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23.4.10

Olhar pro sol só ver janela e cortina?

p/ A: e quando eu penso em nós dois juntos e naquela certeza imensa de que seria pra sempre eu fico pensando nos seus olhos verdes nos meus olhos castanhos e em todas as basteiras que eu comecei a gostar por sua causa, e as não besteiras também. eu fico pensando na estranha divisão de dias de aniversário que durariam pra sempre e sempre e aí viriam os filhos e as comemorações conjuntas. a gente parecia tão bonito junto, tão certo. tudo isso e eu tinha treze anos e você também e a gente não sabe nada quando tem treze anos. eu sabia de você, você sentado na minha frente rindo e contando besteiras e você tendo dores de cabeça todos os dias, e os não dias também. e eu lembro de me preocupar tanto tanto, sem saber que se podia um dia se preocupar tanto tanto com alguém. mas me preocupei, e tem tanto de você em mim, mais do que você possa um dia imaginar. e vai ter, vai ter pra sempre que eu sei. mesmo que seja de dia dez em dia dez " ah, você mudou tanto e eu sentia tantas saudades suas". agora não sinto mais, ou até sinto, mas não daquelejeitoqueeraantes. eu não acho que a gente vai se encontrar na rua depois de dez anos, os meus olhos castanhos nos seus olhos verdes, porque nosso amor se perdeu há anos junto com aquele desenho que eu copiei pra você daqueles personagens que as crianças de hoje nem sabem que existem. (foi quando amei na sexta série, aos treze)

p/E: eu fico pensando que já fazem cinco anos, quase. e isso é toda a sua faculdade e isso é tantotanto tempo, mas eu olho nos seus olhos de jaboticaba e acho que foi ontem que eu me encantei pelos seus cachos caídos no seu rosto, sem saber porque. e é assim porque a gente não muda, a gente vive se encontrando de olhos no chão e sua bolsa nem mudou, nem meu all-star. eu nunca soube o que era nós dois, nós dois existimos sem existir se é que isso é possível. eu e você é uma coisa tão maior que eu acho que se um dia eu encostar eu quebro, e eu prefiro deixar assim, imaginado. nossos olhos e cabelos castanhos e as mesmas roupas e alguma coisa sobre baleias e baleiros que você nem sabia que eu sabia de você, mas eu sei. assim como eu acho que você sabe tanto sobre mim que eu não posso nem pensar, mas fica ali, escrito, naqueles olhos que me voltam cinco anos atrás, e temos catorze-dezesseis e eu sou de novo, inexperiente, sem saber lidar com tudo aquilo que podia ter sido e não foi. mas de você eu tenho tudo e tanto. eu tenho a saudade mais bonita de todas as saudades bonitas que podem existir ainda que se passem mais cinco vezes dez anos e eu nem consiga lembrar que laranja e azul não combina nada, mas em você fica sempre bem.( Foi quando amei na o cara do segundo colegial, na oitava série, aos catorze)

p/R: de você eu nem lembro nada, amor nem era. o que eu sentia por você era só a beleza do contraste dos olhos azuis tão lindos com meus olhos castanhos estranhos e sem jeito. eu nunca pensei, você já pensou a gente junto? eu pensava e despensava logo em seguida, porque eu queria era ter você aqui pra mim mais que como um troféu, umas águas-marinhas bonitas do meu lado, porque eu sempre fui uma pedra sem nome. o que eu lembro de você são 6.58, as coisas que eu estraguei sem querer e mais uns vários copos de coca na escada, enquanto você aparecia sem eu perceber, assim com a gente acabou: despercebido. (Foi quando amei o menino de olhos azuis da sala do lado, aos quinze).

p/S quando eu era tudo pra você eu fazia questão de fingir que você não era nada pra mim, porque uma menina-como-eu nunca ficaria com um-cara-como-você, o que era a mais tremenda mentira do universo. um cara-como-você era tudo o que uma menina-como-eu queria, mas eu nunca admitiria isso. seu amor por mim era bonito, mas era quieto. era eu aqui e você ali e aqueles seus cabelos compridos com sotaque engraçado. eu já gostei muito muito de você, amor eu não sei. o que eu gostava mesmo era o contraste dos meus cabelos pretos com os seus cabelos loiros, enquanto as nossas jaquetas e tênis faziam par completo. mas quando você era tudo pra mim, eu já não era mais nada pra você e a gente acabou, assim, perdido. a gente tinha tantotanto pra dar certo e a gente deu errado por causa do nosso orgulho bobo, a gente era igual demais pra dar as mãos e sair correndo por aí, bilinguemente com capuzes na cabeça. e eu que ficava gritando yo tengo tanto miedo de perderte, perdi, e aún que te llames, no volverás. assim como yo tambíen no volverei e ficamos suspensos, perdidos no espaço enquanto você fica comigo no escuro me cuidando só pra esperar eu ir embora pra não voltar mais, ( acho que) nunca mais. (Foi quando amei o menino de sotaque engraçado, stalker, da sala da frente, aos dezesseis)

