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19.9.11

A única maneira de se enterrar um grande amor é um epitáfio


PRELÚDIO– O NASCIMENTO

         Nasci três ou quatro semanas antes do previsto, disse a minha mãe. Tempo exato para ter nascido assim aquário, e não peixes – embora eu não acredite na sorte do zodíaco. Nasci assim, de bunda virada pra lua, sem saber esperar, sem saber que existe jeito errado de nascer (e de se viver). Nasci em fevereiro odiando o carnaval, filha única de pais zelosos. Não soube perder, não sei dividir e tendo os pais me amado inteira e completa, só sei amar pela metade. Receber muito amor, quem sabe, nos ensina a não saber amar de volta. Ou não é nada disso. Não se sabe, nada se saberá com certeza dessa epígrafe de um grande amor. Se eu escrevo é pra te matar de dentro de mim. O único amor que senti. A única criatura pela qual o corpo se fez carne. O único olho no qual eu me enxerguei, me cegou. E se fez cego.


Preciso de uma opinião: se fosse o primeiro parágrafo de um livro que você lê em pé na livraria, você continuaria lendo? É isso que vocês estão pensando, mesmo. 


Um comentário:

Flavio disse...

Essa ideia sempre foi recorrente em mim. O ex-amor andando por aí não é nada mais do que um espectro nos assombrando. Qual diferença de uma relação acabar ou esse alguém morrer? A única diferença é o fantasma nos bares e no facebook dizendo: Oi?