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28.3.11

O astronauta.

O astronauta sai da terra. O ar rarefeito, as roupas pesadas, o medo do desconhecido. Uma pequena cápsula perdida no ar. A terra, vista de longe parece simples. Estar flutuando em meio ao espaço é uma sensação única. Ilógica. Reconfortante. Você só pode voar se estiver fora de órbita. O último conceito parece se aplicar à tudo. "Você só pode voar se estiver fora de órbita". Faz sentido. A pequena nave se distancia cada vez mais daquilo que conhecia como casa. "Planeta terra". Não parece tão assustador visto de longe.

Visto daqui um terremoto pareceria uma simples movimentação de terra. A terra dançando. A dança da destruição. Visto daqui talvez nem existissem terremotos. A terra parece um prédio de apartamentos com a janela fechada. Visto de longe. Não se sabe se as pessoas lá dentro sorriem ou brigam. Ou se simplesmente assistem televisão. A cada momento o astronauta se sente mais um pedaço de gente jogado no meio do espaço. Dentro de uma cápsula, indo pra sabe-se lá onde. A sensação não incomoda porque é familiar. Não é tão diferente de estar vivo, no fim das contas.

Estar longe de tudo é o mais perto da felicidade que conseguiu encontrar. Enxergar a si mesmo é como ter um planeta inteiro dentro de si. Visto de perto. Com guerras e terremotos. Se sente mais vivo fora da terra do que dentro dela. Fora do mundo e dentro de si mesmo. Faz sentido já que não sabe a quanto tempo está voando. Não tem certeza se vai voltar. Não se incomoda.

Não há nenhum humano capaz de entender o que se passa com ele num raio de milhares de quilômetros. Não é muito diferente da vida real. Está flutuando. Se sente livre. Nenhum contato com as pessoas reais, nenhum medo. Apenas uma cápsula jogada no espaço. Que respira um ar rarefeito e flutua. O sentimento é familiar. Não sabe a quantos dias está longe. O tempo é um conceito relativo. O tempo não existe no espaço. O tempo não existe. Estar vivo é só uma questão de referencial.

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