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21.12.09

O infinito não existe.

( e nada muda quando marte encontra saturno)

O infinito não existe. Você me disse isso numa das nossas inúmeras conversas. Dessas que a gente teve há algum tempo que nem existe mais. E eu concordei com você, cética que sou, ainda que acreditasse no nosso infinito. Nossa história era bonita. Todo mundo tem uma história bonita pra contar se puxar bem pela memória e você era a minha. Toda vez que eu precisava de uma história bonita pra contar pra alguém, recorria a nossa biblioteca particular. Eu nunca fui muito de ter histórias bonitas. Sempre fui malfeita. A malfeita das histórias inacabadas. E histórias inacabadas não são bonitas. Exceto as que se tornam infinitas. Mas todas as minhas histórias tinham sido inacabadas porque eram malfeitas. Ficaram sem final, mas nunca foram infinitas.

Infinito era você. Infinito e minha história bonita. Aí era assim até enquanto eu pude me lembrar. Nasceram flores, jardins, e todo esse lugar comum que todo mundo sabe. Eu deixava você construir um castelo pra você, ou qualquer outra coisa, mesmo que pra isso você tivesse que quebrar todas as minhas coisas. Tudo em você era lindo, e renascia. Renascia em mim, então fazia bem. Pra te deixar do meu lado eu fazia qualquer coisa, inclusive me machucar. Eu me machucaria pra te ver feliz e pra te ver perto. Ridiculamente como todo altruísmo sem volta é. Assim. E te guardando do meu lado tudo era infinito. A jarra d'água, as colheres, e teu lugar no sofá. Tudo teu, com etiquetas imaginárias marcadas e tudo. Dentro de mim, tudo teu também. Com etiquetas imaginárias e tudo. Sua música, seus filmes, seus livros, sua camiseta, seu jeito. seu, seu, seu, seu. Em mim. E só.

Depois de um tempo, tinha tanta coisa sua em mim que já não tinha como jogar fora. é assim, quando a gente tem muito de alguém dentro da gente já não tem como jogar fora. Não importa, pode acontecer qualquer coisa. E o universo pode conspirar o quanto quiser. Marte pode encontrar Saturno no dia e dizer que na casa seis tem espaço pra pessoas que querem se livrar das coisas velhas dentro das gavetas da alma, mas se a gente não quiser a gente não se livra de nada. Fica tudo lá, e depois você acha que é tudo seu. Pois daí que essa sou eu, essa mistura híbrida entre eu e você que faz uma pessoa quase admirável. Ou deveria. Ou fazia. Hoje não faz mais. Eu olho pra essa massa desforme que não é nem você nem eu e fico me olhando e tentando descobrir onde foi que você não colocou a sua mão, ou onde é que não existem partes etiquetadas com teu nome. Não acho. Nem as suas etiquetas, nem as minhas. É tudo meu. E machuca.

Talvez se eu nunca tivesse deixado você construir castelos com as minhas coisas que você desmontou, tudo teria algum jeito. Eu quis construir com os teus castelos a minha história bonita, mas não deu. Estava tudo errado desde que a eu comecei a falar que era a minha história bonita. Se fosse a nossa a gente tinha construído junto, mas a gente nem tem nada. Já teve, tinha. Eu ainda tenho um universo de coisas suas aqui, sem etiqueta e eu nem sei bem o que é teu e o que é meu. Às vezes me lembro quando sento no teu lugar no sofá, pego a tua água ou mexo nas tuas colheres. Tá escrito lá: "isso sou eu em você". E olha, eu já achei essa uma das partes mais bonitas da minha história bonita. Hoje isso é um buraco. Você não me preenche e essas coisas tuas só me lembram uma coisa: vazio. Você deixou um vazio imenso que não dói nem alivia, só incomoda. E parece não ter fim, e transborda.

Hoje eu tenho uns castelos teus aqui, uns planos, e umas lembranças grandes de fim de tarde, de noite e de começo de manhã. Me lembro de olhar em você e enxergar o infinito. Todo ele, incrível e lindo. O futuro no teus olhos. A eternidade nos teus braços. Daí hoje eu te olho e penso em você me falando que o infinito não existe. Concluo: não existe. E nem saturno encontrando marte na casa nove é capaz de mudar isso. O universo, os astros, qualquer coisa infinita assim não muda nossa história. Eu te digo, a gente acabou, e você estava certo. O infinito não existe (em nós).

17.12.09

O circo.

Casa verde, portão aberto, vejo a frente um deserto.
(Até o circo chegar).

Pai, mãe,
eu vou partir, tem um circo em frente a casa. Pai, mãe, lá fora o sol é radiante, meu vestido esvoaçante tem um corte.



Um grande beijo, um abraço forte.
(Eu vejo o sol pela janela).

.Das coisas que me fazem nostalgico-felizes, essa é uma delas. E compartilho.
Penélope - Circo.

Saber amar.

"A crueldade de que se é capaz, deixar pra trás os corações partidos. Contra as armas do ciúmes tão mortais, a submissão às vezes é um abrigo. Saber amar é saber deixar alguém te amar.
Há quem não veja a onda onde ela está, e nada contra o rio. Todas as formas de se controlar alguém só trazem um amor vazio. Saber amar é saber deixar alguém te amar.
O amor te escapa entre os dedos, e o tempo escorre pelas mãos. O sol já vai se por no mar.

Saber amar é deixar alguém te amar."
(Hebert Vianna - Saber amar)

Porque às vezes certas coisas me dizem mais do que eu mesma.

16.12.09

Rock meu amor.

"e o divertimento está no início, falamos a mesma língua e sabemos o que queremos ser"


Faz pouco tempo desde que eu disse, ou escrevi – ou melhor mesmo seria apontar: guardei para mim – a beleza dos balões coloridos que te amar fazia nascer em mim.

E era simples assim: balões coloridos. Uma centena deles descendo de um prédio alto e colorindo a cidade toda – cinematográfico.

Tenho pensado em você, meu pensar aleatório em você que não conheces. Mas vou te contar. Tem um pensar aleatório em você que me atinge em horários inoportunos todos os dias, o dia todo.

E penso em você em camisetas verdes, pretas, azuis marinho ou beges. Penso em você em todas as cores e todas as suas cores me atingem inesperadamente. Uma paleta toda de cores e pensamentos que são só seus – exclusivamente.

E pensar em você é como aquelas propagandas bonito-bregas que aparecem vez ou outra de operadora de celular. Música calma e alegre e alguém andando e percebendo toda a beleza bonito-brega existente no mundo. E brotam palhaços, cores saturadas, balões coloridos pelo céu. Minha beleza infantil de te amar. Rock anos 80, meu estilo, sua sobriedade e meus óculos escuros imaginários te refletindo.

Sua camiseta verde-amarelo, meu amor você é tão bonito. Reflete em mim toda a beleza do universo, todo infinito e com você eu voaria por aí por quarenta e nove céus diferentes e outras e outras e o mundo todo.

Eu tenho um milhão de versos escritos “eu te amo”. Porque no fundo é simples assim, eu te amo e você faz caírem balões infinitos de cima da minha sacada. Exatamente do tanto que eu te amo – infinitamente e lindo.

"andcoolkidstheybelongtogether"

Melosidades oasionais em colsultórios médicos.

"last saturday we had chocolate. I belive in your love and I only wait"

Mesmo dentro da espera fria do consultório, da tarde que se mostra fria, quase nublada. Dentro do meu sono, meu cansaço, minha desexatidão. Ainda que eu conte com a eternidade dos dias – enormes, tristes, cansativos, todos iguais. Mesmo que haja dentro de mim uma confusa desilusão e que eu lute diariamente do exato momento em que acordo contra meu vicio de desistir e deixar tudo pra trás como copos quebrados no chão cujos cacos só cortariam a mim mesma. Ainda que eu lide com meus vazios inevitáveis, meus pedaços infinitos recobertos de um nada mais que imenso e ainda que tudo pareça inexato e confuso – quebra cabeça faltando uma peça. Existe uma beleza, uma beleza inexata que só existe nas coisas reais. A beleza das coisas pequenas. A beleza que só existe pra mim. A sua. A sua beleza vestida de camiseta preta, calça jeans e tênis. Simples. Simples como o seu sorriso, o sorriso-mais-bonito-do-mundo que torna todas as coisas pequenas e suportáveis.

13.12.09

voce em mim.

pensei então na sua jarra de água dentro da minha geladeira. Assim, enquanto fui pegar alguma coisa que não era água pra matar a sede. Coca cola, água de coco, a sua soda limonada. Qualquer coisa que não água, o liquido que eu passo dias e dias sem tomar e que você sempre diz que vai me matar dos rins - com um certo sarcasmo cuidado que eu costumo compreender (e gostar bastante). Alguns passos pra cozinha e é sempre assim desde que você se foi. Abrir a geladeira e ver a sua jarra de água lá. A sua água com gosto de velha, de jeito de quem não tomou. e tomo as vezes do líquido que vai me curar dos rins e sinto gosto amargo de velho - ausência. Sua jarra na minha geladeira quer dizer isso, ausência. A sua. A sua jarra vai sempre continuar lá, dentro da minha geladeira, assim como vão exisitir cento e cinquenta coisas suas aqui dentro de mim. inevitável.

30.11.09

Ele se foi.

(mas ele volta)

Ele foi embora. E pela primeira vez desde a primeira vez ele não foi embora pra voltar daqui duas semanas, ou daqui dois meses. Ele se foi. Sem natal, ano novo ou final de semana bonito a ser. Porque a gente assim decidiu. Dizem que quando a gente escolhe as coisas as decisões são mais fáceis e eu juro que acreditei nisso, mas dessa vez não foi verdade. Porque ele se foi. E com ele indo não há parte nessa equação que seja balanceada de um jeito que valha completamente a pena.

Um dia eu achei que valesse. Já pensei em organizar futuros, filhos e tardes de domingo sem ele. Hoje quando eu o abracei não querendo deixar ele ir, eu não quero mais. não por enquanto, não por agora. Dizem que a gente só dá valor as coisas quando perde e talvez esse seja o clichê mais ridiculo e verdadeiro do mundo. Hoje eu abracei o cara não-mais-perfeito-do-mundo como quem queria deixar uma partezinha dele comigo. Ou uma partezona. Ou ele todo aqui comigo do meu lado pra gente voltar pra casa, sentar no sofá e assistir tv. Assim, simples assim. Só sentar e assitir a novela das oito, como milhares de outros casais casados há trinta anos. Mas daquele jeito que é só nosso. Do jeito dele de assistir novelas comigo. Do jeito dele de ter aprendido a ser comigo. Do meu jeito de explicar histórias pra ele. E porquês. Do nosso jeito de tomar refrigerante e comer salgadinho vendo tv.

Se esses fossem de fato, se forem, se tiverem sido nossos últimos quatro dias, não teria jeito melhor de ter terminado qualquer coisa que seja. Todos os nossos dias tiveram gosto daquelas duas horas que a gente passou hoje de manhã. Daquele jeito bonito que é só nosso, de ser infantil e de ficar ali, só por estar. Eu ficaria vinte e sete anos ali no lugar seguro que é o abraço dele. porque ali eu o amei tanto que deu vontade de gritar. e gritei. porque com ele eu posso ser eu mesma. essa, assim, essa criança grande que eu sou. essa criança grande que ele sente maior orgulho de ter do teu lado, me fazendo ter o maior orgulho do mundo de estar do do lado dele.

Mas daí ele se foi. e se foi junto com ele nossa segurança. primeiro foi ele ficando com medo, e desesperando. Depois fui eu. eu que abracei ele querendo deixar todos os pedaços dele comigo. querendo deixar aquele onibus dali e alugar um quarto e sala nosso pra gente morar pra sempre. eu, ele, e nosso jeito de assistir novela, nossos lugares em londrina e nossa vontade de assistir programas toscos. tudo dele em mim, e tudo de mim nele. mas mesmo assim ele se foi. se foi deixando um controle, tres jogos, um negocinho de arroz, uma caneca e mil e vinte nove lembranças desses dois anos que passamos juntos. ele se foi levando com ele um tênis meu,um corte de cabelo estranho que eu fiz e a lenbrança da nossa primeira e última chuva juntos. com um guarda chuva quebrado a gente ali debaixo do relógio. ele leva com ele uma mochila cheia de lembranças (assim eu espero, e eu espero trinta e sete mil mochilas de lembranças minhas) e deixa comigo outras milhares de mochilas de lembrancas. e quartos, e salas, sofás, videogames, comidas, dias, pensamentos [...]

Ele se foi. E deixou comigo um parte dele. E levou com ele uma parte de mim. Uma parte grande, quase um infinito. Quase um buraco negro. Que a gente entra e não acaba. não acaba nunca. Uma parte sem fim. Um monte de partes. Balões da casinha do sr fredericsen em numero de partes. Ele se foi, mas prometeu que volta. jurou, jurou de coração. E eu espero sentadinha pra que a gente complete nosso caderno de aventuras. Porque eu amo ele, e não vou deixar ele ir.

21.11.09

Esse sim é pra você.

"...Olha, eu estou com saudades e eu gosto muito de você. Assim, um monte bem grande. Quase uma montanha. Uma montanha difícil de escalar em que tem gente morta congelada pelo caminho. Uma montanha dessas, bonitas, que quando a gente chega lá no alto acha que vai poder pegar as nuvens com a mão, que nem algodão doce. (tu pensava que podia pegar as nuvens com a mão se chegasse bem altão? eu pensava, e pra mim, elas iam ser que nem algodão doce)..."


Pro nosso amor que é (era, foi, vai sempre ser?) bem bonito, quase um pôr do sol no lago depois de um piquenique, de tão bonito.

20.11.09

What if

Foi quando eu descobri que ficar sem você não é como perder o braço direito, ou o esquerdo, ou qualquer parte que seja do meu corpo. Estar sem você é um fato, talvez não ainda consumado com o qual eu vou me acostumar tendo a certeza que as coisas que nunca aconteceram nunca nunca serão como algum tipo de realidade. É mais real cru e fascinante, e sempre vai ser. Sendo assim, pode ir sem me explicar como eu faço se eu te perder, porque eu acho que eu já sei e é bem fácil na verdade: continuo.

Vai, garoto e volta quando (e se) quiser.

11.11.09

trechos bonitos do que já foi.

(trechos da história que eu inventei)

[...] " Você tem uns olhos de ressaca sem nunca beber e se veste tão bem que às vezes eu fico vontade de fazer bonequinhas com as suas roupas pra um dia dar pros filhos que eu sei que nós não vamos ter juntos. Eu fico te olhando tão completa e baixamente e fico pensando o que aconteceria depois de uns três copos de vodka barata com limão e muito açúcar. será que assim você ia ter por súbito a vontade de me pegar pelo pescoço e me beijar ou simplesmente deitar no meu ombro e dizer, fica comigo, só essa noite, eu gosto taanto de você...?" Ela não conseguia parar de pensar nisso enquanto encarava os olhos castanho-escuro de matheus a olhando fixo. " Três-copos-de-vodka.. Por súbito.. gosto taaanto de você...". A boca dele se mexia enquanto os olhos meio que riam pra ela, mas tudo o que ela conseguia ouvir era aquele trecho dito pelos mesmos olhos que riam e a boca que mexia há três dias atrás. " Vodka-Pescoço-so essa noite-Gosto taanto". Não dava pra pensar em outra coisa.
- Lu..
- Claro.
- Claro o que, Luana?
- Não sei, Matheus. Acho que eu tava viajando.
- Err, Estranha. Você está sempre viajando. Viajando e rindo sozinha.
- Rindo das coisas que eu lembro que você disse.
- Rindo porque você é triste, Luana.
- Também. Você, você é feliz?
- Ninguém é.
- Alguém deve ser. Não a gente, mas alguém. Não sei, tem uma gente que ri de dentro. Uns casais que saem por aí de mãos dadas e a menina não parece estar fingindo o sorriso. Tem sei lá, umas pessoas que são felizes. Eu não sei porque, mas tem.
- Ou elas fingem.
- Ninguém consegue fingir o tempo todo. Tem gente que não tem esse traço de tristeza no fundo dos olhos, que nem eu e você.
- Eu tenho traço de tristeza no fundo dos olhos?
- Tem. Quando pára e fica olhando subtamente pro horizonte. sabe, você para e fica olhando. Depois me faz algum comentário melancólico. Ou simplesmente diz " ê, luana." e me dá um tapinha. Eu juro que eu fico com vontade te abraçar nessas horas, mas eu só te olho e digo " ê, gênio." e a gente ri. A gente ri de novo porque a gente sabe que é triste.
- Eu nunca sei o que te dizer quando você me diz essas coisas.
- Eu nunca sei o que te dizer.

...

- Você percebeu?
- O que?
- Aquela estrela grande lá.
- Venus, Matheus. Não é estrela, é planeta.
- É bonito.
- Eu achava que dava pra fazer pedidos, quando eu era pequena.
- E o que você pedia?
- Geralmente uma idiotice. O menino que eu gostava.
- E hoje, o que você pediria?
- Pra ser feliz.
-O menino que você gosta.
- Isso é ser feliz?
- Não, mas é um começo.
- O que você pediria, Matheus?
- três copos de Vodka com Limão e muito açucar.
- Me passa o vinho, vai.


- Sabe, eu não pediria nada pra estrela.
- Nada?
- Não. Felicidade deve ser isso daqui. Isso, você, vinho barato e essas conversas que vão de filosofia à quadrinhos em meio segundo. Tudo, e umas estrelas pra acompanhar.
- Está finalmente admitindo que eu sou uma boa companhia?
- Eu não, o vinho deve estar.
- Você nem bebeu, Luana.
- Eu sei, mas você já me viu admitir alguma vez que eu gosto de você?
- Não.
- Então, não vai ser agora, gênio.
- Podia. Vodka, sabe?
- Não quero falar sobre isso.
- Você tem medo, Luana?
- Tenho. de tudo, você sabe, montanhas russas...
- ... e tudo que possa tirar os seus pés do chão.
- Exatamente.
- Eu tiro seus pés do chão?
- Totalmente.
- Mesmo?
- Matheus, o que mais você acha que me faria sair de casa, sábado, dez de noite, dirigir até o mirante pra olhar estrelas e tomar vinho ruim no copo de plástico?
- Vontade, espírito aventureiro?, gnomos?
- Você.
- Era a quarta opção, você nunca me deixa terminar nada.

....

Eu sempre gostei de você.
- Isso era inevitável.
- Desde a primeira vez.
- A primeira?
- Na primeira frase eu sabia que era você.
- Eu sempre soube.
- Deixou de saber um dia?
- Eu tive medo.
- Eu ainda tenho.
- Medo de que exatamente, Luana?
- De tudo, sempre fui medrosinha.
- Você tem medo de mim?
- De você não, do que você causa em mim.
- Raiva?
- Pior que isso.
- É nessa hora que eu presumo que você me ama?
- Se a gente fosse convencional, sim. Mas eu nunca vou deixar.
- Nunca vai deixar o que?
- você ter certeza que eu te amo.
- O que você quer dizer com isso?
- Que eu nunca sei o que te dizer, Matheus.

- Amor de verdade é o pior sentimento do mundo.
- Luana, para de ser fria.
- É o pior sentimento do mundo.
- Por que voce diz isso?
- Porque quando você ama alguém de verdade isso faz com que a pessoa tenha um certo direito de fazer qualquer coisa com você. Amar de verdade significa nunca mais deixar de amar, apesar de.
- E tudo isso quer dizer que você não pode admitir que me ama porque você me ama de verdade?
- Eu uma palavra pra você entender: vulnerabilidade. Não gosto.
- Vulnerabilidade signfica?
- Você fazer a pior piada do mundo, eu rir e querer te abraçar.
- Isso não é o significado de vulnerabilidade.
- No meu mundo é.
- Seu mundo sempre foi todo estranho, luana.
- No meu mundo você meio que reina, então além dele ser estranho só eu vou querer morar nele.
- Eu vivo no seu mundo?
- Não, você é o cara que recria ele todos os dias. E que pinta ele de aquarela e nanquim.
- Provavelmente é o mundo mais bem desenhado de todos os mundos.
- Não.
- Não?
- Não, mas eu tenho um puta orgulho dele ser como ele é.

- Você namoraria comigo?
- Agora.
- E depois?
- Depois eu não sei.
- Como assim?
- Depois que eu aceitasse nosso namoro ia deixar de ser como eu penso que ia ser. Realidade frustra as pessoas, cara.
- Depressiva. Quer um chocolate?
- Besta.
- Eu já te disse como eu imagino.
- E eu concordo com você. Mas isso a gente já faz, só que sem os beijos. Coloca relacionamento, compromisso na parada e a gente pode estragar tudo.
- É disso que você tem medo?
- Não.
- Do que é então?
- De te perder. Eu tenho medo de te perder até quando eu ainda não te tenho.
- Como assim?
- De te perder de mim. Que um dia que olhe pra você e te veja irreconhecível.
- Lu, para, isso nunca vai acontecer.
- Você está mudando já. Gradativamente. E disso que você se torna, eu não gosto.
- Eu estou te decepcionando?
- Lembra daquilo que eu disse sobre amor de verdade? Você nunca me decepciona. Mesmo quando decepciona.
- Se tu continuar comigo eu não vou ter como me perder de você.
- Eu sempre vou continuar com você. Mas essa não é a questão.
- Qual é a questão então?
- A questão é se você vai continuar comigo.
- Eu sempre continuo, não continuo?
- Se isso de você voltar sempre é o que você chama de continuar, então sim.
- você se incomoda com isso, não?
- Não, eu só me incomodaria de fato se você não voltasse mais.

- Eu te machuco, luana?
- Você me dói.
- Isso quer dizer que eu te machuco, não quer?
- Quer dizer que você me dói.
- E doer não é machucar?
- Não, gênio. Doer é sentir.
- Você me sente?
- Você me dói em todos os meus pedacinhos.
- E isso é ruim?
- Isso só quer dizer que você vive em mim.
- Em você é um bom lugar pra se viver.
- Você não sabe.
- Não?
- Não, porque eu sei que você vive em mim, mas você ainda não se sente vivendo.
- E como a gente sabe a diferença?
- Eu pra você sou externa, e pra mim você vive dentro.

....

- gosto do seu jeito aleatório.
- Quero encostar no teu joelho e dormir no teu ombro.
- É disso que eu estou falando.
- Eu sempre quis.
- sempre quis o que, luana?
- Encostar no teu joelho e deitar no teu ombro. Faz uns meses que é nisso que eu penso enquanto eu te olho.
- Só nisso?
- Não, em em universo de coisas.
- que universo?
- você.
- eu não te entendo.
- minha atual definição de universo: você.

...

- Eu sempre gostei de você, sua besta.
- Você sempre me considerou pra caralho. Gostar é uma coisa diferente.
- gostar para luana significa?
- vou saber.
- gostar para matheus significa?
- considerar pra caralho.
- isso não quer dizer nada.
- Eu te amo.
- Isso também não.
- E o que quer dizer alguma coisa pra você?
- O que você faz, não o que você diz.

- Encosta no meu joelho, dorme no meu ombro.
- eu faria isso todos os dias da minha vida.
- Eu não ia deixar.
- Tu nem gosta de mim.
- não, é que num mundo justo a gente revezaria.

...

- É uma relaçao de duas pessoas que se amam. A gente só não se beija.
- você não me trata como sua namorada.
- Mas te dou todos os direitos de você me tratar como se fosse o seu.
- De fato.
- Concordando comigo, luana?
- Não, é que esse foi um direito que eu institui.
- Você?
- É, desde sempre. Você só me permitiu.

...

- Não, eu só sei que a gente nunca vai deixar de se amar.
- Por que isso?
- Por causa da sua definição de amor-verdadeiro: amar de verdade significa nunca deixar de amar apesar de.
- Agora o quer você sente por mim é amor de verdade?
- Eu sempre chamei de "puta consideração"
- Porra, que nome sem romantismo.
- Mas significa a mesma coisa.
- E como você tem certeza que a gente nunca vai deixar de se amar?
- Foi um direito que eu institui, você só me permitiu.

- Um copo de vodka com limão e muito açucar, matheus.
- você disse que não ia precisar disso.
- só se eu tivesse certeza que você gosta de mim.
- E tá, você não tem?
- não, eu sempre soube que você gostava de mim.
- E porque nunca fez nada?
- Porque não precisava.
- E agora precisa?
- Precisa da vodka.
- Pra quê?
- Pra eu pegar no teu pescoço e te dizer que eu gosto tanto de você.
- você já me disse isso.
- Quando?
- Inúmeras vezes.
- De fato.
- Só que sem dizer.
- E como a gente fica?
- Juntos.

- você é meu namorado então?
- sou, prazer.
- prazer.
- posso dizer pra todo mundo que você é meu?
- isso todo mundo sempre soube.
- achei que você nunca ia admitir.
- Eu sempre admiti, garotinha, você que nunca quis se convencer.
- Eu tinha medo de te perder.
- Você nunca vai me perder.
- Amor de verdade?
- puta consideração.

....

( a vida é bem mais fácil na literatura.)

8.11.09

pra sempre (?) meu.

você sempre foi meu. desde que eu posso me lembrar, você sempre foi meu. você existiu pra mim sendo meu garoto, meu garotinho. meu grande, enorme, completo garotinho. você sempre foi meu. mesmo quando não era, você sempre foi. e assim sendo, eu nunca tive o que temer. podiam passar alguns dias, alguns vários dias, mas você sempre ia voltar pra mim e eu ia voltar pra você. era um acordo mútuo assim traçado. a gente nunca mais vai se largar. nunca mais. e podiam passar tempestades e eu podia viajar de balão por todas as cidades que eu quisesse que quando eu voltasse, você estaria lá me esperando. me esperando de braços abertos e com o sorriso-mais-lindo-do-mundo. e eu estaria assim pra você também. você podia se perder por aí como você fazia de vez em quando, mas eu sempre te entendia e deixava um café pronto e forte pra quando você voltasse. só pra você nunca se perder de mim, e aprender que mesmo que se um dia não souber mais pra onde ir, você ia sempre poder voltar pra mim. pra sempre.

mas a grande verdade é que você nunca foi de vez. eu até estou tentando pensar um dia que você tenha ido realmente, mas esse dia nunca aconteceu. Daí a gente só pode tirar a grande verdade do universo, ou a grande verdade da nossa história, como você quiser. você nunca deixou de ser meu, mesmo quando deixou. houveram umas vezes em que você resolveu que ia passar um tempo em outros lugares. você já gostou de outras garotas, é verdade. você quis namorar outras garotas, e todas elas foram e voltaram, mas sem mim você nunca deixou de estar. eu te deixava ir, mas porque eu sabia que você ia voltar pra mim. porque eu sabia que você nunca na verdade tinha se desligado de mim. e eu estava lá, como alguém que te deixa trilhar os próprios caminhos, mas só pra não te deixar desviar da rota certa. eu sempre fui sua rota certa. você podia ir pra qualquer lugar, que no fim das contas era pra mim que você voltava. era comigo que você sempre esteve, você lembra? você ainda lembra que eu te dei colo em todas as vezes que você fez as decisões que eu sabia que iam dar errado e voltou pra mim, dizendo que não estava bem. eu só te deixava ir porque você precisava aprender, mas eu também só te deixava ir porque eu sabia que você ia voltar. e ia voltar pra mim, porque na verdade você nunca tinha ido. você só tinha ido dar uma volta, provar outros ares, mas só pra me contar depois como tinha sido e me dizer que tinha sentido minha falta em alguns pedacinhos da viagem.

Tu ainda te lembra daquela vez que mesmo quase-apaixonado você quase desistiu de tudo por mim? tu ainda te lembra que eu sempre fui teu porto seguro? tu ainda te lembra que eu um dia fui teu ideal de garota? tu ainda te lembra que na verdade você sempre esteve comigo? garoto, você sempre foi meu e eu sempre fui sua. sempre. mesmo quando não fui, eu sempre sempre fui sua. desde o primeiro dia. desde o dia em que você me cativou que eu sabia que eu ia ser sua pra sempre. mesmo que náo fisicamente. eu ia ser sua. podia estar sendo de outros caras, podia ter vinte e sete namorados, mas ainda sim, eu ia ser sua. porque eu nunca fui de mais ninguém. não depois de te conhecer.

mas hoje alguma coisa estranha acontece e pela primeira vez eu tenho medo de que você vá e não volte. que em alguma parte sua, você tenha esquecido que você sempre foi meu. e então resolva ser dela. dela, dela que não tem um tico que seja a ver com você e que vai ter que aprender a lidar com todas as coisas que eu já sei. com todas as coisas que eu já aprendi. tenho medo que você aprenda a ser dela, dela que não sabe o jeito de adoçar teu café ou os livros que você possivelmente vai gostar. dela que não sabe que você tem na verdade quinze anos e que sonha com alguém pra ser sua, e pra ser sua pra sempre. dela que ainda não sabe o jeito que você prefere os seus lanches e nem o que você faz aos domingos, e nem o que você fez a sua vida toda, e nem o que você poderia querer fazer, antes mesmo de você mencionar. tudo isso eu sei, tudo isso eu aprendi enquanto você era meu e eu nem percebia. porque você só era, e assim era como se você tivesse sido assim sempre. nunca houve um jeito de existir que não fosse você sendo meu. nunca. e então eu nunca soube imaginar que um dia pudesse haver. e então parece que há, e eu tenho que te dizer que eu nunca senti tanto medo assim na minha vida. como é que eu vou viver sem ter você pra mim? me diz, me diz se você conseguiria viver com um vazio do tamanho do universo inteiro pra lidar. com todos os sábados da sua vida e todos os restos dos outros dias sem cor. só me diz se você ia conseguir viver sem seu braço direito, porque você é meu braço direito, e o esquerdo, e todo o resto do meu corpo. e eu nasci com todas essas coisas, então nunca imaginei como seria viver sem elas, mas eu sei que ia doer. eu também nunca me imaginei viver sem você, porque até agora você era meu e olha, se você for embora eu só sei que vai doer de um jeito que eu não sei nem explicar como vai ser porque é uma dor que eu nunca senti. e olha, eu não quero saber. porque deve ser alguma coisa bem perto de morrer ou de perder um braço. ou perder o corpo todo. ou seria como viver vendo tudo preto e branco pra sempre, sem nenhuma corzinha que fosse. sendo de qualquer jeito ia doer muito e ia ser bem sem graça. então olha, continua sendo meu. não vai ser esforço nenhum, já que faz um tempão que você já é meu. e aí eu prometo que eu continuo sendo sua, porque eu nem sei ser de outro jeito. mas caso você tenha mesmo que ir e me deixar sem meu braço direito, sem minhas cores e com um vazio do tamanho do universo, só te lembra que eu ainda vou ser sua, se um dia você quiser voltar. porque eu sempre vou ser sua, mesmo quando não for. agora, antes de ir só tenta me explicar o que eu faço se eu te perder, porque eu juro que não sei.

30.10.09

só não se perca de mim.

(para ouvir ao som de Warning Sign - Coldplay)

"...Come on in

I’ve gotta tell you what a state I’m in
I’ve gotta tell you in my loudest tones..."

Sempre foi você. desde que eu possa me lembrar, sempre tem sido você. A pessoa pra quem eu quero dizer, gritando, sorrindo abrindo a boca o que aconteceu, o que vem acontecendo comigo. Meu sempre não é tão velho assim, mas desde que eu te conheci eu tenho a sensação de eternidade que eu sempre procurei. vinte e nove horas ineterruptas seriam se eu precisasse, se você precisasse. quarenta e nove. seu número da sorte que eu nunca soube qual era. o tanto de tempo que fosse necessário. eu estaria com você o tempo que fosse necessário. e você estaria comigo. esteve. está. está (?)

Está. nunca mais do jeito que era antes, nunca mais minha cumplicidade com você. nossa complicidade, eu e você, nós. Agora você me visita às vezes quando por subto lembra de mim, não sei se por vício ou por mania. às vezes quer saber como eu estou, tanto faz. às vezes nem liga. e eu podia despencar na sua frente que você não me estenderia a mão. depois me aparece com seu sorriso, o seu sorriso, as suas piadas, o seu jeito e fica triste por mim. depois não me responde mais, desiste de se preocupar. queria te entender. queria voltar a.

Tinha uma cadeira. na minha frente tinha a sua cadeira de lugar cativo. pra sempre sua. pra-sem-pre. com o peso da eternidade, exatamente assim, com a leveza dela. e você poderia passar dois dias, um mês, e cinco anos que ela ainda estaria lá. pra quando você quiser, quisesse. toda sua. você senta, eu te ouço, a gente faz silêncio. você me conta seu universo de coisas, ou você não me conta nada, mas a gente faz nascer flores coloridas nesse jardim que é meu, seu, nosso. suas banalidades, seus sonhos grandes pro futuro e o que você pensa da vida. na sua cadeira. só sua, pra-sem-pre sua.

Faz algum tempo, pequeno tempo desde que você não ocupa mais a sua cadeira. E eu fico te esperando com um café forte e pensando em te dizer que tudo vai ficar bem, não importa o que esteja acontecendo, tudo vai ficar sempre bem, e mesmo que não fique você vai ter a sua cadeira ali, e mesmo que não queira a sua cadeira vai ter um espaço no meu coração. sempre teve, desde sempre, desde o nosso sempre sempre teve.

Não queria nunca me perder de você, assim, usando todos os extremos estranhos, queria te ter pra sempre pra não perder nunca mais. E eu não sei se você sabe, mas eu nunca fui uma pessoa de sempres ou nuncas. E sim de talvez. você me ensinou a ter certezas, a querer bastante, e a não querer nunca mais. você me ensinou tantas coisas que eu nunca aprenderia com mais ninguém, ou talvez aprenderia, mas não teria tanta graça.

("...You came back to haunt me and I realized
That you were an island and I passed you by
And you were an island to discover...)

Eu só queria que você soubesse que eu sinto sua falta, e sinto então vontade de te invadir numa tarde de quinta feira e te dizer todas as coisas, as minhas coisas que eu sempre quero te contar. queria te despejar meu universo, queria voltar a ter a minha cadeira na sua frente e voltar a desvendar todas as coisas que eu já tinha descoberto, essa sua transparência meio rude. E então eu posso te dizer que você pode ir para qualquer lugar, e pode passar por todas as ilhas do oceano pacífico, e realizar seus setenta e sete sonhos, se vestir do jeito que quiser, com quarenta cores diferentes e conhecer milhares de pessoas que tenham mais afinidades com você do que eu e sentar nas cadeiras delas, se elas assim desejarem, eu só te peço uma coisa, não se perca de mim.

(...When the truth is, I miss you
Yeah the truth is, that I miss you so
And I’m tired I should not have let you go...'")

Não se perca de mim pra que eu não me perca de mim, porque desde que eu te conheci eu sou uma pessoa melhor, uma pessoa mais viva, você é pessoa mais iluminada que eu conheço. Você, o seu sorriso, sua risada alta e seu abraço desajeitado. Dê uma volta no mundo, e se quiser até se perca por um tempo longe. Só saiba que a sua cadeira vai estar aqui pra-sem-pre e enquanto você estiver fora você vai ocupar maior ainda seu espaço dentro de mim, e me invadir de faltas, ausências lembranças. Faça o que quiser, só não esqueça de voltar, porque eu sinto (tanto) a sua falta. E quando você voltar estarei com meus braços abertos, te esperando numa cadeira na minha frente que vai ser pra-sem-pre sua e de mais ninguém. Na casa, e no coração.

"...So I crawl back into your open arms...

27.10.09

a fabulosa arte de te ignorar.

(ou a difícil arte de.)


não vou te dar oi hoje. nem nunca mais. vou te ignorar. eu vou te ignorar pra sempre. você vai passar e eu nem vou olhar pra sua cara. não vou virar. Não vou te dar oi, não vou falar que você fica bem de vermelho. não vou fazer nada pra você nunca mais. nun-ca ma-is. você não merece, não responde as minhas mensagens e nem entende as minhas demonstrações de afeto. eu vou te ver e vou fingir que eununca te vi na minha vida. nunquinha. vou fingir que você nunca me fez sorrir, que você não é a minha companhia predileta. não vou mais te fazer café, não vou mais olhar pra sua cara e nem perceber que você tem o sorrisomaislindodomundo. nunca mais vou fazer o que for pra ver esse sorriso bonito de novo. não vou. vou te ignorar pra sempre e se me perguntarem de você eu vou fingir que não te conheço. você não vai receber pequenos mini textos meus dizendo sobre as coisas que eu vi e gostei, ou odiei, ou fui indiferente. eu nunca mais vou dizer pra você os filmes que eu acho que você deveria ver e nem os livros que você deveria ler. você pode passar por mim vinte e nove vezes repetidas com neons em luz azul que eu não vou reparar. eu prometi pra mim mesma que eu vou te esquecer e que a partir de agora você não faz mais parte da minha vida. você pode estar do outro lado da rua e do meu lado do ônibus que eu não vou me manifestar. vou ficar comigo mesma, as minhas músicas e não vou ouvir as coisas que me lembram você. nenhuma delas.vou te responder grossa e secamente e não vou mais te ligar pra perguntar se você não quer vir aqui em casa, e caso você apareça sem avisar não vou deixar você pegar nada. vou fazer questão de esquecer que um dia você já viveu em mim. Não vou te dar oi hoje. nem nunca mais. ou até amanhã. ou pelo menos até você aparecer surpreendente, com o sorriso mais -lindo-do-mundo me dizendo seu oi costumeiro seguido de uma piada sem graça que eu vou rir e daí eu já vou ter te respondido sem preceber por star muito ocupada pensando (e sentindo) "meu deus como eu amo esse cara".

