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23.5.08

os cegos do castelo.

Os cegos do castelo.



Não, não foi um grande livro de algum escritor famoso, ou uma música de algum intelectual muito esperto que me fez tomar a decisão de rever meus conceitos todos. Foi essa música, nando reis e seus titãs que me fizeram enxergar tudo claramente. Numa tarde de feriado em que nada mais fazia sentido, ela se elucidou na minha cabeça e me mostrou tudo que eu ainda não tinha visto.



[Eu não quero mais mentir. Usar espinhos que só causam dor]

- Eu não quero mais mentir, eu não quero mais fingir. não quero mais ficar me desgastando pra mostrar ser o que eu não sou. Não quero me machucar por isso nem machucar os outros com as farpas que eu solto. Eu não quero me machucar por mim mesma. não quero ser o que eu não sou pra agradar os outros, não quero mudar o que penso alguns minutos antes de falar por causa da minha reputação. não quero guardar nada. . não quero ser ríspida por estar me sentindo mal comigo mesma. não quero mais soltar espinhos. não quero mais esbarrar neles. não quero mais viver sendo um projeto mal acabado de mim mesma.

[eu não enxergo mais o inferno que me atraiu]

Eu não quero ficar envolta naquele inferno em que eu estava. não quero mais ficar presa a algo que não sou eu. não quero ficar me escondendo entre noites solitárias e choros ocasionais. Não quero mais ser essa pessoa obscura. estou cansada de ser uma sombra. estou cansada desse inferno de noites mal dormidas e pensamentos que me atormentam. eu não quero mais isso. eu não enxergo mais esse inferno.

[ dos cegos do castelo me despeço e vou.]

Disso tudo, dessas coisas ruins todas. Dessas pessoas que me fazem mal. Das pessoas para as quais eu tenho que fingir. das situações que eu só suporto por supostamente ter que suportar. dos falsos sorrisos, das minhas próprias hipocrisias. dos outros hipócritas, das amizades de fachada. das pessoas que me enxergam por cima e não por dentro, desse buraco todo em que tudo que eu enxergava era escuridão e de tudo o que me deixou assim, eu me despeço.

[ a pé até encontrar, um caminho, um lugar, pro que eu sou.]

Vou a pé, devagar, aos poucos. até encontrar um caminho em que tudo pareça mais certo e verdadeiro. vou numa busca para encontrar um lugar onde eu possa ser eu mesma sem me esconder. sem me preocupar. vou andando por aí, sem compromisso em busca de coisas boas e sentimentos verdadeiros. vou sem nada no bolso ou nas mãos, como diria a música do caetano, sem muita pressa em busca de um lugar onde eu me sinta parte; de pessoas que realmente se importem. de um lugar onde eu possa ser eu mesma e nada mais. de um lugar que me faça sentir eu mesma, em essencia. sem etiquetas socias, sem educações bobas. eu mesma, feliz, triste. mas eu.

[ eu não quero mais dormir]

Eu não quero mais ter que esquecer de nada. Não quero mais preferir dormir do que viver. Não espero mais estar alheia enquanto a vida passa. não quero mais preferetir um mundo de sonhos porque a realidade se mostra fria. não espero mais estar dormindo enquanto tudo a minha volta acontece.

[ de olhos abertos me esquenta o sol.]

Porque de olhos abertos eu posso ver tudo. de olhos abertos eu vivo, e não me escondo. as coisas não passam enqaunto eu tento me esconder porque estou achando tudo uma porcaria. de olhos abertos eu sinto calor e frio. de olhos abertos eu vivo.

[ eu não espero que um revólver venha a explodir]

eu já não prefiro morrer do que estar viva. eu já não prefiro largar tudo porque tudo se mostra cinza e completamente sem sentido. eu escolho não desistir e continuar tentando. não por simples esperança idiota e clichê, mas porque não vale a pena. Eu não espero um revólver na minha testa. eu espero anos e anos a partir de hoje. talvez anos estranhos, talvez algumas coisas desagradáveis. mas eu já não penso em desistir de tudo.

[ na minha testa se anunciou. a pé, a fé devagar foge o destino do azar que restou. ]

Porque eu percebi que tudo isso não valia a pena. lá estava eu me matando pelos outros. me anulando, fazendo um esforço tremendo pra agradar e entrando num caminho obscuro e estranho. me matando com meus próprios pensamentos, vivendo num mundo em que viver dentro de mim era praticamente um esforço. é claro que não vai ser fácil, mas devagar, andando de frente, com aquela esperança que a gente sempre acaba tendo numa ponta ou outra de você, por mais cética que se seja. não é aquela baboseira de ' quem acredita sempre alcança.' mas são atitudes que você sabe que farão o seu destino, esse que você escreve dia-a-dia, pelo menos tentar fugir dessa coisa de azar, desse troço estúpido de ficar achando que vai ser sempre azar e azar. alguma ponta de pessimismo sempre resta. alguma coisa em mim vai sempre achar que eu posso estragar tudo, ainda. afinal foram anos estragando tudo. mas caminhando a pé, londrina debaixo dos pés, a vida ai por aocntecer, mil coisas boas, vou tentando fugir do azar que me resta. caminhando, cantando e seguindo a canção.

