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11.7.08

sabe?

O problema não é eles, você sabe. O problema todo é enxergar a pequeneza naquilo que eles fazem. Não pode ser. Você já parou pra pensar com que tipo de pessoa a gente tem que que lidar todos os dias? Talvez eles consigam. Eu só peço desculpas. Eu não consigo. Não consigo essas relações superficiais todas, você sabe? Isso de bom dia, boa tarde, isso de viver dez, vinte anos com uma pessoa e não saber nada sobre ela. Não estou falando de coisas banais. Eu posso conhecer metade da casa dela e até saber que trajeto ela faz todo dia pra chegar até lá. Conheço uma mania ou outra, aqui e ali. Eu não estou falando disso. Estou falando do que ela sente por dentro. Suas grandezas ou pequenezas interiores. Não o que ela deixou ou não de comprar no mercado.

Pode até ser que eu não tenha me acostumado. Alguns robôs dão defeito. Eu dei. Mas eu não quero, sabe? Sair toda sexta feira com as mesmas pessoas durante vinte anos e só conversar sobre quantos gols o fluminense fez ou deixou de fazer e essa loucura que anda os preços e a vida da gente. Não quero ter dez pessoas ao meu redor e pagar um cara pra contar meus problemas.

Não quero esse mundo e suas inúmeras relações doentes e seus anti depressivos enlatados. Não quero. Eu tô tentando, sabe? Fugir disso tudo. Eu ainda tento me mostrar, ter relações não superficiais, acreditar nisso de amizade mesmo, união de almas e tudo mais. Acordar e ter alguém pra contar que além de ter cortado o meu cabelo, minha alma foi cortada em mil pedaços.

É, eu ainda sonho com alguém dividindo minha vida comigo e não só a minha casa, espaço, móveis e televisão.

Talvez eu só queira mais que carros andando apressados e conversas rasas de bar.

Sabe? tentar não sentar no meu computador e manter a maior distância possível de tudo que seja vivo.

Eu só queria olhar pra alguém e ver a mais que um cabide de roupas triste e sem cor nessa vitrine que um dia já chamaram de mundo, com coisas que um dia já se chamaram pessoas.

4.7.08

ausência

O estranho entre todos os meus dias incríveis e noites felizes é essa ausência.
antes doía um pouco, depois incomodava, agora é só nada e nada mais.

um dia você se vê completamente entorpecida por tudo, as coisas já não doem nem alegram tanto quanto deveriam e felicidade é uma coisa simples, é aquela janela verde que verde escreve e algumas declarações. são uns risos, umas bobagens, umas comidas e umas fofocas. é uma amiga distante pra sempre em linhas de ônibus com motoristas e cobradores.

e tudo se torna uma incrível confusão em que o que vale a pena não importa e o que importa não vale a pena e você nem sabe bem distinguir o que são os dois. o problema todo é que de repente você acorda e o que importava muito é só mais uma coisa e você nem sente mais vontade de sentir nada. tudo é simplesmente costume como tudo na vida e se desacostumar é um exercicio constante que vai acontecendo sem a gente perceber.

eu acostumei e deasacostumei em seguida.

o que eu espero sinceramente são coisas que estão longe demais de mim. são coisas que é só porque há uma ausência grande, ausência que você diz e abre um vazio imenso e branco, não sei porque branco mas, um vazio enorme que preenche tudo. uma ausência tão grande que qualquer pequena coisa parece ser capaz de preencher e não é. e são pequenos pedaços atrás de pequenos pedaços se juntando doentemente pra estancar um vazio que nem é vazio, é ausência e isso.

ontem conversando com você eu parei e pensei que deve ser tão estranho um dia ter tido alguém tão igual a mim. é tão estranho se ler quando o outro está simplesmente falando dele mesmo. não é, é tão ótimo e tão e tão e tão.

você disse que ainda não encontrou.
Sinceramente me disse que eu também não.
aí, tá vendo, eu te disse que não encontrou...
o que importa é que nós estamos felizes, por enquanto.

por enquanto.
por enquanto é felicidade pequena cobrindo essa ausência imensa.
essa ausência que como você mesma disse, é ausência e só.

3.7.08

amigoamigo.

São quatro horas da tarde, quarta feira fria e ensolarada, coisas típicas do sul do Brasil, norte do paraná, mas mais são paulo do que qualquer coisa. um copo de fanta vazio do meu lado, às vezes eu esqueço que fanta depois de enxaguante bucal ( é esse o nome daquelas coisas coloridas que ardem quando você passa na boca e que deixam você com hálito bom?) deixa a fanta amarga. talvez porque eu não goste muito de fanta e muito menos tenha costume de usar enxaguante bucal, principalmente esse vermelho que tem um gosto estranho que não é cereja nem morango e ainda arde a boca da gente. flúor sempre me fez enjoar. desde pequena. fluór e a vida.

