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31.3.11

31/03/2011

Achei um bom dia pra desapegar-me. De você. Das lembranças. De nós dois. Achei que por bem devia te deixar junto com os livros que empoeiram na estante. É dificil dizer que de repente eu quero que você não mais volte. Mas prefiro assim. Fica. Você parece ter toda uma vida que já não depende de mim. E eu construindo castelos que dependem das pedras que você ficou de trazer. Não adianta. Não adiantam mais os livros na estante e as memórias que já tem cara e gosto de velhas. Não me lembro nem mais direito como você é. Eu tenho as fotos que você me deixou, um porta-retrato ou outro na estante, um momento ou outro dentro do coração, mas não vai adiantar. Não é como se juntando tudo que eu tenho de você eu fosse te trazer de volta. Eu sei, eu sei. Você foi minha esperança e por muito tempo eu esperei que você fosse minha salvação. Esperei mesmo, sentada, resignada como uma princesa que espera que seu principe venha em um cavalo branco e traga consigo todo o amor que o mundo não permitiu lhe dar. Justo eu, que nunca tive vocação pra contos de fada, cuspia na cara das princesas e queria ser a madrasta da branca de neve, com maçã e tudo. Eu, esperando que o amor de alguém me desse a redenção. Foi bonito, eu sei. Eu choro lembrando de você, vez ou outra. Bob Dylan ainda sente saudades suas quando sussurra que os tempos estão mudando e o meu sofá é grande demais pra mim. Minha casa cheia de ausências, água demais na geladeira. Tudo isso são coisas que você deixou, o tempo coloca poeira em cima, mas às vezes eu limpo e relembro. Eu sinto a sua falta nos dias de chuva, nos dias de sol quando eu tenho preguiça de ir caminhar sozinha. Eu lembro de você no meio de lembranças que eu nem sabia que tinha mais. Mas tudo isso é lindo aqui, na literatura. A vida real é doída. Na vida real eu lacrimejo no meio dessas lembranças todas e não existe beleza nenhuma em deixar um amor encroado. A verdade é uma só: você não vai vir me buscar. Eu posso sapatear, posso colocar uma faixa enorme na frente da sua casa dizendo o quanto eu te amo (eu te amo?) que não vai te trazer de volta. Posso fazer mandinga, oração, simpatia ou te entregar um livro inteirinho cheio de histórias como essa que tudo vai ser igualzinho está. Pode ser que alguma coisa em você ainda balance quando você pensa em mim. Pode até ser que um dia você acorde arrependido e pense que a gente podia ter dado certo no meio daqueles setembros e abris conturbados e quase bonitos. Mas a verdade é que você ama outra. E eu não nasci pra ficar me flagelando. Eu estourei minha cota, meu poder, tudo eu perdi e foi por sua causa. Eu te amo muito, mas agora eu quero amar outra coisa. Eu sei, eu já te disse isso tantas vezes, quantas vezes eu disse? Mas hoje eu quero me desapegar de você de vez. Vai embora. Pode ir. De vez. Da minha casa, do meu coração, da minha vida. Vai amar, vai te descobrir, vai viajar, vai te enxergar nos olhos de outra, de outras, de mil que sejam as suas próximas. Que eu quero mil próximos, quero amar outras criaturas, quero chorar no banheiro, quero sorrir na sacada, quero rolar na cama nas quartas feiras depois da novela. Quero descobrir outros olhos, quero sofrer de doer na carne de novo por qualquer pessoa, qualquer errante, qualquer maltrapilho que esteja disposto a roubar meu coração e depois atirar longe. Porque eu, que nunca pude ser só sua, cansei de sofrer só por você. E eu, que aprendi a sofrer pelos outros com você, quero voltar a sofrer só por mim. Que na verdade, amor, é o que eu sei fazer. É só o que eu aprendi a fazer.

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