(ou a impossível arte de).

26.10.09

Você me irrita de tal maneira que eu nem consigo te dizer o que eu diria facilmente pra qualquer pessoa por simples medo de te machucar. Mesmo que você esteja me machucando (mais) a cada dia.

19.10.09

Decepções.

Eu só te olhei e quis te dizer. Quis, pensei e ensaiei vinte e sete maneiras diferentes de como te ferir. Rápido, lentamente. Milhares de jeitos, assim. Milhares deles.
"Você está me decepcionando pra caralho" - era só isso que eu conseguia pensar, porque em resumo era só isso que eu queria te dizer. Medo de perder aquele-cara-que-eu-conheci, sentimento-de-posse, ciúme-sem-sentido, amizade-que-quer-ser-preservada, chame como quiser mas o fato é que eu estou tão numa corda bamba por ti e por mim que eu nem sei mais o que eu te falo, faço, faria.
Afastamento.
Seria esse o nome bem vindo pra coisa que a gente deveria fazer. Afastamento real porque quando existe um afastamento às vezes ocorre uma falta e existindo a falta as coisas talvez voltem depois, melhores, quem sabe.
De você eu já não sei mais nada.
E sei tanto. E é o tanto saber que me dói porque sei exatamente que o caminho que estás seguindo pode muito bem acabar de um jeito que a gente pegue dois caminhos completamente distintos. Coisa que eu não quero nunca quis, vem aqui eu-gosto-tanto-de-você.
Mas aguentar tantas decepções não é o que ninguém quer.
E por mais que eu saiba disso, de algum jeito, assim, torto, eu também sei que o pior de tudo é saber que mesmo que ocorram sessenta e duas decepções se um dia você voltar pedindo desculpas, ou mesmo sem pedir, se um dia voltar querendo só estar por estar vai ter sempre um pedaço de qualquer coisa pra ti e o meu colo literal, real ou simplesmente metafórico pra te acolher.
Sentimento.
Sentir qualquer coisa é sempre a pior coisa do mundo. Deixaria de sentir agora, já, em cinco minutos.
Não deixaria.
Escolher o sofrimento possível no lugar da ausência, (sua) ausência, sempre, sempre sempre.
Você está me decepcionando pra caramba, muito, bastante, pra caralho, um aburdo. Você está me machucando de jeitos que me fazem parar de respirar. Eu estou te vendo ir a corda que te ligava, ligou sempre-vai-ligar (?) a mim está sendo roída por coisas que eu já não tenho mais controle. De um descontrole total, absurdo, sem nome.
Estou.
E reclamo do que se sempre fomos assim?
Você está me decepcionando tanto que eu não consigo te dizer que está sem me machucar mais do que eu te machucaria se quisesse. E isso não vai mudar nada, nada em nada, pra sempre nada porque eu gosto tanto de você (ainda que) machuque pra caralho.

Amor.

24.9.09

sobre voce não sei dizer nada meu

"podia falar de quando te vi pela primeira vez sem jeito de repente te vi assim como se não fosse ver nunca mais e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais porque de repente vi outra vez e outra e outra e enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces"

Caio fernando que eu não gosto, gostava, agora leio e acho bom tilinta na minha cabeça versos que eu grifo para um dia te dizer junto as cartas que eu não mando e um skank velho que pergunta quantos versos sobre nós eu já guardei e te juro, não sei responder e então grifo negrito atrás de negrito a frase certa para dizer isso que eu sinto que eu não sei o que é, e nunca acho nada de bom, ou acho todas as coisas boas porque eu não sei nem o que exatamente eu queria te falar, só sei que são muitas coisas e que elas nascem de dentro como um jardim todo de flores na primavera e olha, eu só sei falar de amor agora e isso eu não sei nem se eu chamo de amor, mas eu não estou falando de nomenclaturas, você está? sei que não está e eu sei que eu tento falar tão rápido quanto eu penso, me falaram isso uma vez e eu achei bonito, é verdade, me faltam vírgulas pontos respiro pausa alguma coisa que me faça eu entender, mas eu nem sei o que eu quero te dizer que quando eu te vejo nasce um jardim dentro de mim cheio das flores mais bonitas e ainda que eu não goste tanto de jardim de flores de coisas bregasclichês dizer que eu estou com saudade ligar pra isso ou até mesmo te encher de mensagens sobre as minhas banalidades cotidianas, eu queria te dizer que eu passaria o dia inteiro me contando pra ti e te ouvindo e eu quero saber de todas as linhas de detalhes que eu (ainda) não conheço e espera eu quero te dizer que quando eu te vi nasceu um jardim dentro de mim, um jardim bonito imenso enorme que se tomou como erva daninha no meu coração e agora eu posso colher flores pra vender e fazer uma feira duas tres cinquenta e sete feiras de tantas flores que você fez nascer aqui dentro e são todas flores bonitas e tão parecidas comigo que eu tenho medo, eu tenho medo de acabar o nosso jardim com ervas daninhas estranhas olha aqui eu não sabendo o que te falar de novo mas é alguma coisa mais ou menos assim alguma coisa meio eu te amo e você fez crescer em mim o mais bonito, então muda pra dentro de mim logo de uma vez, coloca a sua casa decora do seu jeito do jeito que quiser, pode fazer o que quiser que eu deixo só promete continuar fazendo nascer flores enormes que vão tomar conta do meu coração e fazer colorido todos os meus cinzas, eu sou cheia de cinzas sabia? embora voce diga que eu nasci cheia de música eu sou é meio totatalmente completamente estranha então eu estou te dizendo, muda pra dentro de mim e fica pra sempre cuidando do meu jardim que eu cuido do seu pra sempre porque eu te amo e é isso que eu queria te dizer.

23.9.09

apenas mais uma de amor.

(pequena ode da coisa de sempre que não é embalada por lulu santos).

Então sento no meu computador munida de um chá com canela. Chá de maçã com canela, mas maçãs não dão gosto em chá, exceto nos chás artificiais com aroma artificial de maçã, mas não sou adepta de coisas tão artificiais assim, você sabe. E aí na playlist do meu programa de músicas tocam músicas que me lembram você e o gilberto gil canta quem-poderá-fazer-aquele-amor-morrer-se-o-amor-é-como-um-grão. E eu nem sei se acredito em amores que morrem e nascem trigo e vivem e nascem pão, ou o contrário, alguma coisa assim, embora quem sempre troque as letras de música seja você, de um jeito sempre engraçado.

Mas então te digo que eu queria te falar vinte cinco mil coisas, mas na verdade sei que não vou dizer nada e por isso como chocolates atrás de chocolates, todos os dias. e a grande verdade é, que mesmo se eu comesse todos os chocolates do mundo pra sempre eu ainda não saberia o que te dizer exatamente, embora eu saiba bem o que eu queria te dizer se pudesse. E faz dois anos já. Que eu queria te dizer coisas. Desde que você começou a aparecer na minha casa, com suas roupas mal cortadas e que a gente conversava, ou não conversava, mas a grande verdade é que eu sempre gostei de você. desde a primeira vez. Eu não sei muito bem, e eu ouvi em alguma peça, algum dia, que isso é o que chamam de atração inevitável, mas eu nem sei se acredito nessas coisas.

A gente pode chamar de a grande afinidade, se você quiser. A gente pode chamar de qualquer coisa, na verdade. Porque na verdade isso que a gente é nunca teve nome, mas eu um dia disse pra um amigo meu que a gente só ama quem admira e eu te admiro pra cacete, é verdade, embora nunca tenha te dito isso e nem saiba se um dia vou dizer.

Então um dia te sento na cadeira na frente da minha e tento vestir minha melhor roupa, mas meu cabelo estraga toda a conjunção de pessoa bem ajeitada que eu queria ser, e na verdade eu nem sei se você repara nessas coisas. repara? sempre te achei tão visual que eu acho que repara, então eu me policio bastante pra não sumir no meio dos meninos e ser mais uma pessoa que você chama de cara, embora eu também goste quando você me trata assim, e a gente age como crianças de colegial se dando soquinhos, porque eu pareço muito com a garota de treze anos que gostava de um menino que não gostava dela, mas os astros conspiraram para que fizessem aniversário no mesmo dia e isso criasse algum tipo de proximidade louca. Isso e o fato dela ter decorado os cento e cinquenta pokemons e lhe presentear com um pikachu, certo dia. E então lembra também que ela poderia ser a garota mais compreensiva de todo o universo quando gosta de alguém, e então se doou por inteiro um dia e todos os outros dias, até que um dia voltou pra casa feliz porque passaram o dia todo de mãos dadas enquanto ele dizia "ei, vem por aqui" e cuidava dela sem perceber. Mas aquilo não significou nada, assim, em histórias normais, porque não houve beijo, ou namoro, ou qualquer coisa que pudesse qualificar o momento como relacionamento, só que mal sabem as pessoas que bonito mesmo são esses amores que ficam pela delicadeza e não pelo ato e assim foi.

E aí eu queria te dizer, enquanto te sento ali e finjo uma articulação insuitada que sempre sempre sempre dá errado coisas e mais coisas. Mas é assim, um universo de coisas. Um universo coisas tão particulares minhas e nossas que são tão grandes, tão imensas que eu precisaria de um cigarro e um conhaque nas mãos, mesmo que não beba nem fume e saiba que você odeia odeia cheio de cigarro. Mas acho que talvez nem assim falaria nada das coisas que importam e bebericaria e fumaria, e te diria que olha, a fumaça fica até bonita em contraste com o escuro do céu, ou então faria alguma piada muito sem graça e você riria, ou falaria muito alto e acabaria por sentir vergonha de mim no momento que pisasse de novo no meu apartamento e te visse da sacada indo embora.

E dessas coisas que eu não quero te dizer, e quero, mas sei que não vou, mora aquilo de te dizer que gosto de você desde a primeira linha de conversa que tivemos, faz tempo, tanto tempo. E que eu cuidaria de você pra sempre e que eu te admiro pra cacete e que junto com isso, eu viro uma quinzeanista muito ridícula falando alto, quase gritando, histérica. Dizem que amor faz a gente meio assim, faz a coisa toda virar uma papagaiada de filme de comédia romântica muito estranha e louca com direito a tropeçar nos próprios pés, e nas palavras também, porque não? sempre sempre. Você me vê cair dia após dia. E me preocupo contigo mais do que comigo e olha, senta aqui, eu vou te falar todas as coisas. Que me mordo de ciúmes, que morro de medo que mudes demais e que não seja mais aquele menino que um dia eu conheci, desajeitado e lindo e que eu adorava ver rir e que eu queria e quero, e sei lá por quanto tempo vou continuar querendo guardar junto comigo pra privar do mundo e das outras coisas todas e dos perigos que são muito e rápidos. Tenho medo de te perder, de te perder de mim, entende? quero te dizer que eu gosto de você tanto, e é um tanto que quando a gente fala dá vontade suspirar e dói por dentro uma dor estranha e rápida. Espera, senta aqui, mas eu não vou te dizer essas coisas todas não, ainda não, você sabe que eu não consigo e estou tão doente por você que passaria todos os meus dias junto com você mesmo que não falasse mais nada e a coisa toda é tão doente que eu deixaria de te amar agora, nesse minuto e tomaria minha estrada rumo à coisas mais interessantes, mas espera, você é a coisa mais interessante que me aconteceu e mesmo que me doa de dar raiva eu sei que não vou pra lugar nenhum. Vou ficar aqui, esperando, um dia você me pega pela mão e diz "ei, vem por aqui" porque no fundo você também sabe, deve saber e se não souber que bonitos mesmo são os amores que são pela delicadeza de existirem e não pelo ato, e assim vai ser.

16.9.09

Te machucar.

