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11.5.12

ah se eu soubesse.

"Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole outra vez
Não dava mole a tua pessoa,
Te abandonava prostrado aos meus pés,
Fugia nos braços de um outro rapaz.
Mas acontece que eu sorri para ti
E aí larari larara lariri, lariri..."


(Se eu soubesse - Chico Buarque). 

Nunca mais soube de você. Para que conste nos autos, preferi calar sua voz onde ainda podia ouvi-la sem que ela quisesse dizer nada diretamente pra mim. Não sei entender os significados das frases deixadas ao acaso (nunca soube) e sendo assim preferi não saber de mais nada. Me desliguei. Não sei as imagens que você tem gostado, não sei quando estará ou não estará online nos mensageiros instantâneos. Não sei se por aí faz frio, se faz calor, se você está triste, feliz, gripado ou tem um novo amor. Preferi não saber porque os sinais são confusos. Podia vir a acreditar em coisas que não são ou ver coisas que não existem. E disso já basta todo um passado pautado em histeria que prefiro não relembrar. Sua imagem me incomoda. A foto de baixa resolução ali no meio da minha vida me incomoda. A foto da última vez que nos vimos me incomoda. O outro exemplar do creme que eu deixei na sua casa me incomoda. Dei de enjoar do cheiro do meu próprio perfume, aquela bendita imitação de 212 sexy e agora só uso o perfume caro. Sobraram coisas. O anel de coruja que eu comprei com você e o vestido que usei duas vezes seguidas porque fui dormir na sua casa. Tudo que acaba deixa com a gente um mausoléu de lembranças perdidas. As coisas viram esses relicários e tem também as lembranças que ficam na memória - essas bem menos solúveis. Troquei o toque de mensagens do meu celular, silenciei o apito do bate papo do e-mail, e às vezes tenho dificuldade até em elaborar a minha roupa porque lembro que quem entendia de moda comigo era você. Tudo isso se torna um processo. O processo de esquecer tudo aquilo que acabou assim, inesperadamente, com uns pontos finais meio reticentes.

Pelo menos agora não tem mais rancor. Tirei da felicidade o subtexto que escondia que na verdade eu estava machucada, exausta, e querendo te ferir. Não tem porquê te ferir. Nunca há porque revidar nada, principalmente quando se trata de dores dessas, de coração. Ontem ouvi o cd novo do Chico buarque e fiquei triste. Não por nada em específico, não porque pegaria o telefone e te pediria pra voltar sôfrega e pedindo desculpas até pelos erros que eu não cometi, não porquê eu ache que ainda exista alguma ação pra reparar as coisas. Fiquei triste porque deveria. O que dói nesses fins são as faltas. Eu sorria ao ouvir aquelas canções e lembrava de você. Música traz consigo umas lembranças esquisitas. Acabei por lembrar de uma noite em que ficamos ouvindo música ruim e dançando de longe. Engraçado constatar que, nos nossos encontros não tivemos lá muito tempo pra dançar músicas - sejam elas boas ou ruins. Não tivemos tempo pra nada, nem pra nos amar demais. Toda uma relação de meses que durou mesmo uns cinco dias inteiros de presença, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos. Tudo isso enorme o suficiente pra eu ter feito alguns planos (mesmo que eu não os tenha admitido) e me irritar no fundo feliz na nossa primeira de quem sabe algumas compras juntos. Mas depois disso não teve mais nada. Nem mais uma compra, nem mais um beijo e nem mais uma conversa. Nada, porque talvez certas coisas tenham que acabar assim mesmo, no silêncio que se faz das notificações que não virão.

Às vezes faço as minhas coisas e percebo que não soube coisas simples sobre você. Não soube qual é o seu filme preferido, seu apelido de infância, se você gosta ou não de churros, como você tempera a sua salada, se você tem preferência por um lado da cama, se lê veja, se simpatiza com o serra, se já foi em algum show inesquecível, se você gosta de chá mate com bolachas de leite, se no frio você gosta de cobertas. Não sei. Não sei o que você assistia na infância, qual as imagens estranhas que te marcaram, se tua mãe raspava a maçã pra você comer, se você gosta de doces que envolvam morangos, se você ia ou não se irritar com a minha mania de por vezes acompanhar novelas e com a minha vasta cultura sobre celebridades e música ruim. Não sei se você gosta de filosofia, se te irritam os papos sobre sociedade, se você fica bravo quando colocam a mão fria no seu pescoço durante o frio, se você odeia quem assiste big brother, se você acha graça nas coisas que eu detesto. Não sei qual eram seus ídolos de infância, se você já idolatrou o renato russo como eu fiz uma época, se você preferia a xuxa ou a eliana e se assistiu "super xuxa contra o baixo astral". Não sei qual era o seu pokémon preferido, se você dorme de meias no frio, qual é o seu sabor preferido de sorvete e se você detesta vitamina de abacate como eu. Não sei como você se comporta no cinema, se faz questão de comprar pipocas, se consegue assistir o filme sem levar nada, ou se você se irrita com as conversas alheias. Você faria piadas sobre os maus roteiros nos filmes ruins também? Você acha a scarlett johanson perfeita como metade da raça masculina, ou você prefere a zooey deschanel? Não sei se você conhece diretores pelo nome, se você come os bombons sonhos de valsa desmantelando as partes e deixando o recheio por último, se você conhece os vídeos do youtube que eu conheço (e coloca ele no meio das conversas). Não sei nem direito o que você espera da vida, como se enxerga daqui dez anos, se você liga mais pra salário ou pra satisfação pessoal, se quer ter uma casa ou prefere morar em apartamento. Não sei se você gosta de todos os tipos de peixe, de comida chinesa, se você gosta de deitar no colo enquanto vê filme, se você assistia cultura. Não sei se você prefere piauí ou carta capital. Se acessa a folha online, se gosta de conversar sobre política, se tem mania de comprar dvd original, se gosta dos pães mais torrados ou dos mais brancos, se prefere pastel de queijo ou de frango com catupiry.

Já você não sabe que eu molho as bolachas com o chá mate, detesto o serra, fui em alguns shows inesquecíveis, já fui fã de engenheiros do hawaii. Não sabe que eu assistia cartoon network, nickelodeon, e tinha muito medo do "senta que lá vem a história" do rá-tim-bum. Não sabe que eu fui fã de sandy e jr na infância e que queria chamar as minhas filhas de "lana e lara" por causa das fadas do lustre do castelo. Eu nunca te contei da minha história infantil sobre o gato zás. Você não sabe que eu leio muito sartre e que já quis estudar pós modernidade. Eu nunca conversei sobre filosofia com você. Você não sabe que eu sempre preferi a eliana, que meu sabor preferido de sorvete é flocos e que eu detesto vitamina se tiver mamão e abacate. Não sabe que eu não sei entrar no cinema sem coca e sem ter o que comer e que eu fico fazendo comentários engraçadinhos quando o filme me permite. Eu nunca te falei dos diretores que eu sei pelo nome (exceto pelo woody allen) e você não sabe que um dos meus preferidos é o bergman. Meu filme preferido é closer, seguido por adaptação, as horas, paris, texas e beleza americana. Eu comecei a gostar do woody allen depois que entendi que a vida é neurótica. Você não sabe que faço piadas com todos os vídeos do youtube que vi, que prefiro morar em apartamento, que posso muito bem viver sem roupas de marca se eu for feliz, que eu prefiro viajar do que gastar em objetos. Não sabe que eu só como alguns tipos de peixe, que eu gosto de deitar no colo enquanto vejo filme. Você nunca provou a minha comida, não sabe que eu faço bagunça enquanto sozinho, sabia muito pouco do meu desastre e do meu desajeito. Não sabe que eu adoro yakissoba e tempurá, que eu amo panquecas, que sou viciada em doces com morango, que meu chocolate preferido é sufflair e que eu gosto dos meus pães mais branquinhos. Não sabe que no frio eu tenho mania de dormir de meia e que eu fico muito mal humorada no calor. Acho que eu nunca te contei que queria que a minha filha se chamasse luísa, por causa da música do chico e que desisti que meu filho chamasse thiago porque conheci muita gente com esse nome. Você não sabe que eu choro toda vez que ouço hallelujah com o jeff buckey tocando e nem que eu era fã de linkin park no colégio. Você não sabe dos meus blogs abandonados, eu nunca te contei do e-mail que mandei pro marcelo adnet, e nem que eu brincava no barro quando eu era criança. Nunca soube que eu sempre fui estabanada no colégio e por isso odiava a educação física. Você não sabe que eu prefiro pastel de queijo e nunca assiti a lagoa azul.