[ e se você puder me olhar ]

e se você puder prestar atenção em mim. não nessa que eu costumava aparentar. não nesse personagem estúpido. não nessa que você quer que eu seja. mas se você puder me olhar, por dentro, de verdade. fazer um esforço pra enxergar as coisas que ninguém quis. se você tentar entender meus comportamentos antes de me julgar. se você simplesmente aceitar.

[ se você quiser me achar ]

se você fizer um esforço pra me encontrar mesmo nas vezes que eu me escondo. se você tentar me entender nas entrelinhas. nas coisas que eu não falo, mas sinto. nos meus pequenos gestos, nas minhas tentativas muitas vezes frustradas de mostrar o quanto eu me importo. eu estarei aqui.

[ e se você trouxer o seu lar ]

E se alem de tudo isso, você trouxer com você todas as coisas que você é, pra que eu possa te conhecer de verdade. todas os comportamentos muitas vezes estranhos. os segredos que a gente não conta. todas as linhas. as coisas que você gosta e detesta. as coisas com que você mais se importa. as coisas mais importantes pra você; seus pequenos valores. sem se importar se os outros dão a mesma importância pra tudo isso. só trazer, só mostrar.

[ eu vou cuidar, eu cuidarei dele. eu vou cuidar do seu jardim ]

eu prometo que eu cuido de você também. que eu te ajudo quando você precisar, e quando~não precisar também. que eu estarei aí, ora todas as coisas, e não só pras boas como todo mundo costuma fazer. eu estarei do seu lado pra caminhar sem rumo, ou pra aquele problema sério. pras coisas mais simples e pras mais complexas. pras suas supostas idiotices. eu cuido de você, e do seu jardim.

[ Eu cuidarei do seu jantar ]

e não só cuidar, eu ainda farei todo o esforço para que você permaneça bem. não só psicológicamente, mas eu também prestarei atenção nas pequenas coisas, como se você está se alimentando direito. eu me preocuparei com você em todos os aspectos, e eu te faço o jantar quando você estiver com fome.

[ do céu e do mar ]

mas não só das suas coisas, ou das minhas. eu também continuarei me preocupando com um mundo. com o lugar ao nosso redor, com céu, com o mar, com todas as coisas que não são minhas, mas fazem parte do meu mundo. eu ainda continuarei cuidando do mundo, porque essa sempre foi a minha função. porque eu não sei viver de outra maneira, porque eu tenho que me preocupar com o que está a minha volta também. as outras pessoas, o mundo em que a gente vive. eu ainda faço um esforço pra que um dia tudo isso melhore.

[ e de você e de mim ]

e acima de tudo, eu cuidarei de mim, pra que tudo continue no lugar certo, para que os cegos do castelo não me encontrem mais. para que eu não sinta mais vontade de dormir. para que eu queira que o sol continue me esquentando e não espere que revólver nenhum venha a explodir. para continuar caminhando devagar a procura de todas as coisas que eu necessito. e principalmente esperando as pessoas pra quem eu possa me mostrar de verdade, ser transparente e não precisar mais fingir, ou usar meus espinhos já tão amigos há tanto tempo; eu cuidarei de mim para que eu continue bem. e acima de tudo, eu cuidarei de todas as pessoas que estão comigo na minha vida, que fizeram um esforço pra me olhar de frente, pra me achar mesmo quando eu estava perdida e me confiaram também o jardim delas pra que eu cuide, assim como eu confiei o meu jardim a elas. delas eu cuidarei, e farei o jantar, enquanto a gente discute sobre o mundo, o céu, o mar e coisas mais desimportantes.


dos cegos do castelo - de toda a a depressão, incompreensão, pessoas insensíveis, relações de interesse, dias calada, gente que não te ouve, gente que só finge se importar, desrespeito de opinião, farpas que me machucam e relações superficiais -me despeço definitivamente e vou a pé até encontrar um caminho e um lugar pro que eu sou, e caso alguem realmente resolva me olhar, não superficialmente, mas para me entender e resolva também se abrir eu prometo cuidar do jardim, do jantar e de você e de mim. Pra que o jardim floresça, pra que a gente continue vivo e para que a relação - amizade, amor - não morra. nunca.

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