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23.4.12

mas tudo passa, tudo passará.

faz mais ou menos duas semanas que eu não saio de casa (exceto por duas saídas com amigos, mas é que por eles eu faço esforços). desde que eu voltei de viagem, eu ainda não tinha ido ao mercado. sexta feita tentei caminhar e tive um pequeno ataque de ansiedade ao pensar em pessoas correndo de um lado pro outro enquanto eu dava voltas sem rumo. acho que emagreci o suficiente também, e não preciso mais tanto-assim das caminhadas. mas o sol é importante, dizem. o sol e a endorfina. meus dias se resumem a pensar bastante sobre assuntos diversos, e esses assuntos incluem primordialmente as minhas questões pessoais e depois chegam em "como as minhas questões pessoais afetam os outros" e eu admito, tem sido bastante revelador e interessante esse auto-descobrimento. eu ando bastante calma. meus pais tem bastante paciência com meu atual "estado de espírito" e tratam tudo como uma espécie de retiro espiritual. aparentemente, nesse retiro espiritual é permitido que eu seja abastecida com águas-com-gás, coxinhas, queijo, peito de peru, alguma coisa do delivery e bastante chá com bolachas. ninguém me aporrinha na hora da novela e eu posso dormir até a hora que bem entender, porque é de conhecimento geral de todos dessa humilde residência que eu ando com os horários trocados (embora isso não seja adequado para o melhor funcionamento dessa cabecinha aqui). 

ninguém me obriga a caminhar, ou a sair, e nem mesmo a falar, se eu não estiver com vontade. todo mundo sabe que é uma fase, vai passar, eles esperam que eu ressurja como uma fênix e também num bom emprego, aqui ou há vários quilômetros de distância. minha mãe acha graça do meu amargor frente as questões amorosas e muda de canal nos programas de casamento. nada tem muita graça. nem a tv, nem a comida, e muito menos o mundo lá fora. o mundo lá fora, inclusive, é bastante selvagem. hoje mesmo sai (munida de óculos escuros) para ir no mercado, e as pessoas não tem o mínimo de civilidade. era domingo, e elas se atropelavam rumo a fila do caixa como se tivessem atrasadas pra alguma coisa. eu, como tenho desprezado bastante o contato social, estava no mercado munida de fones de ouvido e demorei mais ou menos cinco minutos em casa sessão pensando tudo que tinha que levar pra poder ficar o maior tempo possível sem voltar no mercado. é mais ou menos como se tivesse existindo um ataque zumbi lá fora e eu tivesse que fazer um quartel-general na minha casa. é totalmente isso, na verdade. só que os zumbis são as pessoas e eu ando meio edward e desfaleço perante o sol.

durante esse retiro eu descobri uma banda nova, atualizei todos os aplicativos do meu celular, aprendi a jogar robot unicorn attack (que é um jogo completamente caótico), vi alguns filmes, descobri uma série nova, escrevi bastante cartas que mandarei só depois que conseguir lidar com as respostas, escrevi textos que não publicarei, e decorei toda a ordem da programação da tarde durante a semana e também as dos finais de semana. pensei muito sobre mim, sei que vou ter que mudar várias coisas assim que voltar a viver e tenho adiado uma conversa que preciso ter e razão de: não estou equilibrada o suficiente. apontam estudos que eu estava bastante estafada da vida e que, ao ser colocada em qualquer situação de pressão eu não aguentava. foi assim que: chorei quando tive que pagar os boletos da pós, nunca mais voltei no meu ex-emprego, fiquei chorando na cama ao invés de limpar a casa. hoje eu quase chorei porque o google não queria fazer upload do meu arquivo, e toda vez que as pessoas me cobram posições eu tenho vontade de chorar, ou simplesmente não faço nada. 

equilíbrio não se pede, se conquista e esses mesmos estudos dizem que, ele não se encontra disponível desde mais ou menos o fim do ano passado, quando o stress começou a existir latente. além disso me descobri mimada, pouco firme, com dificuldades de terminar as coisas (desde livros até relacionamentos) e a parte legal foi descobrir que eu tenho conclusões bastante boas sobre assuntos diversos e que, continuo inteligentinha. a desorganização também é uma questão a ser tratada, mas como minha casa tem sido meu quartel general eu tenho aproveitado pra saber fazer tarefas domésticas, e com o advento do iPod, nenhuma tarefa doméstica é insuportável (exceto lavar o banheiro, odeio lavar banheiro). faltei à aula da pós e tive o sábado mais agradável em anos. o sábado mais agradável em anos incluiu comer feijoada com a família, ver toda a sorte de programas de sábado, ver um filme com a minha mãe, ver a novela e assistir saia justa. eu não estava me drogando em algum lugar e nem ao menos bebendo demais, mas estive bem.

descobri que certas coisas são uma questão de tempo, que por enquanto vou evitar eventos sociais lotados de gente, coisas que me pressionem, relações doentes, conversas que não levam a lugar nenhum e ser passiva-agressiva. sair de casa é um processo que começa com caminhadas de meia hora e evoluem. saio com as pessoas que me levam pra jantar, arranjo um cinema ou outro, tento terminar meus livros como o primeiro exercício de não deixar nada pela metade e treino meu foco. assistir a novela sem olhar o computador, ler livro sem ouvir música, assistir filmes e não olhar o twitter. desconectei de metade dos mensageiros instantâneos também e só converso com as pessoas que me ouvem falar desse monte de coisas que tem acontecido. preciso diminuir o ritmo de atividade no twitter e largar o facebook. as notificações não são tão importantes assim. o celular eu arrumo quando precisar dele, e não é o caso. desapeguei do despertador, não vivo mais na urgência de sinais. consigo viver. às vezes perco o sono, às vezes me desespero. fico com medo de ter perdido tudo aquilo que se construiu, mas não quero mais me atropelar. acho que já errei demais por enquanto. 

o lado bom de errar é perceber todo um universo de coisas que ficaria escondida caso isso não tivesse acontecido. sou uma pessoa potencialmente melhor, quase cinco quilos mais magra, que tem noção de vários erros e que se descobre capaz de várias coisas que, talvez, se não fossem os ocorridos não teria descoberto. sou capaz de terminar os livros, os textos, de ter conclusões interessantes sobre as coisas, de concatenar as ideias, de não me desesperar, não ser paranoica, quebrar recordes no robot unicorn attack e até, vejam só, de cuidar de uma casa. sei fazer uma coisa de cada vez, acertar quase todas as receitas e sobreviver ao sofrimento sem fazer cena, ficar louca, dizer o que não devo antes da hora. 

as avós da gente sempre estiveram certas: "é preciso dar tempo ao tempo". e a minha mãe repete, enquanto me dá bolo de fubá, que tudo passa. e ela tem razão. 

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