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11.5.10

A insustentável leveza do ser. (sendo tereza)

"Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, porque não tem senão a vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer um sentimento..."

De tudo que me lembro, lembro da minha vocação para tereza. Lembro dessa absurda vontade de sair do meu espaço medíocre para viver um grande amor. Grande. Imenso. Enorme. De tudo que eu lembro, lembro de querer coencidências. Me encontrastes de novo as seis da tarde e foi as seis da tarde que nos encontramos pela primeira vez. Espero alguém que me ame como se ama uma mulher, e me puxe pelo braço dizendo: "a minha mulher". Mulher no sentido de ter alguma coisa de virtude e ao mesmo tempo alguma coisa de subimissa. Penso em noites atrás de noites em que nada se diz, ou se faz, mas se dorme e acorda de mãos dadas e se sabe o tamanho amor que cabe naquele momento. Quanto amor cabe num entrelassar de mãos? Só que nesse ser tereza, não cabem sabinas. Por mais que todas as sabinas de todas as terezas só terem consigo aquele encamento que existe em todo ser humano que escolhe ser livre - e carnal - nunca me couberam sabinas. Existe em mim esse ar interiorano cheio de fotografias que só espera amar, amar e depois amar mais um pouco. E um amor que perdoa as sabinas todas, embora eu saiba que tudo que eu sempre quis é ser única.

Tenho amado demais. rápido e ligeiro e tenho pensado em cada possibilidade como um novo ( e grande!) possível amor. Espero quem sabe ir embora para depois encontrar de novo as seis da tarde e achar possível somente porque assim queria o destino. Eu tenho esperado demais do destino, dos encontros fortuitos em busca de amores conturbados e grandes, com piqueniques no parque ou não, aqui ou em qualquer cidade desse planeta. Eu tenho esperado me agarrar a qualquer coisa, meu deus, eu ando tão presa em tudo isso que eu não quero que eu só espero que alguem me liberte e me redima. Me redima assim, por amor. E que eu diga que foi por amor que eu me redimi, que foi pelo destino que aconteceu e que foi no entrelaçar das mãos ao dormir que se concebeu. E tudo isso sendo tão tereza. E tantas sabinas aí rodando e me roubando meus grandes amores, porque os homens, ah, os homens se encantam muito facilmente com essa liberdade que possuem as sabinas e ficam as terezas, as mulheres dignas, esperando o entrelaçar de mãos.

Foi exatamente nesse oco que ficou enquanto ele foi querer sabinas e eu fiquei esperando o entrelaçar de mãos que você me apareceu. Exatamente assim como se faz nos tais encontros fortuitos, destinos, sabe-se-lá-que-nome-se-dá a esses encontros sem nome que se fazem na vida da gente. E sem nem querer eu enxerguei tão-tão rápido em você a possibilidade de me tirar desse meu mundo tão pequeno, não sem perspectivas novas. Eu me apeguei tanto a imprevisibilidade dos fatos, daquele dizer que as coisas acontecem quando a gente menos espera e são essas coisas assim, as que você não procura que te tiram desse pequeno mundo de desamores tão conhecidos e te fazem tereza. É isso que eu sem querer enxerguei em você, rápido. A possibilidade do entrelaçar as mãos e dormir. A possibilidade de sentir a insustentável leveza de ser.

Mas hoje não sei, tudo tão cheio de dúvidas, de incertezas, tão um querer-ser-sem-saber. Deus me livre, eu te disse, deus me livre de outra decepção dessas. Eu queria tão pouco, eu só queria ser a sua tereza, a sua mulher, mas sem sobra de nenhuma sabina. tão única, importante, perfeita. tão amada e sublime que eu esqueceria todas essas minhas pequenezas, todos esses meus desamores, toda essa bagagem de amar demais e além da conta e depois me perder no meio de tudo isso. Eu tenho todo um medo, um medo de ter inventado tudo isso e não existir na verdade amor nenhum. E na verdade nem existe, eu estou me agarrando na possibilidade. Eu estou me agarrando tanto em você com os meus braços, com as minhas pernas e principalmente com as minhas palavras que eu nem sei se ainda tem jeito. De um jeito tão rápido e cru que é quase um nó desses, que parecem não desatar. Não sei explicar. Não sei como deve ser.

É que eu queria ser a sua tereza, eu queria ser a sua única tereza, aquilo que você chama de amor. Mas hoje eu acordei me sentindo tão a sua sabina. E tenho certeza que quando eu olhar pro lado, você já vei ter me deixado. E vai estar dançando com a sua tereza escolhida, num quarto de hotel que eu nunca conheci.

"Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se juntem desde o primeiro instante, como passarinhos sobre os ombros de são francisco de assis"

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