Não tivemos tempo de nos apreender. É claro que nos conhecemos, nos encantamos, mas até a última visita eu nem sabia como era você cuidando de uma casa, e talvez nem você soubesse como lidava com uma (porque antes você tinha uma empregada). Ficaram lacunas. Às vezes eu sinto a sua falta. Meu celular vive em silêncio, e eu não tenho mais pra quem contar meus dias, ou pedir conselhos. Talvez eu corresse mais atrás de você se tivessem me ensinado a ser assim, mas eu não sei. Eu não sei falar de sentimento. É por isso que eu escrevo. Talvez eu me sentisse mais inadequada se não tivessem sido anos e anos de cinema sozinha, escolhas próprias, filme sem companhia, e ninguém pra me aconselhar. Talvez eu me arrependa meses depois por não ter sido assim, essa pessoa mais flexível. Por não ter me aberto tanto quanto devia. Por não ter pulado de cabeça. Mas eu não sou assim. Eu sou a desajeitada que sempre derruba o molho do cachorro quente na blusa e que só sabe se aproximar de alguém fazendo piada. Só sei dizer o que eu sinto escrevendo. Faço cafuné errado. Não sei tomar iniciativas, e só demonstro afeto com naturalidade depois de meses, os meses que não tivemos. Não há o que temer mais, e nem o que perdoar. Eu já escrevi descompassadamente tudo que eu podia, e o resto não está ao meu alcance. Fico daqui esperando que você esteja bem, que seu trabalho não te consuma as tripas, que suas noites de sábado sejam agradáveis e acho que desejo também que você não sinta a minha falta nos fins de noite, porque esse vazio ecoa e dói. Eu vou indo, do jeito que dá e sem tanto trauma porque solidão acostuma, e meu bem, eu já fui tão sozinha nessa vida.

Lamento um pouco, é claro, que tudo aquilo que prometia tanto tenha acabado nesse desastre todo. Mas talvez seja isso, a vida é feita de desastres. Depois ouço a namorada do Chico dizer que se soubesse não caía na tua, e de vez em quando eu penso que melhor seria nada disso ter acontecido porque daí evitava o trauma, o choro de madrugada na cama, os dias com medo de atualizar as redes sociais. Mas acontece que eu sorri para ti, e aí que tudo que teve valeu a pena, teve muito mais sorriso do que choro e muito mais abraço do que grito. Talvez a vida me faça te encontrar por aí, dias, semanas, meses ou anos depois e haja um recomeço onde a gente volte a se descobrir da onde parou. Talvez eu nunca mais te encontre e assista desacreditada o seu atualizar para um relacionamento sério no facebook. O mundo não é tão cheio de possibilidades quanto parece. Amor só funciona com a pessoa certa, na hora certa. Não é qualquer menina que flertar na rua com você que vai ser seu número, e nem qualquer cara de camiseta xadrez a me jogar charme que vai ser o meu. Love is an accident waiting to happen, mas a gente se acidenta muito pouco ao longo da vida. Pouquíssimas vezes.

Não sei se a gente jogou a nossa chance no lixo, se não era pra ser mesmo, ou se vai ser ainda. Talvez eu ainda acorde algum dia com você cantando aquela música que eu odeio. Talvez eu nem lembre de você direito daqui dois meses. Já não cabe a mim a história de nós dois.

(I miss you babe - sempre que essa valsa toca, fecho os olhos bebo alguma vodka - e vou.).




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