Algumas vezes eu pensei que eu nunca mais falaria com alguns deles. É o curso normal da vida: certos amigos se vão. Já tinha me acostumado com a ideia. No começo do ano, de tão enfadada que estava, pensei em fugir de mais da metade deles. Mudaria para são paulo, faria novos amigos, talvez encontraria um novo amor e todo esse passado de fim de ano seria dizimado de um jeito qualquer. Dois mil e doze foi o pior ano da minha vida. Não houve outro pior. Nem o em que a minha avó morreu, nem aquele em que o meu avô se foi. A razão primordial de eu não ter pirado nesses anos de perdas é o fato de eu ter gente como essas da foto comigo. Quando minha avó morreu eu tinha a mariana, desajeitada, mas sempre ali tentando me animar por entre as aulas de biologia. Quando meu avô morreu tinha um namorado dedicado, e todos esses amigos da foto (e mais alguns que se foram) comemorando comigo o melhor aniversário da minha vida. Não teve porquê sofrer tanto assim porque eles me ensinaram que tem como colocar flor no buraco que forma no peito e continuar vivendo.
Esse ano eu chorei sem eles. Por vezes chorei no metrô daquela cidade estranha segurando a minha bolsa que a alça sempre caia. Outras vezes senti medo sozinha no ônibus sem saber direito onde descer e sem ter ninguém pra ligar. Depois de todo o desastre emocional que se veio, o dia em que me senti mais acolhida foi o dia em que eles me levaram pro show e me trataram como uma mocinha machucada. Eles entenderam depois a minha depressão, eles trocaram baladas por me ouvir contar repetidamente a mesma história sem pé nem cabeça que me arrancou um pedacinho do peito. Foi com eles que eu pude desabafar e foi por causa deles que de vez em quando eu comia algo mais do que meu almoço leve. Foi uma delas que segurou a minha barra nos trabalhos da pós sem nem saber direito o que tava acontecendo comigo, foram outros dois que me levaram pra sair sem ter ideia do trauma. Foram eles, sempre eles, que me ajudaram a levantar do chão.
Faz alguns meses que a ordem se reestabeleceu. Não muitos, talvez uns dois. Desde então eles tem sido muito próximos, terrivelmente próximos. A maturidade me ensinou que, muitas vezes, eu vou me irritar com a mania deles de chegar atrasado, o jeito de vestir, a estranha responsabilidade perante as coisas, um jeito velho de ver o mundo que contrasta com esse meu eu tão livre. Teremos divergências, brigaremos na mesa do jantar, falaremos mal um do outro de quando em vez. Acontece que, o interessante da amizade, é que todos os clichês sobre ela são verdadeiros. Uma vez que foi construída uma relação verdadeira íntima entre duas pessoas, essa relação não morre. Esse fim de semana voltaram na minha casa duas amigas que eu não via fazia pelo menos seis meses. No começo achei que o estranhamento seria sem fim e que não haveria nenhuma relação estabelecida. Pelo contrário: tudo aconteceu como se fosse a primeira vez. Não existiriam outras pessoas com quem eu consegueria ser o mais "eu" possível. Não existe estranhamento, assunto proibido, jeito de falar que ofende. A gente aprendeu a relevar, a perdoar e a, principalmente, perceber que amizade não acaba assim, de uma hora pra outra.
Atordoada com as comidas, e um pouco chateada com o atraso de um deles que sempre atrasa eu pude perceber que eu não queria estar com outras pessoas. E que eu não queria ter outros amigos que não aqueles. Por vezes chatos, por vezes usando as roupas erradas, por vezes me decepcionando. Mas ali, portando com eles pedaços de mim que eu sei que ainda não mostrei pra ninguém além deles.
É deles que eu reclamo, mas são eles que eu nunca deixei de amar. Eles são o meu amor de verdade, and true love waits.
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