NÃO SE MATE
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserves-e todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Carlos Drummond.
Existe uma hora, na vida de qualquer pessoa - e nas das que escrevem, principalmente - que se falta a vida e, pior ainda, faltam as palavras. Uma coisa meio morte, meio enxergar sua vida como personagem de outra coisa, outra história. Não se faz parte, não se existe, quase se morre. Nesses estados de quase-morte empresta-se as palavras de outra pessoa pra querer se dizer o que não se consegue. É que os que não escrevem fazem. É pra isso que servem os escritores. Para dar voz àquilo que se vive, mas não se sabe colocar em verso, nem prosa, e nem mesmo grito. Deixo que nesse hiato Carlos Drummond fale por mim. É terrível não conseguir escrever com suas próprias palavras aquilo que se sente. A catarse, pra quem cria, é apenas parte do processo. É bonita, mas não preenche. Os olhos às vezes cabisbaixos indicam tristeza. Eu preciso de tempo, eu preciso ficar sozinha, eu preciso me encontrar pra poder entender o que pode virar texto e o que não pode. A metalinguagem de escrever sobre o não-escrever também não preenche. É só uma constatação. Alguma coisa dentro de mim precisa colar pra que se crie. É preciso criar pra que se viva. Eu preciso escrever pra me sentir parte. Parte do mundo, parte de mim, parte do universo. A cura pela fala sempre fui minha cura pela escrita. Sublimação. Freud explica, mas não consola. Aos olhos dos outros, toda pessoa aparentemente amarga precisa de amor. “Você precisa amar, você precisa ser amado”. Todos querem. Eu, inclusive, não nego. Só que hoje, eu preciso criar. Porque o escrever é necessário. E o amor, acontece quando tem que acontecer – hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda feira ninguém sabe o que será.
“Mas não diga nada á ninguém, ninguém sabe nem saberá”
Não.se.mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserves-e todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Carlos Drummond.
Existe uma hora, na vida de qualquer pessoa - e nas das que escrevem, principalmente - que se falta a vida e, pior ainda, faltam as palavras. Uma coisa meio morte, meio enxergar sua vida como personagem de outra coisa, outra história. Não se faz parte, não se existe, quase se morre. Nesses estados de quase-morte empresta-se as palavras de outra pessoa pra querer se dizer o que não se consegue. É que os que não escrevem fazem. É pra isso que servem os escritores. Para dar voz àquilo que se vive, mas não se sabe colocar em verso, nem prosa, e nem mesmo grito. Deixo que nesse hiato Carlos Drummond fale por mim. É terrível não conseguir escrever com suas próprias palavras aquilo que se sente. A catarse, pra quem cria, é apenas parte do processo. É bonita, mas não preenche. Os olhos às vezes cabisbaixos indicam tristeza. Eu preciso de tempo, eu preciso ficar sozinha, eu preciso me encontrar pra poder entender o que pode virar texto e o que não pode. A metalinguagem de escrever sobre o não-escrever também não preenche. É só uma constatação. Alguma coisa dentro de mim precisa colar pra que se crie. É preciso criar pra que se viva. Eu preciso escrever pra me sentir parte. Parte do mundo, parte de mim, parte do universo. A cura pela fala sempre fui minha cura pela escrita. Sublimação. Freud explica, mas não consola. Aos olhos dos outros, toda pessoa aparentemente amarga precisa de amor. “Você precisa amar, você precisa ser amado”. Todos querem. Eu, inclusive, não nego. Só que hoje, eu preciso criar. Porque o escrever é necessário. E o amor, acontece quando tem que acontecer – hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda feira ninguém sabe o que será.
“Mas não diga nada á ninguém, ninguém sabe nem saberá”
Não.se.mate
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