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18.5.10

todos os caminhos tendem a zero.

(carta para o intelecutor nome de ninguém específico).

Eu queria te contar sobre tantas tantas coisas enormes que eu nem sei por onde começar, mas quando eu falo de te contar eu quero dizer: te contar sobre a minha vida, porque não existe outra coisa que eu queira mais falar e mais esquecer que isso. Hoje não faz sentido a conversa fiada no portão sobre o sol, ou a chuva, ou esse frio que tem assolado a cidade impedindo a gente de sair sem blusa. Se for pra falar de frio, só vou saber falar sobre o frio que faz aqui dentro.

Não assim, exatamente um frio e nem é uma coisa assim como se congelasse, tavez fosse mais pra falar de vazio mesmo. O frio também atrapalha, tudo que eu sinto vontade é deitar debaixo de uma coberta enorme e quente e comer pipoca enquanto assisto filme, ou só ficar ali, sonhando acordada ou dormir pra sempre. Talvez fosse isso: dormir pra sempre, ou pelo menos acordar somente quando estivesse no seu devido lugar. Sabe, existe uma falta enorme de perespectiva que sei lá quando acontece, deve acontecer na vida de todo mundo, que é um acordar e não saber o que vai ser do resto do dia, quanto mais do resto dos dias.

Eu sei de obrigações, claro, tenho um monte delas e costumo falhar em mais da metade. Acordar mais ou menos as sete da manhã e pegar aquele ônibus cheio de gente por todos os lados ouvindo quase sempre as mesmas músicas para encontrar com as mesmas pessoas, inclusive aquelas que me fazem doer. Nesses quase quatro anos eu fui fazendo toda uma coleção de gente que me faz doer, dava até pra nomear por cores. As de rosa me fazem doer por causa de um ex-amor, as de verde me fazem doer porque me fizeram perder a esperança e as de vermelho me fazem doer porque eu amo demais.

Esses dias me disseram que se existe uma pessoa que se apega aos outros esse alguém sou eu. Nem faz tanto tempo assim, a gente estava falando sobre essa coisa de todo mundo me ver e enxergar essa pessoa descolada e desapegada com tudo. Eu pareço realmente muito desapegada, principalmente quanto eu me sinto amada. Quando eu vejo uma certeza de amor eu costumo me desapegar, ou fingir um desapego, quase uma indiferença mórbida, mas pelo contrário, eu amo demais. Devem existir uma três ou quatro pessoas vestidas de vermelho, elas me fizeram doer por amar demais. E se foram junto com meu desapego.

Hoje passei o dia inteiro pensando em coisas atrás de coisas, eu tenho querido tanto me apegar a alguma coisa, qualquer coisa que pareça a perespectiva de um futuro mais ou menos certo, ou um futuro todo incerto, mas planos pelo menos. Essa minha vida toda feita assim as pressas, sair do colégio cair na faculdade, grudar um relacionamento no outro, as coisas foram tanto acontecendo e eu nem sei como ou quando foi. mas foi.

hoje eu queria dizer, que enquanto olho pra essa cidade cinza e vinícius canta no meu ouvido sobre a rua-nascimento-silva-cento-e-sete eu só consigo pensar em um monte de coisas que não existem. Sabe, esse monte de coisas que não existem? o meu futuro que não existe, o amor que doesse em paz que não existe. Eu estou esperando tantas coisas enormes que encham tanto a minha alma que eu me sinta completamente incapaz de escolher uma cor pra minha alma sem dizer que eu só acho que ela é assim, colorida, de tão imensa.

Não é muito, assim, é quase nada quando você coloca em palavras: eu quero viver do que eu gosto e quero ter um amor que me leve pra fazer piquenique aos domingos. Quer dizer, o que é pedir viver do que se ama e um grande amor? As palavras diminuem tanto o sentido das coisas as vezes, e parece até pouco querer isso, mas na verdade é imenso. E difícil. E desde que parece ter se tornado tão dificil encarar essa falta de nos meus dias cinzas que eu só sinto uma melancolia enorme, uma melancolia maior do que os ônibus que eu tenho que pegar todo dia.

Tudo tem parecido de um esforço imenso, quase sobre humano, tudo tem parecido demais. E de parecer demais parece impossível. E parecendo impossível dá vontade de largar. É isso, eu quero largar todo esse vazio essa incerteza, essa enorme ausência de. Quero largar os ônibus, as pessoas com caras iguais. Quero largar também as pessoas que eu colori, as que me fazem doer. Quero largar tudo aquilo que eu um dia amei demais pra poder amar outra coisa, sabe? E mais que amar outra coisa eu quero amar qualquer coisa que pareça certa, e não ficar me dando assim, me entregando seca do jeito que tem sido, sabendo que não se pode esperar nada em troca e mesmo assim esperando o mundo.

Você sabe, qualquer pessoa sem perspectivas costuma esperar o mundo de qualquer coisa e costuma amar demais qualquer coisa. Qualquer coisa que seja, só pela perspectiva de quem sabe ser feliz. Eu quero a impossibilidade. Eu quero ser imensa. Eu quero andar na rua, trombar com um total desconhecido e ouvir ele me dizer que ele é meu estranho e que eu posso pular.

Eu quero pular na vida, meu deus. Eu quero ver as coisas fazendo algum sentido, qualquer sentido que seja. Eu quero amar, eu quero ser amada, eu quero os frios na barriga, eu quero aquela felicidade que de tão grande dá medo de quebrar. Eu quero sair desse vazio, desse ser sem sal, desses ônibus, desse frio, desse acordar as sete da manhã e principalmente dessa ausência que me invade, que é maior que a minha alma.

Eu quero um caminho, tom estava me cantando hoje, sabe? "é preciso acabar com essa tristeza, é preciso inventar de novo o amor". Eu quero tanto. Mas todos os caminhos que eu encontro, tendem a zero.

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