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23.12.10

De dois-mil-e-dez pra deus-sabe-quando.

E me dei pensando se um dia você vai ler todas essas coisas que eu um dia te escrevi. Sabe, esse livro, esse universo todo. E tomada de loucura, da minha prepotência também verbalizei: "é impossível e injusto que não". Eu sei que esse livro de capa preta vai estar guardado na nossa estante um dia. É, nossa. Na gaveta em que você guarda as suas tralhas. Vai sim. Ou o universo se mostraria muito injusto. É claro que o universo é injusto. É injustíssimo. E é no meio dessa injustiça toda que existe a possibilidade de você nunca me ler. É também no meio das improbabilidades do universo que eu sei também que posso te achar um idiota daqui há menos de seis meses e encontrar então um cara incrível, o cara mais incrível do mundo, e casar e ter uma porção de filhos. Mas hoje não. Hoje esse mesmo universo injusto e improvável me dá a certeza de que essas bobagens um dia vão estar na sua estante. Na nossa. E você vai ler comigo e rir. Rir de hoje, rir de você e rir da injustiça do universo de ter nos mantido separados por tanto tempo. Essa é uma carta pro futuro. Eu te amo, você também vai me amar e quando ler isso não vai mais me achar louca, vai achar lindo. Hoje eu me dou ao luxo de ter certeza, e que se dane a confusão em que a vida está e quanto tempo faz que eu não vejo o seu rosto. Um, dois anos? Pouco importa se enquanto eu escrevo essa carta-texto ou o que seja você esteja do outro lado do mundo, ou da rua, trepando com outra menina e jurando a ela amor eterno. Hoje não é a hora, mas depois vai ser. Daqui há dois meses, três ou dez anos. Vai ser. Não importa quantos caras eu ame. Não importa com quantos caras eu trepe. Não importa pra quantas meninas você vai jurar amor eterno e dedicar livros. Não importa. Eu tenho uma certeza imensa - que não dói - que alguém nesse universo, seja lá quem cuide dele, me escolheu pra ser sua. E você pra ser meu. E que se foda. Eu enxergo meu livro na nossa estante, meu café na sua xícara e meu corpo no espaço que o seu deixa sobrar na cama. E enquanto você não aceita meu amor, eu te dou minhas palavras. Em todas as manhãs que eu chego em casa sozinha, e sei, você é meu. E de mais ninguém.

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