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14.12.10

Goodbye, my friend.

Eu deveria talvez, quem-sabe, ter te felicitado por suas grandes conquistas imensas como costumo fazer ano-após-ano. Eu deveria, quem sabe te convidar pra um café que viesse a se concretizar daqui a dois meses, ou três anos para que me contasses sua vida, porque nada sei mais da sua vida. Sei que sorris. Vez ou outra te vejo sorrindo, abrindo seu lindo sorriso cor de céu. Você tem um sorriso grande, um sorriso imenso, uma felicidade cor de esperança nos olhos. É bonito de ver. É bonito de imaginar você sendo feliz de não caber. É bonito te pensar realizando sonhos, construindo casas, destruindo quartos para fazer novos quartos e guardando dinheiro para construir castelos que entoem chegar até o céu. Você sempre quis, eu sei, você nunca sonhou com nada menos que o céu, estrelado, bonito, cor de verde água. E talvez, no meio da minha vida conturbada, eu deveria - como fiz sempre - achar um tempo para que você me conte tudo aquilo que te faz feliz, e também quem sabe, alguma coisa que te faz triste. Porque deve ter, no meio desse verde imenso que forma o mar que por sua vez forma a sua vida, alguma tristeza encroada. Todo mundo tem. Até você no meio dessa vida que você pediu sabe a qual entidade - e que diz ter conseguido com o esforço que lhe coube - tem alguma coisa pra chorar. Eu não sei sobre o que, porque, eu não sei mais nada da sua vida.

Eu teimei. Teimei muito tempo em não querer admitir, mas a gente se perdeu. Não sei quando foi a data exata, mas eu não caibo mas nessa sua vida cor de fantasia. Não adianta, não caibo. Não tenho brio, não fui feita com a matéria de quem larga vidas à procura de grandes amores. Não sei me despegar assim do universo-ilha que eu criei. Não sei. Não sei voar pra longe e perigar bater com o nariz na parede. Eu não sei sangrar e mesmo assim espero o universo. Você não sabe como é isso. E meu universo, meu universo eu não fiz numa casinha em cima de uma árvore com um filho, um marido e um cachorro. Porque meu universo contempla um universo inteirinho e nesse universo inteirinho tem países que eu ainda não conheci, e cidades que eu ainda quero desbravar e por mais, eu te digo, por mais que eu queira a paz de um grande amor, minha vida não é feita dessa matéria apenas. Eu sempre quis mais, e hoje, você já não sabe mais entender isso. Só quer que eu me desapegue, me desapegue, me desapegue e já não cabe na sua vida, minha vida conturbada. Eu sempre fico ali, no pedacinho que sobra - quando sobra - no seu conto de fadas. Sempre num intervalo e quando eu começo a precisar mesmo de você, você se vai. Sempre com aquela frase, tão típica "você me entende né?" e olha, eu tentei. Eu tentei o quanto que deu entender que as coisas estavam difíceis, mas sempre pensei que depois de um tempo as coisas iam se ajeitar.

A grande verdade é que não, eu não te entendo não. Eu sempre arrumei um tempo, seja na felicidade ou na infelicidade ou até mesmo quando eu estava construindo castelos que tentavam ir ao céu, pra você. Porque no meio das outras coisas, e não só no meio, junto, é essa a palavra jun-to com as outras coisas, você sempre foi a coisa mais importante da minha vida. junto com meus grandes amores, quando eu construía um castelo, tinha sempre um quarto pra você pra quando você quisesse me visitar. É que eu te enfiava no meu universo-ilha, no meu universo-grande no meu universo-papel eu te enfiei na minha vida porque você fazia nascer em mim um amor fraternal que eu nunca experimentei. Eu nunca tive irmãos, irmãs, nunca tive amor demais, nunca tive entrega que não fosse amor-amor, amor eros de homem e mulher mas aí você apareceu, me deu uma vida e de repente me tirou tudo de volta. De repente a culpa nem é sua, mas é que eu quero paz e no meio dessa paz e de um universo todo que eu quero conquistar eu quero também reciprocidade. Estou cansada de te mostrar mil bandeirinhas brancas e você não ver porque você construiu um castelo, uma casinha na árvore com um céu azul esverdeado. E tudo bem, eu sempre quis que você fosse feliz. Eu te abriria mil caixas com a minha felicidade e dividiria com você.

Mas só que você não tem mais tempo. E eu não agüento mais você me dando conselhos no tempo que sobra. Não agüento mais você me dizendo que eu só vou ser feliz no dia que tiver uma vida igual a sua. Eu também quero construir um castelo, uma casa na árvore, no campo. Também quero que ela chegue até o céu. Só que eu vou tijolo por tijolo porque sou feita da matéria de que são feitas aqueles que se doam, e às vezes paro de construir meus sonhos só-meus pra sonhar com pouco meus-sonhos-com-outros. E sou feliz assim. Um dia meu céu também vai ser super-azul, e quer saber, ele já é. É você quem me olha com pena porque acha que eu só vou ser feliz o dia que encontrar aquilo que você encontrou. Só que a gente é diferente Você não aguenta que seus céus fiquem cinzentos e dai corre a procura, desbravando quem seja, rápido, rasteiro, correndo, num impulso, querendo nada menos que a felicidade -inteira, achando que tristeza é mato, é vergonha que eu tenho que correr pra onde seja, largando o que quer que seja só pra ser feliz , porque você não suporta um céu acinzentado. E eu, eu sei que os meus vão ficar cinzas de vez em quando. E sei que por vezes vou abrir a janela e vou sentir vontade de chorar, de correr, de largar tudo em busca de um céu azulzinho, mas depois vai passar e eu vou devagarinho, no meu ritmo, pegando ajuda aqui e ali, porque eu aprendi a lidar com o fracasso muito cedo. Inclusive com o nosso. Esse fracasso que você daí de cima do seu castelo no meio do seu céu azul, nem percebe que veio. Mas veio. E agora, meu bem, eu só peço com força pra qualquer entidade que-seja pra que você continue azulando céus mundo afora, e que eu consiga ser feliz devagarinho pra quem sabe ser feliz pra-sempre. Mesmo que você não esteja mais aqui pra compartilhar comigo. Mesmo que você nunca mais segure a minha mão.

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