavisados de uns momentos tão perdidos que a gente acha que nem viveu. O estranho inundar com lembranças o simples pegar água, o sabor de um sorvete, uma frase perdida. Num momento não era nada e depois se torna. Saudades dessas, intransferíveis, grandes, eternas.
E foi desde que te perdi, desde que a ausência fez um rombo daqueles grandes, tamanho de buraco negro, puxando puxando puxando, levando pra dentro, é que resolvestes viver em mim.

E você veio e trouxe com você toda a nossa história: começo-meio-fim, do jeito que sempre foi. E quando adormeço, garoto, teimas em me contar ao pé do ouvido a nossa história toda torda, pedaço aqui, pedaço acolá, narrativa não linear, mas sempre linda. E quando acordo teimas em lembrar comigo as ruas por onde caminhei contigo, aquilo que vimos, aquilo que deixamos pra lá. Teimas em sussurrar em mim seus gostos, palpites, impressões, sorrisos. Sorri tão alto e lindo que sempre sorrio com você. Com esse você garoto-moleque que resolveu morar em minha cabeça, com tantas olha, tan-tas outras cabeças pra morar dentro.

Mas te deixo aí. Tanto tempo que moras, deve ter casa enraizada e estar acostumado com a cama. Tanto tempo que moras em mim que não me lembro nem mais como era o antes de. Antes adormecias, hoje és acordado e vivo. Latente, dói nos ossos, na alma, na minha alma descolorida e desforme pincela. Um dia um azul, o outro um verde e tem dias que esqueces de pintar tudo e fico ali. Martirizo-me no cinza de tua ausência presente e é então aí quando me falas maior e mais alto, que foi na minha cabeça que resolveu fazer morada. E dali não sairás. E quer saber, nem deixo. Me acostumei com a sua voz, teu som, nossas lembranças juntos. Me acostumei com o jeito que me guia e gosto do teu sorriso que ecoa. Já sei viver com a sua presença, com a sua ausência e principalmente com a sua voz. Só não sei viver sem ti, assim, de memórias apagadas e escassas.

Então fica, mora, põe a cama. Se de tantas cabeças para escolher, resolveu escolher a minha pra morar e dizer, e ecoar e sorrir e lembrar e viver, aceito. E além de aceitar, sorrio. E mais ainda que sorrir, amo. Em sonho, realidade, lembrança e ausência, meu. Indivizivelmente meu.