Páginas

4.4.12

protect me from what I want.

Lembro que um dia quis tatuar essa frase. a do título do texto. ainda tatuaria, se acreditasse em tatuagens. se acreditasse em qualquer coisa que possa durar em mim antes que eu enjoe. falei dessa necessidade de ser-sozinha e hoje me descobri uma pessoa sem trato. chegam perto de mim e eu me encolho, como um desses gatos desconfiados que já levaram muita bordoada na rua e tem medo de serem açoitados de novo. os cachorros costumam ir sem pensar muito. dizem que os cachorros são os seres que amam verdadeiramente. ou eles não tem muita memória dos maus tratos. gente que ama de verdade é meio assim mesmo. esquece o que foi ruim, foca no bom, continua amando. gente que ama-demais. nunca fui dessa gente. sempre fui gato açoitado na rua que levou bordoada e ficou debaixo de chuva ensanguentado de pancada. talvez porque eu também tenha dado lá minhas bordoadas nos outros. hoje tenho preguiça das relações sociais, das relações amorosas, de qualquer relação enfim. podem me deixar em casa, com a minha tv. eu vou me deprimir um pouco, mas é melhor do que ser tratada como um nada depois de anos de devoção. acredito muito em amizades, muito mais do que acredito em amor (dizem que vem de eu ser aquariana, e embora eu negue, eu acredito mesmo um pouco nisso de zodíaco). mas até as amizades acabam. era bonito, foi bonito, a gente se amava e hoje eles recusam meus convites pra sair. e tudo bem também, ninguém tem uma dívida eterna de nada comigo, eu abdiquei de coisas por eles porque quis. porque amava. hoje amo, mas amo mais ou menos. amo sabendo que posso ser abandonada no minuto seguinte, e esses amores são menos verdadeiros. todo mundo foi embora. acho que todo mundo vai embora um dia. só ficou ele, ele que me faz ter essas conversas loucas no meio das tardes quentes de londrina e me lembrar que eu não sou mais aquela pessoa que eu era aos vinte um anos. ok, ninguém é aquela pessoa que era há dois meses atrás, imagine há dois anos, mas eu já acreditei em alguma coisa. hoje a gente anda pela rua e se pergunta se quer mesmo ter filhos, casar, se quer mesmo fazer outros amigos. nos tornamos intolerantes. temos medo. medo como aqueles gatos que levaram muita pancada. e se for assim? e se a gente colocar um monte de energia numa relação e ela não valer de nada. as feridas doem mais numa pele que já foi machucada. as feridas doem mais na gente que não sabe mais confiar. eu não sei. a cada vez que pareço de novo estar me entregando a qualquer coisa nova, vou tentando dar um basta. as pessoas te frustram. as pessoas vão te frustrar. a gente não pode cruzar aquela linha tenue que separa as relações casuais dos amores de verdade. qualquer amor. amor-amor ou amor de amigo. não é seguro do lado de lá. é seguro aqui. as feridas cicatrizadas, o esconderijo escuro. os segredos bem guardadinhos. vou fugir se tentarem me pegar no colo. sei que vou continuar fugindo. ou tinha que ter alguma dessas pessoas que são mais cachorros que gatos pra amolecerem meu coração. uma dessas pessoas que salvam animais, que tentam uma vez após a outra resgatar o bicho ferido. que vão com parcimônia, que querem-mesmo que querem de verdade. nem sei se essa gente existe. tudo que eu tenho encontrado é uma gente igual a mim. dá dois passos pra frente e depois três pra trás. ou dá passos pra trás quando eu dou pra frente. e quando dá pra frente sou eu que vou pra trás. é todo mundo gato machucado de rua com ferida sangrante.  todo mundo tem medo. a gente se olha nos olhos e vê um espelho. e ao invés de se abraçar sai correndo. gato escaldado tem medo de água fria. nós vamos nos afastar tentando salvar a própria pele. e machucaremos-nos. eterno ciclo. medo de amar número dois.

ou tudo que eu já tinha escrito aqui e continuo sendo.

Nenhum comentário: