Páginas

30.8.12

mentiras sinceras me interessam


era sempre assim. meses de afastamento seguidos por aproximações rápidas. perguntar como vai a vida "a vida vai bem". às vezes nem tão bem assim, mas a gente nunca teve (ou não queria ter) tempo pra grandes conversas sobre a existência. já tivemos dessas lá no começo, quando alguma coisa podia ser, mas agora nada disso faz sentido. nada faz sentido porque nos afastamos quando tínhamos que nos afastar. a vida vai assim, de viés, de vai-e-vem. naquele dia em que ele me chamou pra um café eu não sabia muito bem o que esperar além de um encontro casual, falar de trabalho, planos, vida, a namorada dele, os meus casos que nunca vão pra frente. nada muda tanto assim. a verdade é que nesses dois anos eu me formei, ele continua trabalhando no mesmo lugar, namorando a mesma pessoa e eu evoluí um tanto pra no fim continuar do mesmo jeito. perdida. quando ele me conheceu ele também era um tanto perdido (ou me fez acreditar nisso). agora eu não sei. a vida dele tem mais trilhas que a minha, que se despedaçou em uma dessas curvas esquisitas, com um carro que eu mesma fiz questão de bater de cara na árvore. 

ele chegou. a mesma camisa xadrez. os cabelos cresceram um pouco. coisa da falta de tempo, ele diz. ele me disse que eu tenho me vestido um pouco melhor, e que a minha cintura está fina demais. "é a dieta, eu digo". e disfarço que tenho sofrido. não nos olhamos fixamente nos olhos, não nos amamos porque nunca nos amamos de fato. pedimos cafés fortes em xícaras pequenas e grandes fatias de bolo de chocolate. ele me ouve dizer que a vida já teve mais perspectivas. me dá conselhos. fantasia uma nova vida. fico pensando em quando nos conhecemos e fizemos roteiros pra explorar paris, londres talvez. tudo na nossa vida sempre pareceu um filme do woody allen, mas com aquela cafonice de brilho-eterno-de-uma-mente-sem-lembranças. acho que fazemos planos demais porque vimos filmes demais, a vida toda. os coloridos e os preto-e-branco. nos imaginamos em paisagens cheias de árvores, piqueniques com toalhas xadrez, toda uma vida que é e não é possível. talvez seria mesmo possível que existíssemos com nossas camisas xadrez ouvindo os shows das bandas boas nos botecos sujos e depois voltar pra casa e comer cookies feitos por mim. talvez exista, em algum universo paralelo, tempo para as tardes cheias de comida e cheias de filmes que ainda não vimos, mas descobriremos geniais. toda vez que eu penso nele, eu penso na vida com esses filtros vintage que emulam felicidade. tudo clichê. nossas camisetas dos strokes, e a gente gritando com uma legião de pessoas que "last nite" é nossa música. nós, os amantes das coisas que todos amam. os óculos escuros do bob dylan, e ele acendendo meus cigarros enquanto eu filosofo de bêbada. correríamos pelos campos floridos da cidade que nunca fomos, e perderíamos o fôlego, de mãos dadas. ele me diria tudo sobre o que ainda não conhece, e me conheceria em partes que eu ainda não mostrei. os personagens do filme clichê que todo mundo ama. nossa vida, esse tumblr de bom gosto reblogado a cada dia.

na verdade, somos eu e ele dois frustrados. depositamos nossas esperanças nos sonhos que sabemos que não construiremos. ele me diz hiperbólico que morre de saudades, e eu correspondo. não morremos. vivemos bem um sem o outro. nas desesperanças da vida tomamos um café. prometemos morar em londres e sermos as pessoas mais felizes do mundo. somos um emaranhado de clichês que ama fotografia, bandas indies e quem sabe até cupcakes. a gente sabe que comeria cupcakes. que tomaríamos vinho. que nos refastelaríamos com nossa toalha xadrez no meio de um festival com as novas bandas. nós e nossas camisetas dos beatles. gritando que "money can't buy me love". e não compra. não compra também felicidade com a namorada que ele não ama, mas com a qual vive bem. não compra o meu equilíbrio que tem destruído como um dominó toda e qualquer chance de ser feliz. destruiu a nossa chance também (se é que um dia tivemos uma), logo no começo. não era possível sobreviver no meio de tanta insegurança. não era possível que nos amássemos porque éramos iguais. precisamos do mundo inteiro. precisamos desses sonhos incompletos, embora saibamos os dois enquanto tomamos nossos cafés que não podemos muito mais que nossas próprias cidades, que nossas inseguranças, que nossas vidas das oito as seis, com intervalos. acho que por um momento, mesmo que pequeno quis dizer tudo isso à ele. dizer que não somos, não seremos, não nos sentimos falta, não nos encontraremos nunca mais depois desse encontro. 

mas ele me olha e me fala das saídas, das nossas bandas preferidas, elogia meus textos, me chama de escritora. planejamos morar juntos daqui dois anos, comendo brownie no chão da sala. ouvindo bob dylan na vitrola. é tudo mentira. mas eu prefiro acreditar porque ando muito vazia de sonho desde. 

Nenhum comentário: