26.12.10
vou tirar as passas do arroz, e venha o que vier.
Lembranças e saudades. É assim que eu categorizo o ano que ainda-não-se-foi. O ano do não-presente, da espera pro futuro e da saudade do passado. Não me lembro de ter tido anos piores. Meus vinteeum anos me pesam como dois grandes sacos de 10kg em cima das costas. Uma dor nos joelhos, um enjôo de existir e o tédio. As pessoas continuam vivendo a vida delas em seus círculos paralelos enquanto eu fiquei meio presa nesse ano que nem existiu de verdade. Um ano que passou com uma terrível vontade de que se acabasse e com uma eterna saudade daquilo que foi e que não é mais. Vejo na parede fotos de pessoas que já se foram, e que a gente sabe, não voltam. Guardo no meu computador retratos-e-canções de tudo aquilo que um dia prometeu ser. Estou cansada, e por vezes choro. Tem dias que eu enjôo da vida, tem dias que ai. Acabaram-se os ciclos, acabaram-se os ritos, acabaram-se as promessas. Acabaram-se os amores. Acabou-se.
O que recomeça então, a gente se pergunta, e eu não sei. Tenho na colher o gosto de um brigadeiro que já se foi, e tenho em mim o sabor das conquistas que podiam ter sido, mas não foram. O fracasso, o medo, a insegurança. O amor, ah, o amor. Um ano inteiro de tanto amor e pouco espaço, de pouco amor e muita confusão. Um ano inteiro de tanta fantasia, tanta saudade, tanto apego, tanto dispêndio de energia, pra no fim continuar trilhando estradas por si mesma. Eu sei, e todo mundo sabe. A gente nasceu sozinho e morre assim também, no fim. E têm mudado tanto as pessoas que resolvem que dividirão comigo então a tal trajetória na vida. O que se leva, afinal, o que é pra sempre, quem é insubstituível, o que vai doer, o que vai ficar, quem vai me fazer feliz até o dia da minha morte? Tantas perguntas, nenhuma resposta, e as terríveis reflexões de fim de ano. Depois de quantas cervejas é possível saber de verdade o que a gente quer da vida? Depois de quantos abraços, de quantos brindes, de quantos desejos de um ano novo lindo, sabor de doce é possível saber que a gente vai ser feliz de fato? E quanto tempo demora até se concretizar a felicidade? E felicidade plena, existe? Existe no fim de tudo, a certeza da dúvida. E uma angústia. Uma angústia eterna de 365 dias se tornarem tudo aquilo que a gente sempre quis.
Um ano inteiro de saudades, e esforços. Eu ri, sim. É porque também se ri no sofrimento, ali no meio. Quando o sofrimento dói na carne, ou a gente se entrega, ou sorri. Arrisco a dizer que dei meus sorrisos mais sinceros durante esse ano. Lindos, abertos, perfeitos. Saí de cabeça erguida de todas as dificuldades e sorri também porque se sorri na hora da morte. Antes de fechar os olhos. Conservo em mim um orgulho infantil, uma capacidade de superação e uma eterna preguiça de viver. Conservo em mim o enjôo de anos de fracasso sem glória nem sorriso. O enjôo das despedidas sem ritos. Do não poder chorar na cara, do não poder dizer "vai, mas não vai sem saber que um pedaço de mim vai junto". Só a separação. A separação das pessoas, dos amores, dos sentimentos. A separação daquilo que se era e que se sabe, nunca mais será o mesmo. Será que é o peso dos anos que faz com que tudo perca um pouco a música, que com isso se vá embora a poesia, que se coma brigadeiros com gosto de saudade? Será que a cada fim de ano se perde a esperança do "que seja o melhor ano da minha vida" e se troca para "que seja melhor que o próximo".
É que às vezes a gente promete pra gente mesmo um ano novo cor de esperança, de nova-vida, de felicidade. Diz que vai fazer o melhor ano novo do mundo, se veste de branco promete e pede a paz. Escreve uma lista e sonha. Renova, reescreve, reinventa, abraça meio-mundo pulando num pé só, pulando ondas, sendo aquilo que dá pra ser, esperando sonhar um sonho, dois sonhos, e querendo que todos os sonhos do mundo caibam num ano só. Só que vida pressupões frustração e sonho nem sempre se concretiza. É certo que hão de vir anos terríveis e anos melhores-um-pouco. É certo que um dia a gente acorda no dia 29 de setembro e de repente começa ali um ano novo cor de felicidade. É que a vida é feita de encontro-e-desencontro. De gente que vai pra sempre prometendo voltar amanhã e não volta nunca-mais e de gente que vai pra nunca-mais e a gente encontra numa esquina qualquer da vida. É que tem vez que é a gente que vai pra nunca-mais. Tem vez que é a gente que se despede sem rito, tem vez que a gente que é surpreendido, mas tem vez que é a gente que surpreende. É que às vezes acontece de você ter o ano novo mais iluminado do mundo, e os piores 365 dias da história da sua vida. Aconteceu comigo. Pode ser que seja do barco ir firme e sem tribulação, e pode ser do barco virar. Pode ser do amor vir, e pode ser do amor acabar. Pode ser de acabar o amor que era pra sempre, pode ser de ser pra sempre o amor que já tinha terminado. É que no meio desse turbilhão terrível de ano, ainda tem o pouco-que-sobrou. Ainda tem um sorrisinho de canto-de-boca pra distribuir. Ainda tem uma roupa guardada e uma taça querendo-brindar que oxalá, o próximo ano há de ser iluminado, há de ser de paz, de conquista de doçura e só. É que no fim das contas, o brigadeiro ainda é doce, se tem saudade valeu a pena e cai um pacotinho novo de esperança piegas a cada dia trinta e um que faz gritar: "vai embora, ano velho, e traz pra mim um ano lindo".
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