XI
Sento no sofá
Ouço músicas
Derrubo chocolate na poltrona
Me enfureço
Já não sei o que estou fazendo
Limpo a camiseta, o tapete e a colcha.
Tenho medo que fiquem manchas, e esfrego.
Tenho medo das manchas nele, e choro.
XII
Sinto cólicas,
me sei apática.
Espero que ele me machuque, mas ele não o faz.
Permanece me suportando, não recusa o abraço.
Eu sinto medo.
Eu quero ir embora.
Eu leio mensagens no celular e finalmente tenho um motivo pra
esquecê-lo,
me esquecer.
Faço cena, bato porta, digo que ele nunca mais vai me ver.
Choro no banho, soco a parede do box.
Penso na cara dele. Destruída.
Volto pro quarto e a minha coragem se transforma em ternura.
Espero que ele me machuque, mas ele não o faz.
Permanece me suportando, me dá um abraço.
Eu sinto raiva.
Ele não me odeia.
XIII
Ele me leva na padaria da primeira vez,
faz das suas piadas sem graça
me dá o pedaço maior do lanche,
e depois de tudo ainda mantém o apelido,
e quer comigo uma foto.
Eu digo que o odeio nas mensagens de texto
e que não o amo mais.
Espero que ele vá pra nova York,
ou escolha qualquer melissa ou Luana por aí.
Só se deixa aquilo que não se ama mais,
diz Natalie Portman em closer.
Então eu não te amo mais.
(eu não suporto meus olhos olhando seus olhos magoados,
e ver que mesmo assim,
seu braço continua enlaçando meu ombro).
XIV
Estamos na livraria da primeira vez,
ele me mostra uma ecobag,
quer ver de novo os livros que fez.
Egotrips que eu queria odiar mais.
Assim como queria odiar as camisas de marca,
os sapatos combinando,
a mania de me contar que foi vitima de um flerte,
as manias de grandeza,
de limpeza,
de se preocupar comigo.
XV
Eles planejam fazer doces
e eu sinto que nunca mais pisarei naquela casa,
embora eles neguem.
Não se fazem mais mulheres como
(aquela que não sou).
XVI
Esperamos no terraço do shopping onde outrora nos despedimos.
Eu sou tomada pela culpa
Penso nos livros de russo
Na prova de engenharia
No soro caseiro
Na colcha da vó dele
Nele contando de mim pra mãe
que recebe a notícia, escandalizada.
Não consigo suportar mais nada.
Peço desculpas.
Ele diz que eu não me arrependi.
Ele parece finalmente me odiar.
Eu posso ir embora.
Eu, meu arrependimento e minha culpa,
nunca mais teremos que encarar o peso de ter magoado
quem se fez doce.
XVII
Ele espera meu trem chegar,
e pede notícias.
Me beija.
Não consigo pedir desculpas direito.
Entenda, eu quero ir embora.
Mas ele me pede pra avisar quando chegar em casa.
E eu obedeço.
XVIII
Ele me mal compreende.
Finalmente me detesta.
Comemoro o mal entendido.
Está tudo acabado.
(pausa)
Pego o telefone.
Ele não me atende.
Desespero.
Mas está tudo acabado.
XIX
Passo o meu batom vermelho e paro na augusta,
como pedaços de pizza que ele me apresentou
continuo intacta
Reencontro um velho amigo.
Conto a história como se não tivesse me abalado.
Rimos.
Meu ceular apita.
Eu manchei as paredes dele.
Compartilho com a mesa.
Finjo não me abalar.
Rimos.
Meu arrependimento toma todo o espaço do bar
e não cabe mais ninguém.
XX
Piso com meus coturnos nas ruas em que andamos pela primeira vez
Seguro o choro.
Faço uma piada.
Ele percebe.
Pergunta se eu estou abalada.
Eu digo que não.
Ele finge que acredita.
A bateria do meu celular acaba,
eu já não sabia mais o que dizer.
Terminamos a noite no mesmo bar em que terminamos nossa primeira noite
acho a vida uma aventura irônica
e sorrio por vício, meio exagerada.
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