Visto daqui um terremoto pareceria uma simples movimentação de terra. A terra dançando. A dança da destruição. Visto daqui talvez nem existissem terremotos. A terra parece um prédio de apartamentos com a janela fechada. Visto de longe. Não se sabe se as pessoas lá dentro sorriem ou brigam. Ou se simplesmente assistem televisão. A cada momento o astronauta se sente mais um pedaço de gente jogado no meio do espaço. Dentro de uma cápsula, indo pra sabe-se lá onde. A sensação não incomoda porque é familiar. Não é tão diferente de estar vivo, no fim das contas.
Estar longe de tudo é o mais perto da felicidade que conseguiu encontrar. Enxergar a si mesmo é como ter um planeta inteiro dentro de si. Visto de perto. Com guerras e terremotos. Se sente mais vivo fora da terra do que dentro dela. Fora do mundo e dentro de si mesmo. Faz sentido já que não sabe a quanto tempo está voando. Não tem certeza se vai voltar. Não se incomoda.
Não há nenhum humano capaz de entender o que se passa com ele num raio de milhares de quilômetros. Não é muito diferente da vida real. Está flutuando. Se sente livre. Nenhum contato com as pessoas reais, nenhum medo. Apenas uma cápsula jogada no espaço. Que respira um ar rarefeito e flutua. O sentimento é familiar. Não sabe a quantos dias está longe. O tempo é um conceito relativo. O tempo não existe no espaço. O tempo não existe. Estar vivo é só uma questão de referencial.
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