Uma dor de garganta que não passa, que agora está passando pros ouvidos e um sono que eu não consegui deixar. cochilei quando não devia e quando podia dormir o sono foi embora, assim como é tudo na minha vida. quando eu não devo eu faço, quando eu posso não dá certo, ou eu não consigo.

zapeei a televisão umas várias vezes, acabei parando num desses programas de tarde em que resolvem os problemas dos outros. eu também precisava de alguém pra resolver meus problemas. às vezes eu fico pensando se aquela mulher compreensiva da televisão também me entenderia se eu fosse lá e sentasse naquela cadeira desconfortável e começasse a contar todos os meus problemas. eu acho que não. ou talvez sim. no fundo eu nem sou tão complicada assim.

eu ouço música ruim e falo de amor, eu acredito em amor e com certeza isso não é nenhum pecado. sou brega, perco as chaves, estou sempre atrasada, tenho gosto de cabo de guarda chuva na boca todo dia, um cabelo desbotado e uma total falta de jeito com as pessoas. as coisas que eu escrevo nunca saem as mesmas quando eu chego no fim. eu sou uma pessoa como qualquer outra e eu pareço assim.

mas eu pareço mais com aquela moça da televisão do que com as pessoas que ela ajuda. tem sempre alguém sentado em alguma cadeira na minha frente esperando a minha ajuda. hoje foi você. tem sido você naquela cadeira há algum tempo e a gente nem se conhece tanto assim. mas na minha manhã estranha e sonolenta eu achei tudo tão bonito. não tudo, mas aquela parte, aquela parte que não durou nem dez minutos, essa coisa de você confiar em mim e tudo mais, eu nunca fui confiável, sabe? eu acabo me sentindo feliz em te fazer sorrir, dois minutos no meio dessa loucura toda que é a minha e a sua vida.

eu me irrito com os seus problemas sim, eu finjo levar tudo com uma grande brincadeira e às vezes você me deixa tão tão nervosa... eu fico com vontade de pegar pelo braço e te dizer " pelo amor de Deus, não faz isso". eu rio na sua cara e eu acabo falando verdades que te deixam com aquela cara de quem acha que eu nem me importo com você. eu só digo as coisas porque eu gosto tantotanto de você e você é tãotão parte da minha vida que eu só quero que você seja feliz, assim, de verdade. talvez do jeito que nem eu sou. queria que você encontrasse o amor que procura, que fosse supersuper bem sucedido e que daqui há dez anos você fosse jantar lá em casa e a gente conversasse sobre a nossa vida enquanto você toma cerveja com meu marido.

eu só queria sair com você e ver a gente contar nossas mil alegrias ao invés de toda vez sentar no banco e depois ficarmos os dois comentando o quanto aquela conversa nos fez perceber que o mundo é uma porcaria e que a gente só queria ser felizfeliz uma horinha que fosse. eu queria pegar no seu braço e dizer que a gente ainda vai ser felizfeliz um tempo grandegrande, infantil assim e repetindo palavras.

eu só queria mesmo que você soubesse que amizade é isso daí, é olhar no olho e ver confiança e é sentar do seu lado e ver que eu posso falar tudotudo, é sair pra fazer coisas que eu não faria sozinha tendo certeza que vai ser divertido, nem que seja porque você vai fazer alguma porcaria, eu vou derrubar alguma coisa e a gente vai rir. eu nem falo isso, você sabe, eu sou ruimruim com sentimentos, você também é um merda com isso e deve ser por isso que no fim das contas, entre estranhezas, afastamentos e voltas a gente se dá tão bem.

mas eu preciso te dizer que eu vou ser a pessoa na frente da sua cadeira quando você precisar e vou até fazer cara de compreensiva mesmo você me achando uma víbora ás vezes. se tem alguém que eu tenho o maior orgulho e a maior vergonha de ser amigaamiga esse alguém é você e eu te gosto muitomuito porque dizer amo é sentimental demais pra mim, mas é verdade. verdadeverdade.

29.5.08

Caio fernando abreu me fez chorar.

"...ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, a velha angst, saco, mas ando, ando, mais de duas décadas de convívio cotidiano, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, ah não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz...."

"...Hein? claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim...perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário & positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária e bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, voltei a isso que dizem que é o normal, e cadê a causa, meu, cadê a luta, cadê o po-ten-ci-al criativo?..."

"...ou ligo para o cvv às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia, ela pára e pede, preciso tanto tanto tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era...que aconteça alguma coisa bem bonita com você, ela diz, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando...."





Recapitulando, caio fernando abreu me fez chorar.
é tudo que eu sempre quis escrever e como ele o fez, me calo.


espero que ainda tenhamos salvação, companheiro.
you know just what I'm talking about.

eu só queria um jeito.

e pra te ser bem sincera, eu só queria um jeito de ser feliz.
um jeito, uma maneira, uma receita. um dia no calendário, nas minhas horas corridas, nos meus dias cinzas e sem cor, nesse pleonasmo que é ser eu e não ser feliz.
eu queria, por um minuto olhar no espelho e ver alguém que diga as coisas que espera dizer e que não sinta esse desconforto enorme.
eu já não aguento mais acordar todos os dias com sono, com desgosto, com a vontade de sumir entre catracas de ônibus e gente que eu nunca vi o rosto e nunca mais verei. uma vida normal, uma garota-estudante no alto dos seus dezenove anos, tanta vida por aí e coisas e coisas e coisas.

ora, por favor. é um vazio.
e quando se diz vazio é mais que um espaço em branco, é uma coisa que não se preenche. qualquer coisa... exoterismo, religião, passear de mãos dadas, gritar, vinho barato no meio fio, auto conhecimento, livro de auto ajuda, paulo coelho, chocolate, madrugada, qualquer coisa que me faça sentir viva.
o vento nos cabelos, o brilho nos olhos. a simples vontade de passar um dia sem querer sumir com todo mundo. simples simples simples simples.







eu só queria um jeito, um dia, um momento, uma pessoa, um segundo e um instante
um modo para ser feliz o bastante.

mas tudo me faz acreditar que estou pedindo demais.