O fato estranho de todas as coisas passam pelos gestos ensaiados sonelemente. sempre sempre um olhar no espelho antes de saber exatamente o que fazer. eu quero te machucar. machucar bem machucado como quem enfia agulhas pontudas e finas devagarzinho em diferentes lugares do corpo. só pra sentires mais ou menos do avesso o que é isso de te amar e não querer. te amar é mais ou menos quase bem assim como enfiar agulhas devagarinho em todos os lugares do corpo. dói de doer fino e estranho e dá vontade de tirar tudo de uma vez pra acabar logo com isso. mas te amar é dor cronica sem remédio ainda inventado e quero que sintas e proves da mesma dor. a exata, a mesma.

sentirás então a minha falta quando de subito eu resolvesse então sair da sua vida como quem sai de algum lugar que não gosta? rápida e freneticamente sem dar tchau e sem deixar vestígios. e então tento todos todos todos os dias me educar de faltas de você. e é quando percebo que as faltas de você doem tanto mais em mim do que em você. não faz muito tempo desde que de algum modo estranho eu importava na sua vida tanto quanto importavas na minha. acontceu então o dia do grande desreconhecimento, sem que ninguém percebesse e hoje o que eu olho não é você. não mais. e me decepcionas esse não ser mais. Quando foi? em que data exata aconteceu de desbalancear a nossa equação e eu ser pra você tão (menos) do que você sempre foi pra mim?

Não me responderias se eu perguntasse talvez porque nem vejas ou saibas o que acontece e continues então vivendo sua vida como sempre viveu e pensando em mil maneiras de conseguir aquilo que sempre quis e então às vezes eu olho para esse irreconhecível você e tenho vontade de sair correndo porque desse você eu não gosto, nunca gostei e manteria uma distância mínima de segurança só para quem sabe assim eu parasse de me machucar (tanto).

Mas fato é que sempre soube que te amar seria assim uma tarefa difícil, uma coisa que daria raiva por três minutos e depois acabaria. Tens total controle sobre mim. Não faz muito tempo que tens, mas tens. Começou a ter exatamente no dia que eu soube que você já não era mais meu. Me prendem as coisas que não são minhas e desde então me sinto- algo que alguma palavra que termine com "ente"- totalmente, solenemente, completamente ligada à você de jeitos que já não posso pensar em desgrudar.

Queria então que sentisses metade da ausência que sinto quando não estás e metade da preocupação que existe quando acontece qualquer coisa que seja com esse você que eu considero tanto. Considero, amo, chame do que quiser mas é sen-ti-men-to. E botamos os dois os pés pelas mãos porque de sen-ti-men-to a gente nunca entendeu nada. Tu pensas que entendes e eu escrevo sobre há pelo menos cinco anos, mas saber viver o tal sen-ti-men-to a gente não sabe; Eu estou aqui pra te acudir e eu, aah, nunca teve quem me socorresse e agora tudo que eu penso é em fazer você sentir a dor que é te amar assim, que sentisses a mesma coisa por mim nisso que a gente chama (chama?) de relação.

Te fazer sangrar com cento e vinte agulinhas de cores diferentes, devagarzinho, sorrateiramente assim. Te fazer se machucar e depois sumir de súbito. Sentirias então a minha falta como sinto a sua. Sinto-te em faltas e presenças todos os dias. Sentirias então? E então eu te digo que te machucaria só pra depois poder te curar pra mim. Te arrumar os pedaços, te colocar no colo e te dizer "vai passar, vai ficar tudo bem", porque eu sempre vou estar contigo.

Eu te amo, do avesso, do direito do contrário e da dor que é amar, eu amo.

30.8.09

Tua verdade fazendo escola

(tua ausência fazendo silêncio em todo lugar)

você me faz assim, personagem de novela das seis, idiota idiota idiota. Esperando na janela por alguém que nunca vem e me entregando inteira sem nem perceber.estou me sentindo tanto uma pessoa de quinze anos transparente que quase sinto vergonha de mim. você me faz não querer mais ser nada, enquanto eu ainda quero ser tudo isso. sofro de dualidades crônicas e dizem que amar é sempre estar na corda bamba dos sentimentos, o tempo todo. linha tênue é o que eu sou e aí me vês toda brilhante e sincera de um bom humor que ensaiei só pra te fazer sorrir. você me dói, me dó no corpo e na alma e em todos os meus ossos. e de repente eu sei que faria o mundo se fosse pra te fazer sorrir de perto o tempo todo, porque já gosto mais de ti sorrindo do que de mim estando feliz. viveria a minha toda comprando todas as coisas do mundo e te escrevendo todas as poesias bonitas se isso te fizesse bem. sei de seus gostos tanto quanto sei dos meus e me é doentio o você existir comigo. máximas ridículas hoje me cabem e eu daria a minha vida pela sua vida e viveria pela sua vida, sem nem me dar conta. és a minha parte mais bonita, porque és parte de mim desde que te conheci, e continua sendo. você libera o melhor que há em mim e toda a minha sede de ser uma pessoa melhor e todos os meus talentos adquiridos foram de certa forma por sua causa. És a melhor parte de mim, porque é por você que as minhas mãos escrevem e que os meus olhos enxergam fotografias em todo canto. inventaria todos os novos pratos do universo se eles te fizessem feliz. já é por ti que meus olhos assistem filmes e são contigo os momentos que eu não quero me matar, nem um tico que seja. as horas contigo passam rápido e por ti daria todas as minhas madrugadas conversantes, wide awake. mudastes meu gosto, meu tom, minha maneira de ver certas coisas. sou radiante perto de ti, de uma mudança percebida a olhos vistos. és meu garoto de sorriso cativante, pretensões estranhas e é por ti que odeio existir as vezes. porque sou descontrolada e irracionalizada. gosto de ti pelo que és e pelo que representas pra mim. pareço contigo porque quero, sem esforços. e se um dia precisar não estar contigo para te ver feliz, o farei. minha felicidade é você estar feliz, e me dói dizer que por você eu me rebaixaria a ser triste. minha prioridade tem nome, hoje é você. E te enxergo de ciúmes cegos e te quero pra mim, guardado na minha caixinha, porque com você eu sou uma pessoa melhor, com você eu sou viva, sou completa de sorriso solto e fácil. Dualizas-me, me mata de raiva, eu prefereria não gostar nem um tiquinho que fosse de ti, mas eu te amo. Pelo que você é, por tudo o que você é e talvez também porque eu já saiba que sou de um jeito que só sei existir completa, bonita, perfeita, e feliz quando estou com você e por você.

Te adoro porque me fazes ser todo sentimento de um jeito que me faltam as palavras. e embaralham-se. e tiro meus pés do chão. te amo porque me fazes amar tudo o que odeio e odiar tudo que amo, tudo ao mesmo tempo. te amo porque despertas o melhor e já és a melhor parte de mim. pedaço enjaulado, ateado, eterno, doente. imortal.


(só enquanto eu respirar vou me lembrar de você)

E nesses dias tão estranhos

(fica a poeira se escondendo pelos cantos)

Já não sei mais escrever com música. Os meus vinte anos de boy, that's over baby. Parece estranho sentir um peso ancestral depois de duas décadas, mas hoje sinto que preciso do silêncio. Porque o silêncio me dói. E eu ainda só sei escrever com dor, o que é um clichê dos piores. Minha mãe diria que eu estou sempre usando a palavra "clichê" e então, se um dia ela me pegasse um pouco mais espirituosa eu diria que só se fala daquilo que se é, e eu sou um clichezão enorme. Hoje é o ultimo dia do mês e o começo de uma nova, daquelas bem velhas etapas. Eu nunca deixei de ser a garota de dois anos atrás e de certa forma isso me enjoa um pouco. Todo mundo quer evoluir, ser diferente e eu só me sinto um pouco mais perdida.

Antes "acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto" me cabia bem, mas hoje é um leque tão grande de possibilidades que não virão a ser que eu acho que eu nem sei do que eu não gosto. Estou acostumada, indiscutivelmente acostumada às coisas que faço e também às que deixo de fazer. João Ubaldo diria que " a gente se acostuma a tudo" e eu, relutante demorei a acreditar nisso, mas hoje acredito que sim. Não paro pra pensar na minha vida faz algum tempo e tento me ocupar com mil e uma babaquices só para preencher o tempo e ter algum assunto. E aí quem me vê acha que eu vi mil e um filmes e conheço várias bandas e leio muitos livros, mas eu só sou uma farsa bem arranjada com alguma pitada de bom humor. Ultimamente não estou dando nem pra escrever e sinto um sono que eu não posso nem explicar.

Hoje pensei muito sobre felicidade, sobre realizações. Gosto de ver as pessoas perto de mim um pouco felizes, bastante felizes, realizadas. Nunca fui assim e nem posso te dizer que um dia o seja. A falta de alguma coisa parece fazer tanto parte de mim que se um dia eu resumir que estou feliz e só eu não serei mais eu. Claro que isso é uma das bobagens sem tamanho que a gente diz quando sabe que ser feliz há algum tempo não é uma opção. Ou desde sempre. Pessoas infelizes gostam de dizer que são mais produtivas desse modo e assim o fazem, e aí se tornam pessoas interessantes porque gente que não sabe o que fazer tem um ar de mistério que sempre é de alguma forma, interessante. Mas ar de mistério às vezes é só tristeza e solidão e depois de quase duas décadas fica desinteressantíssimo ser uma pessoa com a qual nem você mesmo gosta de conviver pacificamente.

E então, olhando para os lados vi umas duas pessoas que se diziam completamente felizes e senti uma certa inveja, porque eu de alguma forma não sou feliz. Alguma música do chico termina assim, bem com esse verso ' não fui feliz'. E eu sempre posso ficar dizendo e repetindo isso no fim de qualquer coisa, que eu ainda não fui feliz. E é a mais pura verdade. Ando assim, cheia de dias estranhos, e se paro pra pensar há uma tristeza que me invade me lembrando das vinte e sete coisas que eu preferia esquecer. Queria esquecer de muitas coisas, porque tenho todas as ferramentas para ser uma pessoa feliz, mas não consigo usá-las para tal. Existem pessoas que não aproveitam a própria sorte e disperdiçam sua fortuna. Eu tento todos os dias desde que nasci não disperdiçar a minha fortuna, mas sou muito desconfiada e depois de achar que não tenho fortuna nenhuma e largo tudo pra trás, do jeito que sempre foi. Não gosto de ficar sozinha, mas me acostumo assim se preciso for.

Sofro de síndrome da insatisfação crônica e tenho quase certeza que nada nunca estará bom pra mim. Mas depois de duas décadas se instaura em ti um medo, e é ele quem me acompanha todos os dias. Com vinte anos já é hora de ter sua vida mais ou menos arranjada e desarranjar ela de uma hora pra outra pode ser coisa pra se arrepender para todo o resto dela. Hoje tenho medo de tudo que me desarranje e vivo então um dia depois do outro e depois do outro e depois do outro. Já não tenho certeza de nada e os dias nem doem nem alegram, só são. de tristezas e alegrias ocasionais todo mundo vive, inclusive eu. E eu tenho vinte anos, sou morena, viceral e ainda não fui feliz.

20.8.09

Os dias tem cheiro de coisa úmida.

( e faz frio aqui dentro).

Londrina passa lá fora, cinza cinza e úmida. Sentirás então falta daquilo que nunca gostastes de viver? E então pensa que não sabes responder, porque de fato nunca soube responder com certeza - palavra que trás em si requintes de crueldade - coisa alguma. É uma vida nova depois de uma vida toda em um universo paralelo, e as férias eternas já não tem nem graça nem desgraça. Já não carregam nada em si. Acostuma-se a tudo, e não há verdade mais triste e certeira do que essa. E acostuma-se então a viver longe da vida que não gostavas de ter, mas sabe que se acostumará a viver a tal vida de novo, mesmo que doa um tico.

"Todo mundo sempre dói um tico. Tem de doer." Pensa. E aí sabe que em seu universo estranho todo mundo sente dor, porque pensas que é impossível a existência sem dor. O simples fato de estar vivo é de uma imensidão e de uma crueldade tão grande que não há como não doer. "Dôo. Eu dôo o tempo todo", reflete. Porque não consegue se lembrar de um dia nenhum, em mês ou ano qualquer que não tivesse doído. E como todas as dores, pode-se acostumar-se com elas, e depois de um tempo nem mais senti-las, mas elas permanecerão ali. E um dia, acordarás e sentirás latente a dor que sempre existiu em ti.

Ultimamente os dias tem se passado letárgicos. Não para de fazer frio um minuto que seja, e frio, calor, chuva, não fazem muita diferença quando sair de casa não é uma coisa que de fato anime. Chover é só mais uma jutificativa para o fato de não querer sair. Mas justifica-se então dizendo que não se pode sair, porque ninguém em perfeito estado de juízo gosta de ficar úmido. Chuva estraga os cabelos e faz os pés congelarem. Chuva faz com que as pessoas que não precisam sair de casa permaneçam dentro dela. E faz mais de mês desde que precisou sair de casa.

"As pessoas sobrevivem às coisas que não gostam." Parecia uma frase bem arranjada para o momento de incertezas em que estava vivendo, porque sobreviver era a palavra exata pro que precisará fazer por algum tempo. "É assim que as pessoas fazem quando não conseguem amar nada, sobrevivem." E isso lhe pareceu mais bem arranjado ainda, porque de fato não amava qualquer coisa que fosse. E lhe restava então a grande função de sobreviver entre o exército de milhares de pessoas que ainda não encontraram o que amar. Existem pessoas que desde cedo sabem bem que nasceram com uma vocação. Existem pessoas que nunca souberam exatamente o que vocação significava, então preferiram deixar pra lá. Ela fez assim. E então criança seria escritora e depois seria arquiteta, depois decoradora de interiores e depois fotógrafa, e depois jornalista e depois escritora de novo e decidiu optar por design gráfico, que nem tinha entrado na lista.

"A grande coisa que existe sobre quando você não sabe o que fazer é que teoricamente você pode fazer qualquer coisa." Teoricamente era a chave de tudo, porque faz alguns meses que pode ser tanta coisa que decidiu então deixar de escolher. Mas hora ou outra lembra que quando a gente não faz as nossas escolhas elas acabam se fazendo pela gente e sempre lhe pareceu deprimente aquelas pessoas que estão em algum lugar sem saber como chegaram ali. Embora essa seja a história da sua vida há exatos vinte anos, sabe que não pretende ser assim daqui dez. "pessoas que não sabem o que fazer sempre soam bonitas, mas só são confusas". E assim afirmava porque tinha convivido com isso sua vida toda. Sempre esteve tão perdida que se soava bonita. Pessoas sem metas parecem livres, mas na verdade são mais presas do que todas as outras, porque não saem do lugar.

Em meio a reclusão social e a chuva, se obriga a pensar no futuro, depois desobriga. Sabe que existe um universo de possibilidades inexploradas, mas que o curso de sua vida seguirá linear enquanto timidamente vai se acostumando. Sente vontade de vomitar de vez em quando, ou quase sempre quando alguém lhe indaga sobre o futuro. "eu duvido realmente que alguém tenha certeza do que quer para o futuro. Sendo assim, elas deviam parar de cobrar isso das outras pessoas", pensava. Não sabe o que vai fazer, porque de fato duvida que exista talento para alguma coisa. Toda vez que começa algo logo percebe que não leva tanto jeito quanto imaginava pra aquilo e que a vida real pode ser muito mais cruel do que se imagina ainda. Desde então, preferiu nem começar que é para não se frustar um pouco mais e depois descobrir que suas trinta e sete possibilidades terminaram em possibilidade alguma e então se descobre um fracasso, embora no fundo acredita que seja isso mesmo.

Para deixar de pensar então se tranca em casa, esquecendo a lista de coisas que prometeu tentar depois de uma conversa. Uma lista de possibilidades se tranca na gaveta enquanto se convence que não pode fazer nada, pelo menos não agora, porque está chovendo e não gosta de seus pés úmidos. No fundo, ou nem tão no fundo assim, sabe que a sua vida está mesmo atrelada ao "escritora" que vai e volta na sua lista de possibilidades. Porque sabe que a sua vida é escrita como páginas de um texto que almeja ser um livro, mas que todo mundo sabe - inclusive e principalmente ela - que nunca será coisa alguma.

4.8.09

O que está acontecendo?

( o mundo está ao contrário e ninguém reparou; ou desabafo)

"It's a mad, mad world", gary jules diria cantado no final de donnie darko enquanto você se dá conta dos universos paralelos. Universo paralelo, prazer, é de onde estou observando de leve o mundo em que me encontro. Ou todo mundo enlouqueceu, ou sou eu que tenho problemas com me adaptar a realidade. Não sabendo a resposta certa, eu digo que talvez seja tudo uma louca questão de ponto de vista e que no fim não faça diferença nenhuma o que eu acho, ou deixo de achar, mas eu só preciso dizer que eu já não sei mais o que estamos fazendo de nós.

Então me dizes que acabaram todas as fronteiras e que podes se comunicar rápido como um foguete com qualquer pessoa em qualquer lugar do universo. E achas graça, porque agora seu universo é grande e extenso, mas não cabes dentro de si. Trocas então qualquer conversa por telefone por seu computador e esqueces que pode chamar alguém para tomar um café, porque então te lembras que vives sozinho e faz algum tempo que ninguém frequenta a sua casa. Tentas então as teclas, procurando algum amigo, e ele até te ouve, mas sabes que tentas em vão porque no fundo (sem saber) sabe que letras coloridas não substituem olhares compreensivos, mas nem te lembras mais como eram, então cala-te e dorme, porque não tens tempo para pensar bobagens.

Não te lembras quantos amigos já perdestes, mas lembra-te de às vezes, mandar algum recado diznedo que está com saudades, que a outra pessoa responderá dizendo que também está e que poderiam se ver, sabendo que não se verão nunca mais. Ambos possuem outras vidas agora e não tem tempo de se desvencilharem das mesmas para correr atrás do passado. Passado aliás é uma palavra muito malvista. Dizes passado, lembram-se de velho e ninguém mais gosta do velho. Gosta-se de futuro, de novo, de presente. Gosta-se do que está aqui e agora. Do rápido, do prático, do enlatado.

Então já não sabes mais se compra a blusa que viu na loja para a sua esposa ou para sua filha, afinal se vestem ambas tão parecidas e nem sabes mais quem tem mais fotos na internet ou entende mais de computadores. E vê em todas as revistas milhares de pessoas dizendo em vinte e cinco formas diferentes de se manter mais jovem junto com as trinta e sete maneiras de parecer mais magra e só sabes que pensam muito em aparência e em parecer, mas já está tão acostumado que nem ligas.

Se perde no meio da loucura de aproveitar o presente e então nem te lembras mais que também é uma opção ficares em casa, sozinho, repensando suas idéias. Te lembras que parar é perder tempo, então faz. Então buscas. Então tens. Tens dinheiro, diversão, festas e tudo isso que trás a felicidade. Estás jovem e ativo e assim sempre estará, e permanecerá e se isso não for possível, ao menos parecerá. Então tentas a todo custo se manter em trinta e sete cirurgias plásticas e visitas semanais à academia. Já estreiou a boate da moda, entendes completamente tudo e todos e te livrastes dos preconceitos. Acreditas em sexo casual, e buscas experimentar pois experimentar é o único jeito de saber. Não paras mais. Estas sempre em algum lugar, estás sempre em busca da felicidade que está sempre um passo a frente de você, mas sabe que um dia irá alcançá-la. Estás atrás da juventude que um dia sabes que perderás, mas não te importa, pois seu espírito é jovem e não envelhecerá jamais.

Então corres, tresloucado para nunca parecer ultrapassado, e se livras do passado, e de repente, olha, serás moderno. E nasces como um robô belamente programado para não parar, não envelhecer e ser feliz. E para ser feliz não há limites. Então bebes, e e sai, e ri e conhece quantas pessoas quanto puderes e te envolve com quantas pessoas quanto puderes e largas quantas pessoas quanto puderes para sempre ter todas as pessoas que quiseres, sem se dar conta que nunca nunca tens ninguém. E te sentes pertencido porque todos os outros são como você. Bonitos, e jovens, sempre sempre jovens.

Eis que sem perceberes perdeste a vida. E perdeste, que ironia, tentando ser feliz. E envelheceu enquanto tentava ser jovem. E foi ridículo enquanto se sentia totalmente pertencido. Agora olhas pro lado e vê, vê aquele alguém que sempre julgaste fora dos padrões e louco. Vês teu amigo que dizias feio pois assumiste as rugas. Vês teu amigo que dizias perder tempo, pois passavas muito tempo contemplando. Vês teu amigo a quem dizias que estava deixando a vida passar por entre os dedos, sem aproveitar. Vês teu amigo que sempre achou bobo, pois um dia se envolveu demais com alguém, e com uma só pessoa decidiste ficar. Vês seu amigo que tinha tempo para os filhos, e que resolveu assumi-se pai, e não companheiro de balada. Que resolveu tomar seu tempo, fazendo as coisas que julgava de seu tempo. Vês seu amigo a quem julgavas velho, antiquado, a quem dizia não saber se adequar as mudanças do mundo atual. Vês seu amigo que tomou tempo para ler, para caminhar, que não ganhou tanto dinheiro e teve tempo para a família. Vês seu amigo que um dia sossegou, e não tenho uma vida cheia de luxos, teve conforto o suficiente para curtir a palavra que detestavas, a velhice.

Vês teu amigo pleno, e de rugas no rosto, sentado numa cadeira na varanda e pensas em perguntar como vai levando a vida. Pensas em perguntar mas desistes, porque enxergas no rosto do amigo aquilo que passou a vida inteira procurando, mas não encontrou. A palavra mágica, o elixir da juventude, da boa saúde, da vida plena. Aquilo que não se encontra com vinte e cinco jeitos práricos, com mil noites ou com fórmulas magicas de juventude eterna. Encontras no rosto de teu amigo aquilo que sempre julgastes ter a fórmula mágica para conseguir e aquilo que julgou a vida toda estar tendo, mas nunca soube como era. Encontras no rosto do teu amigo, hoje velho, mas de essência viva, a mesma de muito e muitos anos atrás, aquilo que estão todos loucos procurando enquanto colocam os pés pelas mãos: a felicidade.

E então entendes que tudo que ficastes velho buscando a juventude, perdestes tempo tentando aproveitar a vida e principalmente, ficastes sozinho, tentando ser feliz. E então choras a te olhar no espelho, desfigurado por seres aquilo que não és mais, sente-se ridículo, e pensas em querer voltar tudo e pensas em querer começar de novo e pela primeira vez se encontra com o único mal irremediável: O tempo que não volta mais. E choras, não foi feliz. E então te perguntas "até quando continuaremos assim?" e ficas, porque (não sabes que) sabes que ninguém te responderá. Não sabem a resposta. Continuarão. Eterno-retorno-Eterno de busca sem fim.

30.7.09

Minha sorte tinha nome e se chama estevo.

E sempre me perguntei porque nunca escrevi sobre a sua morte, e só posso pensar que é porque eu não me sentia totalmente confortável com a sua ausência, e admitindo mais ainda te digo que até hoje não sei te dizer como é que eu existo sem você existir. Depois penso um pouco e te digo que existe tanto de ti em mim que é como se ainda vivesses aqui. E então não há como falar sobre mortes de pessoas que nunca morrem, porque eu sei que você na verdade nunca morreu. Não dentro de mim.

Foram vinte anos de convivência bruta e quase diária. Posso me lembrar ano a ano tudo que esteves e fizesses por mim. Tudo. Lembro de ti desde que eu era muito meninota me deixando fazer festa nas lojas brasileiras - que há muito deixaram de existir - voltando feliz com um saquinho cheio de caramelos de todos os tipos. Lembro também de te contar não posso nem te dizer quantas vezes as histórias do macaco que botou a mão na cumbuca, e do pulo do gato. Lembro até hoje, vivo em mim, seu sorriso debochado ao ver a tragédia do gato. E por isso me repetia tantas vezes, gostava de te fazer rir. Sempre riu com vontade. Sempre foi tão feliz.

Me lembro também de te fazer cuidar de minhas bonecas. Me lembro de sentar no meio fio contigo e ficar ali, enquanto você me contava histórias. Eu sempre te achei a pessoa mais adimirável do universo todo não só por todas as coisas que era, mas por todas as coisas que me ensinastes. E não foram poucas. Me mimastes tanto. Tanto. E desde pequena nutri um gosto não muito comum em crianças da minha idade por salame, provolone e bacon frito. E não existe nada mais justo, porque eu tenho que concordar contigo que não existe coisa melhor nesse mundo.

