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22.12.10

"E não pensa que eu fui por não te amar."

Afinal, pra que lado nasce o sol?

Eu fiquei pensando, depois de ouvir o barulho dos pássaros, que eu nunca vi o sol nascer. Ouvi, várias vezes. Vi também o dia clarear, mas o primeiro raio de sol eu não sei donde vem. E enquanto penso nisso, penso também em você, porque hoje o dia foi meio teu. Um dia todo cinza, chuvoso, com eminências de te encontrar, histórias tuas, arrependimentos. Eu fico pensando que devo ter perdido dias pensando em você com a mesma freqüência que perdi nasceres de sol por estar dormindo. Com você eu vi o dia amanhecer uma vez só. E teve poesia na estranheza, mas isso é só mais uma daquelas histórias que eu teimo em contar pra quem ainda não enjoou de nós-dois. Teve também a outra vez que eu acordei tendo certeza que queria ver todos os dias amanhecerem do teu lado, mas te deixei ir, desapegado como sempre.

Eu sei que eu tempo perdido muita vida. Tenho insistido em reviver histórias, em causar encontros casuais forçados, em tentar encontrar aquele amor que eu via refletir dos teus olhos nos meus em algum lugar. É difícil viver sem você. Mas é mais difícil ainda viver sem amor. Eu já não sei o que eu espero de você. Das poucas vezes que o dia amanheceu e eu vi, não teve nenhum olho pra refletir nada. Eu revejo nossa história, eu tento deixar isso vivo no papel, eu sou capaz de lembrar das cores das suas roupas em cada encontro. Eu não sei se eu sei mais. Faz tanto tempo que você se foi. Eu fico no esforço tão infantil para não deixar você morrer. É tudo uma grande desculpa. Ora eu digo que eu acho que você não está feliz, depois eu teimo em me convencer que lá no fundo alguma coisa coisa em você ainda me ama. É que eu acho injusto te deixar morrer, sabe? um-amor-tão-grande-assim. Mas por quanto tempo?

Por quanto tempo eu vou esperar que a sua vida mude de rumo e se encontre de vez com a minha. Eu sei, é muito bonito escrever um amor e, como uma flor no quintal, não deixar morrer, podar as pontas, os galhos mortos, colocar adubo pra crescer mais forte e bonita, mas de que adianta? Fica a flor num canto, enfeite-de-parede, linda-linda, mas sem ninguém pra ver, amar, pra presentear com a flor. É a flor e só. Sabe, eu não quero um amor pra alegrar o ambiente, eu nem nasci com vocação pra ficar encostadinha na estante esperando você vir me resgatar dos males do mundo.

Eu sei que eu construí um castelo e esperei que você morasse nele, mas não dá. Tem toda uma história que eu cansei de rescrever, reinventar, enfiar fins em que você voltava por aquela porta com um ramo de flores. Pode até ser que você seja mesmo o meu fim, o fim em si mesmo, o amor-maior. Eu não duvido de nada, eu até espero que seja assim. Mas eu estou perdendo os entremeios. Cansei de escrever você, rescrever você, reinventar você. Cansei de você ser meu verbo e a minha canção. Ainda acho o nosso amor lindo-lindo. Ainda lembro como era me ver refletida nos teus olhos, sorrindo. Mas e a vida, onde fica a vida, as histórias paralelas, as tramas secundárias, as flores que nasceram pra morrer, os castelos construídos pra ruir? Onde ficam meus encantamentos sem amor, histórias inventadas que não vão ser eternas, mas tentam.

Me diz onde fica a minha vida agora que você resolveu ir e nem sabe se volta. Eu te dei de presente a história de amor mais linda que duas pessoas não chegaram a viver. Um livro inteiro de memórias póstumas de um amor que nem nasceu pra que pudesse morrer. Cartas não enviadas, bilhetes no espelho, despedidas doloridas e músicas que você ainda não ouviu. Você foi o meu grande-amor, a minha literatura e o meu verbo enquanto deu-de-durar. Eu ainda te amo, eu não minto não, me doem as chuvas e as noites em que eu passo em você, me dói ter o sofá inteirinho pra mim, mas de repente me deu uma vontade louca de tentar outra coisa, outra história, outro momento, outra paixão. Inventar outra casa, outra vida e deixar crescer outra flor no jardim. Deixar a flor crescer, podar as arestas, aguar toda semana três vezes por dia, cuidar de outro amor, outro encantamento. Teu amor ainda tá aqui, tá guardado, tem livro, tem casa, tem castelo e tem sonho. Poxa vida, quanto sonho coube (e cabe) no nosso amor. Mas agora me deixa, eu quero soltar da tua mão, quero provar outras coisas. Eu sei o quanto é difícil essa redescoberta, mas da janela do meu quarto olhando o sol nascer eu de repente não vejo tanto-sentido-assim nesse amor que não é, que insiste em não ser e eu insisto em dar vida.

Eu dei de descobrir em outro lugar pra que lado nasce o sol - "para que minha vida siga adiante"

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