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7.5.12

you and I will gonna live forever.

sonhei com você. eu, que não vejo seu resto faz pelo menos um ano sonhei com você. acho que tenho sentido saudades. não sei qual é o motivo do inconsciente projetar sonhos meus com você. queria que fosse karma, ilusão, vidência. queria que fosse vidência porque no sonho eu te reencontrava mais velha num desses bares perdidos por aqui. você continuava o mesmo e eu continuava a mesma. a gente tinha tanto assunto. tanto tanto assunto. mais ou menos igual daquela primeira vez que eu conversei com você e você levou bronca porque devia ter ido dormir já que tinha que trabalhar no dia seguinte. menino crescido tomando bronca. no sonho já não tinha mais bronca, e já não tinha mais culpa. eu era livre, apesar dos meus traumas e dos meus açoites eu era feliz, e você parecia também. eu te contava toda a minha vida, você contava a sua e a gente terminava comentando um folheto de show do cover daquela banda que a gente gosta tanto. eu te dizia que o cover era bom, e que podíamos ir qualquer dia e você dizia que sim, que podíamos ir.

na narrativa não linear dos sonhos tua mãe vinha te buscar e dizia que sentia muitas saudades de mim, que como raios eu tinha sumido da sua vida desse jeito enquanto você namorava outra pessoa. eu não respondia nada, e ela me abraçava porque sabia a resposta. ela não te levou de volta pra casa. te deixou comigo, disse que a gente devia ter muito o que conversar e que eu sabia cuidar bem de você. você sorria o mesmo sorriso que tinha quando eu fazia as piadas mais sem graça do mundo, e eu sorria do jeito que eu nunca mais me vi sorrir. daí a gente ia, andava na rua de mão dada e conversava sobre tudo que tinha pra conversar. era tanta coisa que eu não sabia mais de você e era tanta coisa que você não sabia mais de mim. daí já era tarde demais e a gente precisava de um taxi. um taxi pra minha casa porque a sua casa continua sendo longe demais. um taxi pra minha casa e depois você ia embora quando amanhecesse e eu fosse trabalhar, e tudo bem, minha mãe não se importaria porque ela te adora.

só que as filas do taxi eram enormes, ninguém sabe porquê. e esperávamos no fim da fila do taxi enorme enquanto você me guiava. você me perguntava se não era melhor você pegar um mototaxi pra sua casa e nos despedirmos de vez e eu te dizia que não. daí você ficava, porque no fundo você sempre fica. a gente andava pela rua e meu melhor amigo passava e eu mostrava pra ele "olha, a gente se reencontrou de novo".  talvez meu jeito tolo de sentir orgulho por ser a menina que segura a sua mão, mais uma vez. e daí começava a chover na fila do taxi e você resolvia de vez que não ia mais me abandonar e tirava de dentro de qualquer lugar um guarda chuva enorme, que cabia nós dois e você me abraçava com um braço pra eu caber no guarda chuva e com o outro segurava ele. e eu te abraçava pra que você não sumisse mais de mim. e o táxi chega e você senta de novo no meu sofá e a minha mãe diz que você pode dormir ali ou onde você quiser. vocês continuam fazendo piadas sobre o meu estabanamento e a minha preguiça.

e daí de repente é outro dia e estamos tomando café já numa casa esquisita onde as pessoas não me conhecem. e depois estamos no show que tinhamos marcado de ir e você não tem como voltar pra casa. daí aparece a sua namorada e ela te puxa pelo braço dizendo "vamos amor, eu te levo". e você vai indo com ela, e eu vou ficando de novo enquanto a banda vai guardando as guitarras e os baixos, até que você volta. daí você volta e senta na mesa. a mesa que de repente é a mesa de jantar da minha ou da sua casa, e onde as nossas mães festejam nossa recente união. daí você me sorri e diz que quer ficar comigo todos os dias da sua vida. e eu acordo. a realidade é que eu sou essa moça sozinha que vai pra um churrasco em família onde você nunca mais apareceu depois daquela única aparição louvável.

e eu não sei onde estaremos daqui há dois anos. sempre te imagino casado, já que você já é meio casado até. não sei mais notícias suas. fico querendo saber mas te tirei dos meus contatos e acho que é melhor assim. eu me senti tão violentada nesses últimos tempos, você nem sabe. meu coração voltou pequeno, o sorriso agora é meio sem graça e eu acho que eu queria mesmo que você tivesse comigo nas filas enormes dos taxis que fazem naquela cidade me protegendo com o guarda chuva que você tira sei lá da onde. só que cá estou eu perdida nessa cidade de novo, me fazendo de forte mas me sentindo usada e o pior de tudo é saber que você não existe nas mesas dos bares, nem no sofá da minha casa. nem hoje, nem daqui dois anos. e então o que sobra pra mim é enfrentar as chuvas sem guarda chuva e esperar sozinha nas filas intermináveis sem ninguém pra me acompanhar até em casa. um ano inteiro sem te ver, ou mais, e a minha memória ainda guarda até os teus tiques nervosos. às vezes, desavisada, chamo isso que sobrou de amor, mas eu acho que eu te guardo como o único homem que me protegeu da vida, que me fez descansar de saber os caminhos da cidade e andava comigo na chuva. você carregava meus guarda-chuvas (sempre se molhando mais) e me dava abraços desengonçados. você me levava pelas ruas, limpava o canto da minha boca sempre sujo de molho do cachorro quente da esquina e me tirava de perto das janelas com medo que eu caísse.

antes e depois de você, eu tive que ser senhora da minha vida. e por vezes falhei, porque isso cansa e agora sou assim, um pouco apática. esse foi meu novo adjetivo: apática. você não acreditaria que eu fiquei assim depois dos traumas da vida. você que sempre me acusou de fazer tudo sozinha, o tempo todo sozinha e tirava da minha mão as cestas do mercado. não precisa tanto assim, fazer tanto assim. pode dividir também. você que me ensinou, eu não aprendi direito e na gana de querer abraçar a vida surtei, e acabei ficando apática. se eu te contar que não tomei nem decisões simples esse ano acho que você não acreditaria. mas estou bem de novo, só sinto falta, você sabe. não sei se um dia alguém vai querer me ensinar de novo a ser cuidada. daí fico sonhando com você sorrindo das minhas piadas sem graça e dizendo com as suas camisetas roxas que não combinam que queria ficar comigo pra sempre.

só que eu não acredito em pra sempre. nem em sonhos premonitórios. nem em mim, nem em você, nem na mesa com as nossas mães nem no show cover da nossa banda preferida. eu não acredito em nada. só nessa saudade louca que eu sinto de quando eu era feliz. desde que você se foi ninguém nunca mais soube enxergar além da minha histeria (que é coração machucado) e das minhas camisetas sujas de molho.

desde que você se foi nunca mais.

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