p/L: tem tanta coisa nossa jogada por aí, que vez ou outra eu esbarro com uma coisa que eu escrevi pra você ou uma foto que eu tirei pra você, ou uma noite que você me telefonou e foi aquela bagunça enorme. eu fico sempre pensando em você me desejando feliz ano novo, toda vez, toda vez mesmo, porque eu me lembro de você dizendo que aquele era o nosso ano e dois meses depois a gente acabou. mas tudo acaba, e lembra aquele poema do vinícius? o amor de tão forte tornou tudo tão frágil... mas as vezes eu me pego pensando nas suas pequenas delicadezas e seus sonhos infantis e em tantos planos e naquelas suas promessas tão bonitas de me deixar descançar no fim de semana. de cabelos brancos, de sermos lindos lindos ainda que se passasem trezentos anos e seus olhos verdes e meus cabelos castanhos fizesssem companhia pras nossas rugas. penso nos nossos futuros filhos e nas pequenas coisas que se perderam mas que foram tantotanto naquele tempo e até que acho que a gente foi feliz porque você me deu tanta força quando eu precisei. e se não fosse por você eu juro, eu não estaria aqui. e que loucura, porque foi justamente isso que nos fez perceber que a gente não tinha jeito. e você disse que um dia eu ia te entender, hoje eu te entendo e de coração eu espero que você seja feliz, sabe? acontece, e quem saberia? mas eu não te adorava só não, eu te amava sim, eu calei isso tantas vezes. e a gente foi tão bonito juntos, mas a gente se perdeu no meio dos planos meio que olhando pro céu, sem perceber. a nossa felicidade estava no chão. e a gente esqueceu boba e infantilmente de tentar pegá-la. ( Foi quando amei o irmão da minha melhor amiga, aos dezessete)

p/ T: eu nunca fui sua, mas você ainda é meu. Queria te guardar numa dessas caixinhas e abrir de vez em quando pra você me fazer rir com essa brincadeira de ser prepotente, pequeno gênio incompreendido. Nunca fomos. Não chegamos a. desisti, saí correndo, copos pelo chão e você nem precisou de explicações. Acordo mútuo entre bons amigos que sempre fomos, antes mesmo de querermos um dia, quem saber - ser. ser aquilo, bonito, duas pessoas solteiras, dois traumas passados, um novo-amor-quem-sabe-ele-é-tão-legal. um-novo-amor-quem-sabe-ela-é-tão-divertida. Te quero longe e muito perto. Minha dualidade necessária, garoto-problema predileto, aquele que eu adoro ignorar entre piadas em graça, coisas que são só suas e gostos que são só nossos. Criança grande, sonhador perdido, abraço alto, pra eu por um dia que seja me sentir quase pequenina. Adoro suas risadas altas, daquele jeito. adoro a sua total falta de jeito e a não cordialidade quase que ensaiada que vive flertando comigo. quase finjo ignorar sua mania de estar assim, como se sempre estivesse e tudo fosse seu. te gosto tanto tanto tanto e tantos tanto quiseres. te cuido. te guardo. me preocupo mais do que deveria e adoro. me fazes sorrir. tu talvez nunca mais seja meu. mas eu sempre serei sua. (foi quando amei o cara da faculdade, aos dezoito - quase dezenove e depois aos vinte, quase vinte um)


Foi só pra dizer que eu já fui tão tão cheia de amor e tão tão feliz. E ainda sou tão cheia de amor e tão tão feliz. E aos que não estão aqui, ainda estão vivos e não viraram parágrafos. São, existem e vivem. Dentro, para muitos e muitos textos. E pra muito mais vida que literatura - no meu coração fiz um lar, meu coração é o teu lar. E de que me adianta tanta mobilia se você não está comigo? (hoje) só é possível, te amar. Que a vida é feita de amores e a minha - sempre tão repleta deles - transbordou. E transborda.

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