Uma tigresa de unhas
Negras e íris cor de mel.
Uma mulher, uma beleza
Que me aconteceu.
Esfregando a pele de ouro marrom
Do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom e o bem cruel.
Enquanto os pelos dessa
Deusa tremem ao vento ateu,
Ela me conta, sem certeza,
Tudo o que viveu:
Que gostava de política em mil
Novecentos e sessenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancin? Days.
Ela me conta que era atriz
E trabalhou no Hair.
Com alguns homens foi feliz,
Com outros foi mulher.
Que tem muito ódio no coração,
Que tem dado muito amor,
Espalhado muito prazer e muita dor.
Mas ela ao mesmo tempo diz
Que tudo vai mudar,
Porque ela vai ser o que quis
Inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz,
Vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que o leão.
As garras da felina
Me marcaram o coração,
Mas as besteiras de menina
Que ela disse, não.
E eu corri pra o violão num lamento
E a manhã nasceu azul.
Como é bom poder tocar um instrumento.
Difícil é ter 23 anos e se identificar com cada vírgula dessa música há pelo menos três. Não queria me sentir essa "mulher fatal" no fundo cansada e amarga, que tem esperanças em vão. Triste. Porra, Caetano.
(Isso não é uma indireta em hipótese alguma. É só uma constatação pessoal da madrugada. Catárse musical. Identificação anterior.).