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23.4.10

Tatuagem

(a mais bonita)

Existia o que existiu. A simplicidade de estar e a simplicidade que existe no silêncio. O silêncio de mil quilômetros de distância e de um amor abalado. O silêncio de não saber o que falar exatamente. Você me deu o silêncio mais bonito do mundo porque dentro do seu silêncio existia tudo. De olhos fechados eu tinha a sua voz no meu ouvido e minha voz no seu ouvido e era como se estivéssemos juntos com qualquer coisa assim como a minha boca na sua boca ou a minha perna entre as suas coxas ou a minha cabeça no seu peito ou o meu amor no seu amor, qualquer coisa assim e tão invasiva quanto. Mas não era nada disso e era como se fosse mais. Era como se você estivesse na minha cama e nós estívessemos tão grudados que não soubéssemos mais distinguir quem é quem. De quem são as pernas, os braços e o sorriso. Sua voz era minha, eu era na sua voz e eu existi por um momento tão plena e tudo parecia tão eterno que eu congelaria o momento, só pra ver mais uma vez. Pra ver mais uma vez a nossa metafísica, a nossa sinestesia. O escuro onde eu via a sua voz, onde eu ouvia o teu abraço. O silêncio onde seu braço estava me entrelaçando e sua boca dizia sem precisar se mover "eu te amo". Eu te amava sem me mover e sem palavras. O amor existia como coisa palpável, eu pegaria o seu amor ali como pegaria no seu pescoço se você estivesse perto. Exatamente assim. Eu te senti tão dentro e tão enorme que era como se fosse físico. Você estava comigo, em cheiro abraço e tamanho. Sem estar. O momento em que tudo era sentimento, magia, escuro. No escuro eu te amei e senti seu amor, seu abraço, seu beijo e a textura da sua pele. Sem presença ou fala. No nosso silêncio o amor se mostrou eterno, imutável e sinestésico. Amor com cheiro, gosto e forma. Amor - amor. E sem encostar um dedo que seja, sem dizer uma palavra que seja você esteve mais dentro de mim do que nunca esteve. Era tão grande que escapava pelos lados, derramava. Eu derramei você de tanto que te senti. Eu te senti tanto que me derramei: sentimento, amor. Coisa que não se explica. Metafísicas da alma. Eu te amei tanto que eu ainda te sinto e essa noite eu sei que eu vou dormir e acordar com você, perto, dentro, boca na boca, olhos nos olhos e a textura da pele. Forte assim. Cru assim. Dentro de mim como espinho enfiado, inflamado, em carne viva. Um só. Dentro do teu silêncio você veio morar em mim e eu te digo, mora, dorme, acorda e me acolhe. Que foi o momento mais bonito da minha vida e hoje eu sei que você é meu e eu sou sua e somos um só enquanto durar o silêncio, o sentimento e o amor. Enquanto formos, eu, você, nós. Você-em-mim eu-em-você. A ferro e fogo, em carne viva.

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