Tem um tempo que eu não dedico cartas para você. Você tinha razão quando disse que eu dedicava textos pra outras pessoas. Fatalmente você acertava. Ás vezes era literatura pura, não menos necessária. Em toda ausência sua se faz presente a necessidade de te dizer qualquer coisa que seja. Eu pensei, nesses poucos meses que vieram saber muito sobre amor. Eu sempre imaginei saber tudo, embora soubesse também ser um belo desastre na prática. Sentimento pra mim é como malabares. Eu sempre tentei fazer, mas era só eu ter que tentar com alguma coisa que tivesse o tamanho maior que limões que eu me enrolava toda. Era só o sentimento aumentar um pouco pra eu não saber o que fazer. Com você foi assim desde o começo. O começo meio errado, meio certo, mas que me ensinou a te amar.
Eu te amei depois de algum tempo, depois de te conhecer de fato. E eu fui te amando, até achar que o amor tinha acabado. Até as vezes achar que o amor nunca tinha existido. O que me disseram sobre o amor era alguma coisa bastante arrebatadora, e que doía. Grandes amores daqueles que duram pra sempre e que existem por causa de uma certa leveza sempre pareciam o certo pra mim. Parecia o certo também grandes identificações, imensas, daquela em que a pessoa te completa frases. Alguma coisa bem perto daquilo que eu sempre tive com você, mas que enxergava mesmo ali do lado.
Eu dediquei metade da minha literatura a uma história que não tinha você. Eu dediquei vários e vários meses pensando em uma história que não era a nossa. Eu passei dias e dias imaginando como seria o gosto, o cheiro e o sorriso do grande amor. Eu também achei ter visto o gosto, o cheiro, o sorriso e a camiseta do grande amor por aí. Com trilhas sonoras inclusas e dava pra formar um filme. Desses engraçadinhos não muito clichês que tem feito sucesso ultimamente. Eu hoje olho e não enxergo mais o que tinha de tão grande. E me disseram que um grande amor não some, ele fica escondido para o dia que o objeto do amor resolva voltar. Esse amor que eu te falei não parece estar escondido, pelo menos não hoje. Eu imaginei eu e o grande amor sentados na mesa do bar pra resolver as coisas ainda pendentes e tudo que eu pensei é que seria um enorme erro. Um erro tão grande e crasso que olharíamos os dois um para o outro e pensaríamos onde é que nós achávamos que aquilo ia dar certo. Assim, rindo. Como devem terminar os grandes amores que não chegaram a ser grandes.
Daí eu olho pra você. De tudo que foi desde o começo, errado, até o fim também errado. Eu fico pensando em tudo aquilo que eu mesma me disse sobre o amor. Dele ter as camisetas e os gostos certos, assim, exatamente. E aí eu me lembro das vinte e cinco vezes que você me irrita demais, e das vezes que você me irritava justamente porque eu tinha uma escala de comparação e pensava "meu grande amor não deve fazer assim". E saiba você que você sempre está fadado a perder quando comparado a uma pessoa que é por demais idealizada. Perde nas piadas, no humor e até no abraço inexistente. Perde no futebol, na altura e no beijo não dado. Perde pra tudo aquilo que na verdade não existe, e eu só tiro uma conclusão: esqueça tudo aquilo que eu te disse sobre o amor.
Se você fosse meu livro, ia ser bonito. Ia existir aquele dia em que você me rodou na rodoviária enquanto eu matava grandes e enormes saudades na pracinha. Ia ter o mesmo dia em que você pegou o pingüim na máquina de bichinhos e me deu. Ia ter um outro em que nós dois deitados na cama depois de eu ter te dado uma bronca por não imaginar que assim seria o aniversário de namoro de um grande amor, te olhar boamente e ficar repetindo algumas vezes o quanto eu te amava. E ver suas sardas, todas, junto com a sua bochecha que fica vermelhazinha com o frio do ar condicionado e seu cabelo caindo na testa e te achar mais uma vez, lindo. Posso me lembrar também de intermináveis conversas no telefone, e um dia em que eu briguei com meus pais e você me acalmou me fazendo contar como seria o dia em que eu tivesse meu próprio restaurante ele ia se chamar Sgt. Peppers e ia ter um dia para as pessoas irem ver filme, em dois ambientes separados. Iam existir dias simples por natureza em que você passava a tarde comigo vendo tv. Os meus programas, a minha novela e tudo isso. E também o dia em que você chegou de viagem pra ficar comigo enquanto eu fazia trabalho, e me deu um ovo de páscoa enorme de um chocolate que eu te disse que eu gostava. E posso me lembrar também de estar no seu colo te olhando cheia de sorrisos e saudades. Eu podia escrever um livro bem bonito sobre tudo que você também fez nascer em mim. E aí posso falar também de flores e de um jardim enorme. E posso te dizer que também faria pra você festas lindas e te daria milhares de tardes no parque se isso te fizesse sorrir.
