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2.8.12

emotional version

Tento escrever a monografia que me prometi desde antes de te conhecer e que nunca foi porque minha vida se tornou um eterno focar em você. Depois de tudo desfeito se fez o efeito colateral de toda a minha entrega sem retorno: me tornei ainda mais apática. Bem mais do que aquele tanto que você me acusava pelo telefone enquanto eu tentava dizer coisas que não conseguia. Imensamente mais do que aquilo. Os meses foram de ânsias de vômito (saiba, eu também sujei meu próprio quarto e manchei a parede do meu próprio banheiro) e irritação com a luz do sol. Minha roupa fashionista toda cheirando a mofo, e até eu mesma cheirando a mofo. As ideias embaralhadas, as mensagens e e-mails que chegavam sem resposta. Vez em quando um almoço, uma saída com alguém que entendesse eu estar repetindo pela décima quinta vez a mesma história; vezes com sorriso, vezes com muito pesar e segurando forte pra não chorar no meio da padaria tomando um café sem açucar. Eu nunca chorei na frente de ninguém. Choro é coisa pra dentro de quarto, ou atrás dos óculos escuros no meio de uma caminhada. Eu já quis até morrer. Não por sua causa, mas pela vida, que tem me maltratado sem nenhum tempo pra respirar desde esse tempo indeterminado no passado onde fui feliz. Felicidade também, grande coisa, não é essa coisa perene. A gente vive de momentos. Uma pena que os momentos ruins nos traumatizem de tal forma que depois fica difícil encontrar a felicidade. Eu tive medo de morrer. Minhas terríveis crises de pânico que me deixam com medo de ficar sozinha. Esses dias no meio dos meus sonos de calmante sonhei com você. Você dizia que ia ficar tudo bem e eu acordava assustada. Não gosto da falsa segurança dos sonhos, não gosto do meu inconsciente que diz que tem sim coisas mal resolvidas nessa história toda, porque eu sei que tem, mas também sei que não tem mais jeito. O que eu faria? Pediria desculpas pela décima quinta vez, te dizendo também que além de mea culpa foi também culpa do tempo, do meu descontrole, da vida? E se você me desculpasse, o estrago estaria desfeito? Não creio que. Por vício vasculho de novo uma parte da sua vida. Vejo uma outra menina, que pode ser ou pode não ser, menos bonita do que eu, fumando na sacada onde eu já chorei. Deixo a tela do computador pra lá, me olho no espelho; os shorts largos me mostram os cinco quilos que perdi desde então. Você continua vivendo e eu estou aqui, mutilada depois de sucessivas doenças, depressões e crises de stress. Vejo meu rosto magro no espelho, me pergunto assim como o alfie no final do filme: "what's that all about?" - e não obtenho resposta.

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