Cressestes comigo. E eu digo que cresceu, porque você não envelheceu nunca. Sempre foi tão criança quanto eu. E assim comiámos balas enquanto assistiamos ao jogo do são paulo, e eu te via colocar duas balas na boca e não entendia nada, porque não havia porque ser tao esformeado assim. Mas achava graça. Sempre achei muito bonito seu jeito de ser. Lembro de você me irritando todo sábado ao chamar meu pai de velho, e na minha cumplicidade de criança com meu amado pai, o defendia dizendo que ele não era velho. Morrias de rir. Depois me acostumei e dizia quieta que ele tinha ido ao futebol, e sentava no braço da poltrona na frente do lugar do sofá que ocupavas e ali ficava um pouco vendo tv contigo.

Me lembro de domingos ao som de chorinho, e me lembro de você me pedindo para que colocasse música. De certo achava bonito, tão nova criança saber mexer em tão complicado aparelho tocador de cds, mas tenho que te dizer que na minha época a gente meio que nasce sabendo. Mas gostava e ia toda orgulhosa ali colocar o cd do demônios da garoa, cheio das nossas músicas engraçadas. E eu te digo nossas, porque sabia que gostavas muito da música do gato e a colocava várias e repetidas vezes só para te ver rindo com vontade. Seu riso é coisa que sempre vou guardar em mim, não importa quanto tempo passe. E se falo de gatos me lembro de ti espantando todos os meus gatos com pequenos potes de água, e depois ria-se todo, enquanto eu não entendia porque maldade tal com tais bichinhos. Mas depois te imitava. Sempre te imitei, porque sempre fostes meu exemplo.

E me lembro de depois de um tempo, fazer por ti o mesmo que fizestes por mim. E então eu te cuidava, e te dava remédios e prestava atenção para que não fizesses estripulias. E já não era mais você quem compravas para mim as coisas que eu gostava de comer, e sim eu que te levava as balas e salames e foi contigo que aprendi a cortar salame fininho, de faca amolada e a cortar laranjas e fazer uma 'tampinha' que depois de tanto fazeres pra mim, aprendi a fazer sozinha. E creio que foi assim, que tudo que aprendi com você hoje sei fazer sozinha. Sei ter seu bom humor nas piores situações e sei contar a sua história da raiva pra todo mundo, para que saibam que eu te tive e te guardo com carinho.

E sinceramente, eu não sei mesmo falar da sua ausência, ainda que ela se sinta toda crua e fria, porque para mim sempre existirás aqui dentro, e assim, nunca nunca morrerás, meu eterno, querido, amado e melhor avô.

28.7.09

Para os domingos que não vão mais ter cheiro de perfume velho.

Aconteceu assim, como se não tivesse acontecido e partistes, rápida como sua fala desesperada que nos acompanhava em cada reunião que insistias que fizessemos. Nunca te fui próxima, nem quando criança, de proximidade forçada. Eu existia ali e gostava, porque de certa forma meus domingos com cheiro de perfume velho com pó-de-arroz tinham lembranças muito vívidas de quartos fechados com armários cheios de bolas para que pudéssemos chutar, ou inventar qualquer nova brincadeira que fosse. Sempre gostei mesmo das companhias e da aura de estar em família que aquilo sempre proporcionou. Nunca me senti pertencida, tenho que dizer. Foram sempre pessoas muito mais extrovertidas do que eu, e eu sempre calada tímida e muito apegada à minha mãe sempre senti que de certa forma aquele não era o meu lugar.

Não me passastes vícios. Nunca me ensinou a fazer coisa alguma que hoje posso dizer que não teria aprendido, não fosse a sua mão. Guardo de domingos alguns cheiros, padarias, leites com nescau e primos que comigo conviviam como irmãos. Guardo quartos, conversas, churrascos. Sei que algumas lembranças minhas de infância não teriam existido não fossem as reuniões na sua casa. Mas não são lembranças suas. São lembranças minhas, com outras pessoas, na sua casa. Creio que não tenha acontecido porque querias. Simplesmente aconteceu. E até te digo que várias vezes imaginei outras pessoas tão melhores em seu lugar. Imaginei sim.

Imaginei porque venho de um ambiente sem cobranças e cheio de presentes. Sempre gostei da liberdade, da nao obrigação, e das lições de vida e não morais que me ensinavam em outra casa com quem tinhamos o mesmo parentesco. E então nunca me cobraram um ser meu que não era ser eu, mesmo que não concordassem. E criaram assim uma viciada em cafeína, amante dos frios e latícineos, com um bom humor inabalável e leitora assídua dos jornais matinais.

Mas tenho que dizer que de ti tenho geneticamente certos traços. Falo demais, alto demais, expansiva demais. Mas preciso criar confiança para. Sou teimosa, julgo. Tenho defeitos que sempre odiei em ti. Tenho que te dizer que várias vezes me irritastes como não se pode irritar alguem que ama. Já quis te dizer que não vives a vida dos outros e que eu nao nasci católica e nem pretendo o ser, tampouco quero comer muito ou mesmo ser batizada ou até encontrar um namorado que se pareça mais comigo. Nunca te dei o direito de me dizer o que fazer porque nunca me conhecestes. Então pouco podias saber sobre o namorado que eu precisava, ou quando eu deveria casar, ou mesmo a religião que eu deveria escolher. Nunca soube nada de mim em vinte anos mas tinhamos uma relação de parentesco.

Vou dizer que vou sim sentir falta dos meus domingos com cheiro de perfune velho, daqueles que vem em vidros trabalhadinhos. Vai existir a ausência do "deus te abençoe" dito para mim como quem tem certeza de que eu não acredito. Vou sentir falta da proximidade que achavas que tinha construído quando não construiu, e vou achar incrivelmente vazio os dias em que não me dará dores de cabeça de tanto falar rápido e muito e de coisas passadas que nada tinham a ver com o assunto. Vou sentir falta da perocupação em eu ter comido ou não e se estavam ou não sujando o meu papel, porque eu sempre estava escrevendo, quando perto de ti. Vou sentir falta até da cordialidade com o meu namorado que depois de desvairava em criticas e preocupações sobre o casamento. Sei que era só teu jeito estranho de gostar, e não te culpo.

Meus domingos não terão mais teu cheiro e tua implicância e ganharei duas horas vazias que já não mais serão preenchidas com você, vó. Que partiu com a mesma pressa que tinha para se contar, mas que deixará um silêncio imenso dentro de nós, que no fundo, mesmo que reclamássemos de seu barulho, preferíamos não estar ouvindo.

23.7.09

E depois eu pergunto da distância.

(E você não sabe me responder. Porque ninguém sabe.)

E aí eu te pergunto da distância, dessa distância infeliz que se deu a gente não sabe como, nem quando, nem onde, mas que se deu. Te pergunto como foi acontecer isso, assim, entre a gente que sempre foi tão bonito, junto, reunido, perfeito e você não sabe me responder. Não te culpo, também não sei. Sei de vinte mil fatos aleatórios que nos fizeram chegar até aí, mas te responder com certeza, vai saber. E eu digo você da maneira mais abrangente possível, porque estou falando de milhares de pessoas que perdi entre meus dedos e que sei, não tem volta. Embora esteja também falando das que tem volta, das que consigo ver e sei que consigo resgatar (consigo?).

Justificativas sempre são e sempre serão inúteis e inválidas. Eu te digo que mudastes e aí me dizes que sou eu quem mudei, mas mudanças implicam tanto assim nos fatos de não conseguirmos mais existir juntos. Me ponho a pensar, porque, de coisas sinceras, sei que enxergaria tímida a menina de cabelos ruivos e roupas pretas que um dia já foi pra você a única companheira. penso em milhares de coisas diferentes, é verdade. talvez nem ache mais graça das mesmas piadas, mas de tantas afinidades um dia existentes não sobraram nenhuma? aí me ponho a pensar e vejo que em você eu não enxergo mais meu porto seguro, porque nos seus olhos isso não existe mais e consigo perceber que foi ali que tudo se perdeu. nao consigo mais confiar na sinceridade e por mais que eu minta, eu sempre tenho em mim uma aura de coisas que não me deixam mentir. pra você, eu não consegueria. Existem coisas que quebram e marcam de um jeito que se tornam então, inapagáveis. E eu não guardo mágoas, mas sei que eu não enxergarei mais aquilo que enxergava em ti e assim, não existe mais jeito de existir.

Se penso em outras pessoas então, vejo que daí podemos nos afastar pelos motivos mais bobos possíveis, e aí culpamos a falta de tempo e os afazeres tantos de todo dia, mas é bem verdade que se quiséssemos mesmo eu teria ido te visitar, ou terias vindo e eu nem teria prometido ligar em vão. tenho que dizer que as vezes falta esforço e isso não significa que tenha deixado de amar todos vocês que um dia foram tudo para mim. Acho que não se deixa de amar ninguém assim. não depois de anos de convivência e sem nenhuma partida bruta. mas acho que as maiores distâncias são mesmo feitas das partidas sutis, porque pouco a pouco a gente acha que já nadou demais para poder voltar a costa, e acaba atracando em outro porto, meio que sentindo saudades, mas meio que deixando de lembrar.

Se penso em vocês que estão todos os dias, aí sei bem que não sei o que dizer, e te pergunto das distâncias e irão então me dizer que não existe distância, porque não há de existir distãncia entre pessoas que todo o dia se vêem. ai eu te digo então que essa é das piores, porque mascaramos tão bem o fato de já não estarmos próximos que fingimos então não existir distância alguma, quando de fato existe. e caímos num abismo tão disfarçado que quando percebemos estamos lá, sozinhos em meio a vinte e cinco pessoas conhecidas. sozinhos em meio as pessoas mais próximas. e sei então que teríamos que nos juntar e conversar e perceber que tudo que está errado pode ser consertado, porque ainda encontramos em nós mesmos razões para permanecermos e se existe razões é porque ainda existe sentimento, e posso então te dizer que o sentimento é maior do que as coisas menores que sentimos, mas isso em teoria.

Na prática exuste rancor e uma pequena (grande?) predisposição à aceitar o que é fácil, sem esforço, que acontece lindamente por simplesmente acontecer. sem manutenção, eu te digo, as coisas bonitas não acontecem. quer dizer, não permanecem. e estamos todos meio perdidos procurando por coisas que durem, mas nao sabemos permanecer. pois eis então que nos deixamos, estamos nos deixando em busca de parar em outro porto qualquer porque começar de novo parece mais fácil do que reparar os nossos próprios erros.

E eu estou te dizendo da distância entre nós, e aí você me pergunta porque não podemos olhar por outro lado e eu te respondo que se eu soubesse eu poderia ser tão mais feliz e não carregar em mim o buraco de todas as pessoas que deveriam ter permanecido e se foram, e nem estaria com o consaço ancestral das perdas inúteis que se fazem durante a vida; e tampouco comeria tanto chocolate e pensaria num sonho tão simples quanto uma madrugada sem nada, só com cobertores e conversas, sem nada em troca.

E então te digo, que sei, que quando se precisa de coisas pequenas demais é porque se sente dores grandes demais. Sei que sentimos. Sei que pergunto da distância entre nós, e você não sabe me responder, porque ninguém sabe. Mas no fundo, todos sentimos pungentes e queríamos continuar de um outro jeito, de um outro modo, e caímos estatelados e sozinhos querendo um mundo todo, quando nos contentaríamos com um pedacinho só. Aquele pedaço colorido que você sempre sonhou e já teve, mas que deixou passar, assim, sem perceber. E que agora teme pegar de volta, porque é cheio de orgulhos bobos e mente ter se acostumado com essa distância, essa distância entre nós que você diz que nem existe.


(mas sabe que ali está.)

E a gente está falando é de mudanças.

( e distâncias.)

Se me disessem a cinco anos atrás que eu estaria levando a vida que estou vivendo hoje, juro que não teria como conceber. seria de rir e gritar que era mentira, porque hpa cinco anos atrás minha cabeça não se parecia em nada com essa e meus sonhos eram outros. Sempre se sonha com coisas grandiosas e estranhas quando se tem quatorze ou quinze anos, porque com quatorze ou quinze anos o mundo nem cabe dentro da gente. O meu não cabia, e eu queria abraçar tudo, e tudo ao mesmo tempo. agora. Foi assim anos a frente até uns dois anos atrás quando sosseguei.