Eu te acho capaz de começar a comer pavês e macarrões e strogonoffs e gostar, por minha causa. E eu me vejo capaz de comer macarrões sem molho vermelho e não me opor. Eu te vejo capaz de ficar do meu lado não entendendo muito bem o porquê, mas me vendo assistir o jogo do são paulo e hoje, sabe-se lá porque, mas porque talvez eu imaginei que assim são os grandes amores, eu até te imaginei indo comigo só pra fazer companhia no estádio do meu lado. Eu imaginei milhares de coisas e queria te dizer que você já foi capaz de me fazer sorrir e me fazer sentir aquela coisa grande e enorme que se é capaz de sentir por alguém. Eu olho e vejo. Eu imagino um ano inteirinho nosso todo feliz. E eu vejo também o quanto eu deixei o grande amor de lado pra viver um outro em potencial. E como não existem grandes amores unilaterais eu acho que a gente se perdeu um pouco. E eu desenxerguei um pouco a beleza de chocolates e rosas vermelhas que sempre existiu em mim, e em você. Eu só enxerguei hoje, depois de uma conversa enorme e de esquecer tudo o que me disseram sobre o amor.
Tudo isso, entretanto, não quer dizer que com tudo isso eu brade aos quatro cantos: "esse aqui é o meu grande amor". Nem que decida hoje, assim, agora pra te dizer e te abraçar. Eu sei que eu já te disse chorando que você era o amor da minha vida. Eu sei também, que era verdade. Eu enxergo tudo. Hoje eu te vejo. Eu sei a parte enorme que você guarda dentro de mim. Eu sei do tamanho da sua ausência. Eu sei que eu estou meio assim, meio sem braço direito sem você. Mas preciso. Esse confuso eu precisa estar em contato com o nada, com a solidão que as vezes perde pra vontade e que se desmazela ali, em telefonema. Eu posso não te responder, mas eu também te amo. Não é um te amo que diz que eu vou ficar com você agora. Ou daqui há uma semana, um mês, um ano, cinco anos ou nunca mais. É um te amo daqueles grandes, daqueles do chico, daqueles que futuros amantes se amarão sem saber com amor que eu um dia deixei pra você. Mesmo que ele não seja mais assim, personificado. Eu te amo mais sublime e profundamente que isso. Que esse estar. Eu sei de você, de você em mim e de mim em você. E de mais nada. Sei de te ligar quando sinto saudades, sei de te lembrar aqui e ali. Sei disso. Gosto disso. Gosto de te amar com nomenclaturas, datas ou não. Gosto de você, gosto de amar você.
E se um dia eu souber que é você, assim, isso que eles chamam de grande amor, eu te ligo e te falo "eu te amo, eu senti sua falta e quero ficar com você pra sempre". É o que você merece, é o que eu mereço é o que devem ter os grandes amores: entrega total de ambas as partes. Eu faria isso por você. Por você eu sou capaz de aprender a amar. Por enquanto, só continua me fazendo bem que nosso amor tem gosto de chocolate com mate. E ecoa.
"Não se afobe não que nada é pra já, o amor não tem pressa ele pode esperar em silêncio. No fundo de armário, na posta restante, milênios, milênios no ar…"
O nosso pode. O nosso amor é bem bonito. Quase uma montanha. Quase um por do sol depois de um piquenique no parque, de tão bonito.
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