Eu não existo mais. Algumas pessoas vivem dizendo que eu mudei, eu sorrio e digo, ora, mas mudastes também, todo mundo muda um dia. quando a gente é jovenzinho demais, tudo que a gente quer é ser de extremos. eu era. das músicas aos olhos pretos e aos all-stares sujos e furados, sempre fui de extremos. podemos dizer que ainda sou e tudo seria assim, a gente não muda nunca. mas muda sim.

hoje ouço outras músicas, estou cercada de outras gentes, me visto de outro jeito. tenho listas de livros que li e lista de livros pra ler. perdi minha concentração e minha vontade de abraçar o mundo. e aí você me pergunta como? e eu digo que meu mundo diminuiu. meu mundo agora não espera ir pra inglaterra, conhecer o mundo todo e ser complemente independente. sabe; ser independente é tantas vezes ser sozinha, e isso de solidão já não comina mais comigo. já combinou. hoje não sei mais ser auto-suficiente e preciso de alguem pra deitar junto comigo, pra segurar a minha mão, pra dizer que tudo vai estar bem. Meu mundo diminuiu porque hoje eu sepero muito mais felicidades pequenas do que grandes. felicidade é coisa pequena. é ter minha casa, ali, decoradinha, é casar e ter dois filhos. é ter meu emprego, e fazer o que eu gosto. pra ser feliz a gente não precisa ser grande. a gente só precisa de um mundo que caiba dentro da gente, que caiba direitinho, que caiba.

Sempre vou gostar disso que a gente é em essencia. é isso que vai sempre me encantar. é aquilo que a gente vai sempre poder enxergar nos olhos dos outros, mesmo que se passem anos e cabelos branqueiem e que as roupas todas mudem, e os gostos por músicas, e escritores, e cores, sabores, tudo isso. tem coisas em mim que eu sei que não morrerão jamais. e é isso que eu sempre vou amar. gostos são gostos, mas ser é maior que isso. gostos mudam, mas o que a gente é, o que faz a gente ser, permanece. tudo tão clichê.

Estou tão feitas de distâncias que se eu pudesse contar eu nem consegueria. Todas essas mudanças criam afastamentos incriveis, grandes, do tamanho de abismos. tem gente que nem volta mais pra gente. tem dia que a gente acorda e pensa que podia estar todo mundo junto, reunido, porque a gente tinha que estar juntos sempre. mas todo mundo muda um pouco, e aquilo que juntava as afinidades não sobram mais. não é culpa de ninguém, só acontece. dói. mas aí sobram as saudades, que é pra gente lembrar sempre.

Nós estamos falando é de mudanças, de distências de coisas que acontecem na vida de todo mundo.De coisas que não são poéticas, nem bonitas e nem dão um texto bom, mas que são. E que a gente precisa relembrar, de vez em quando, porque tudo muda, até meu jeito de me contar. às vezes. Só às vezes.

21.7.09

Esse sentimento

E sentes de novo a essencia exata do que é a solidão e a dor de existir. Mas o que sempre existiu não é novidade. Então o sentimento senta ali e fica quieto, nem respira, nem canta, nem dói. Senta pra tomar um café, pra assitir televisão, pra tentar nao ser percebido. Mas é.
E aí te lembra de coisas simples e pensa em trinta e sete relacionamentos quebrados que já te acompanharam vida afora e vê que teus pés nem caminham mais do lado deles, que tem um abismo no novo mundo que se formou de ambos os lados e é abismo que ponte nenhuma pode alcançar. Aí sabes que se sente fraco, sozinho, triste, abatido e até dizem que você está cansado quando te revêem que é um jeito mais educado de dizer que conseguem ver de longe a sua alma despedaçada e seu vazio de existir.
Pensas então em mais de milhares e milhares de jeitos de melhorar, mas não pensa em nada. Sempre soube que a felicidade é coisa simples, coisa de momento, lugar, de ter bons amigos e boas companhias. É coisa de clichê. E sempre soube que existem milhares de jeitos novos e de cores diferentes para alcançá-la, mas aquilo que hoje bebe café com você não te deixa pensar em nenhum.
Então nem tenta mais e te cala, porque só sabe sentir que esforços são em vão. Senta ali com esse sentimento e fica. fica. Porque sabe que já perdeu a força de ir há muito tempo, e que felicidade é coisa que hoje não consegue alcançar. só por hoje. aquieta. dorme. sente. chora. é assim.

10.7.09

Carta à minha menina.

Vejo uma menina, num avião saindo. Menina que olha tímida, cheia de saudades. Menina que provavelmente vai se lembrar de um 'leitê quentê' de uma noite atrás e rir um pouco, sozinha, sem deixar nem espaço pra pessoa senta ali do seu lado entender do que se trata. Menina que hoje, dia dez de julho de dois mil e oito, deixa pra trás aquilo que um dia já foi seu maior sonho. Já foi, porque hoje não é mais. Hoje essa menina espera por coisas maiores. Seu coração suburbano sempre esperou riquezas maiores, e ela sempre soube. E logo logo vai descer do avião pra pisar concreta no que é só o começo da sua nova vida. Dessa nova vida sonhada e (quase) concreta que a menina de cabelos loiros e olhos verdes começa(rá) a viver. Sempre torci por essa menina, minha menina. Menina que conhci aos dezessete anos, vinda de cidade de interior, cheia cheia de sonhos, tão parecida comigo que chegava a doer. Conheci e tivemos identificação imediata, não tinha como ser de outro modo. Torci por todos os sonhos da menina. Os dela, os nossos. Os grandes, os pequenos. Torcíamos juntas, porque ela também sempre torceu por mim. Vi minha menina crescer e criar asas. Vi projeções de filhos, família, que não foram, porque não eram pra ser. Vi-a saltando vôo, chegando em Curitiba estranha, se acostumando. Vi a menina que passa no vestibular e fica feliz. Depois participei das frustrações da menina, porque tinha sonhado errado, todo mundo sonha errado algum dia. Minha menina precisava se encontrar com aquela partinha dela que sempre existiu. Partezinha que faz a gente ser feliz. E então ela descobriu que o que a fazia feliz era outro sonho. Então se permitiu sonhar de novo, porque todo mundo tem uma segunda chance. Agora vejo minha menina crescida, correndo atrás daquilo que quer, sem medo nenhum de ser feliz. Ela já está sendo feliz. Eu torço pela minha menina, assim como torço por mim mesma. Quero vê-la brilhante, toda cheia de si com seu sonho realizado. Crianças, Aprendizado, Família. Marido, Filhos, uma casa feliz. Uma vida simples, mas completa, do jeito que ela sempre quis. Minha menina Manuelli foi voar pra (mais) longe. Mas foi porque ela quer ser feliz, e ela sendo feliz, eu vou estar feliz também. Então a deixo ir, livre e contente, porque estarei com ela, sonhando junto o sonho ela, e realizada quando ela realizar cada partezinha dele. Estaremos longe, mas não existe longe pra quem já vive aqui dentro. E minha menina Manuelli vai sempre viver aqui dentro, bom humor e sorrisos de quando a gente tinha dezessete anos e só sabia sonhar. Vai viver aqui dentro porque é uma das pessoas que eu mais amo nesse mundo. E as pessoas que a gente ama, vivem para sempre.

Toda a sorte do mundo pra você, amiga, cumadi, parceira. Eu vou torcer por você sempre.
Te amo ;*





. Manuelli Kölln é minha amiga e comparsa há quase três anos completos e está se mudando para o mato grosso, para goiânia, coisa bem longe daqui para tentar a felicidade perto da família, da pedagogia, das crianças um tico mais perto do namorado. Deixa Curitiba cheia de saudades, e fica mais longe ainda da amiga que vos fala, mas estará feliz e em boas mãos. Assim espero. Se ela estiver feliz, assim estarei também por ela. Obrigada por tudo, toda a sorte do mundo. Porque amiga assim é pra poucas, e eu ganhei. (:

2.7.09

Coisas Maiores.

E aí eu te vejo feliz e juro que penso, que bom que estás feliz com esse alguém que não sou eu, porque eu precisava de coisas maiores. Que tipo de coisas maiores, você me pergunta e eu só posso te dizer que são "coisas maiores", porque as minhas coisas maiores são do tipo que você nunca entenderia. Você não precisa delas, e é perfeitamente comum que cada pessoa goste de suas coisas maiores. As minhas não são as suas. Nunca foram e acho que nunca hão de ser.

No fim das contas a gente sempre acaba concordando com esses clichês baratos de filme pra assistir de tarde, comendo brigadeiro, que de certa forma as coisas acontecem porque tem que acontecer. E se tem coisas que não se concretizam, é porque no fundo, o coração suburbano de todo mundo espera coisas (e riquezas) maiores. Sempre. Sempre. Sempre.

30.6.09

Vinte e nove maneiras e meia de não reconhecer-se.

E eu não sei quanto tempo faz, mas se fazem meses desde a última vez que essa solitária eu adentrava qualquer ruído que fosse fora da incomensúravel rotina que já me quebrou em vinte quatro mil trezentos e sessenta e uma partes. Não me lembro de mim comigo mesma desde nem posso me lembrar quando e isso é coisa ruim que se sente nos ossos. Sinto saudades de mim como era, e sou, dessa essência desajeitada, sempre querendo chamar atenção. Desses bom humores que escondem vastas tristezas.

Gosto de ser como sou, embora doa um tanto. Sei que estou essencialmente precisando de conversas, de novos ares, não sei me sentir presa. Sempre soube que qualquer responsabilidade que me fosse imposta doeria nos ossos. Nasci pra ser cuidada. Não sei cuidar e nunca soube carregar peso demais nos meus ombros. Preciso de um momento só pra mim. Um vão que seja, para que fluam as coisas que aqui estão presas.

Sempre tive medo da solidão. Agora a abraço tranquila, como criança que corre de mãos dadas com um novo amigo. Juntas abraçamos a melancolia e nos damos as mãos rumo a caminhos sórdidos. Acontece sempre, eu sei. E acontecerá assim até que não precise mais acontecer.

Hoje preciso respirar até encher trinta e cinco pulmões. Preciso estar em trezentos e quarenta e sete lugares diferentes. Preciso das minhas vinte e seis maneiras diferentes de enchergar um mesmo problema. Preciso me encontrar no meio dessas brincadeiras de não ser. Preciso de razões para viver, e mais ainda, razões para continuar viva. Novecentas e quarenta e três razões de cores diferentes. E só.

26.6.09

Mesmo que mude

Vocês estão ficando todos diferentes e eu estou sentindo vazio de existir. Queria pegar cada um de vocês e dizer o tudo e tanto que a gente às vezes precisa que seja dito para que a gente possa se encontrar com aquele pedacinho da gente que não muda nunca. Gosto dos teus pedacinhos que não mudam nunca. Gosto mais desses do que de qualquer outro pedaço que venha a existir, ainda que novo, ainda que belo, e mesmo que sublime. Vou gostar sempre do que as pessoas são em essência. E vou sempre amar apesar de, porque sempre achei amar por causa de, fácil demais.

Sei de poucas coisas. De dias chuvosos que me invadem, de saudades pouco transparentes e de dúvidas grandes, dessas de fazer ponto de interrogação cair na cabeça de qualquer um. Queria ser feliz, daquele jeito e tanto, de novo. Sinto saudades de velhas tardes empoeiradas com cheiro de torta de liquidificador que aconteciam toda semana, cheias de risos nervosos e sinceros, e quem sabe, um pouco de ciúmes. Sei daquilo tudo que aquilo era a gente existindo completo, existindo em quatro jeitos de existir diferentes mas que formavam um só. Gosto, sempre gostei, vou continuar a gostar até que não exista mais jeito de existir.

E sinto nos ossos essas mudanças brutas. Um dia a gente acorda e perde tudo aquilo que nos fazia feliz e não sabe nem mesmo dizer como, ou porquê. Agora eu sei de cada um de nós perdido numa coisa diferente que nunca nos pertenceu, mas nos fingimos felizes e inteiros, leais e amigos, como sempre fomos, mas não somos mais, apesar do fato que seremos sempre. Preciso dizer que amo cada pedaço que existe em cada uma dessas três pessoas que são pra mim o de mais precioso vivendo perto. E mesmo que se sinta a necessidade de um dia sentar e dizer tudo aquilo que sempre precisou ser dito mas que será entendido com olhares, a gente sabe da certeza, eu pelo menos sempre sei da certeza daquela música empoeirada, que isso que a gente sente, ou que eu sinto vai ser sempre amor (daquele mais genuíno) mesmo que mude.

Que nunca nos afastemos, é só o que eu preciso ter certeza. Amarei sempre os três pedaços mais importantes dessa mesa que me faz existir, sem vocês sou manca, digo e repito e além de todo o mais, pre-ci-so.