sinto bastante sono. prefiro dormir. ficar acordada tem sido um sacrifício. me disseram que ia ser assim por alguns dias, esse eterno querer andar pela sala de pijamas e me enfiar debaixo das cobertas mesmo que esteja calor. ouço uma música aqui e ali, queria escrever uma história que fosse mais metáfora e menos vômito, mas me sinto incapaz. os meus neurônios trabalham devagarzinho, repensando as histórias aqui e ali. onde eu errei, até que ponto devo ou não desculpas, até que ponto devo ser eu, até que ponto devo mudar. limpo as lentes dos meus óculos todos os dias ao acordar e percebo que ela tem riscos e manchas que já não saem com o detergente que o meu oftalmologista me mandou passar quando elas embaçassem. assim também é a vida, cheia de riscos que não saem mais, e a gente tem que se acostumar com eles. eu, em mim, tenho vários. são essas cicatrizes que não sararam que me fizeram essa pessoa um tanto descontrolada que sou. medo do abandono, os dois pés atrás e a eterna mania de ficar bem longe de coisas que tirem meus pés do chão (desde os amores até as rodas gigantes).
tomo meus remédios pra gripe, adormeço no sofá, suo, tenho estado febril. às vezes me sinto meio drama-queen, meio querendo mostrar pra todo mundo que "olhem, eu estou sofrendo de verdade". mas não é isso, não exatamente. é que eu preciso compartilhar com alguém, senão a dor fica maior, encroa, eu não sei explicar. os enjoos continuam. também fui avisada de que seria assim. tento comer nutella pra ficar melhor, passo mal, acabo no sofá da sala com a minha mãe fritando as massinhas de pão da infância e me dando água com gás. as pessoas se preocupam comigo, dizem que eu vou ficar muito magra se continuar assim, fraca talvez, me chamam pra ir no cinema, em shows. eu não quero ver gente. faço um esforço por eles, e também por mim, mas sinto vontade de chorar sem motivo, às vezes vendo tv, às vezes no meio da rua, e assim tudo fica um pouco difícil. tomei remédio pra gripe pra sentir sono e ver se eu falto na aula da pós pela manhã. evito contar a mesma história de novo, todos os nuances dela me machucam. sei que eu devia ter um pouco mais de força, mas agora já não é culpa minha, tenho que dar tempo ao tempo.
não era amor, também. amor é uma coisa um pouco pior. amor a gente sabe quando é porque chora enquanto ouve "eu te amo" do chico buarque. eu não rompi com o mundo, não queimei meus navios, e a gente nem confundiu tanto assim nossas pernas nas travessuras das noites eternas (embora tenhamos nos amados feito dois pagãos). eu não deixei meu sangue errar de veia e se perder na bagunça do teu coração. estive um passo antes disso. ou dois. quem sabe vários passos antes disso. foda-se. a gente não mede sentimento. fato é que tenho sentido uma certa falta, embora tenha problemas em admitir faltas porque sempre me julguei muito autossuficiente. pros outros eu ainda finjo que sou assim. meus amigos todos passam a mão na minha cabeça, mas sorriem. não ia ser agora que você ia se abater, não por isso, não desse jeito. mas foi. claro que não só por isso, mas foi o estopim. tenho me permitido ser triste, entrar no quarto e ouvir adriana calcanhoto, lembrar de um ou outro passeio. os dias tem sido um pouco mais vazios que o habitual, eu nem checo mais meu celular, deixo no quarto. às vezes perco as mensagens de um amigo ou outro, mas também não sinto tanta vontade assim de sair. há uma semana atrás eu estava cometendo o desastre que ia me custar caro, e agora, uma semana depois eu fico chorandinho dopada de remédio pra gripe no escuro do meu quarto.
às vezes me pergunto o que será que você está fazendo, se sente um pouco que seja a minha falta, se um-dia-quem-sabe isso vai vir a ser uma história, bem sucedida ou não, e não chego à conclusão nenhuma. desliguei o chat do meu e-mail, abandonei o skype, vou evitar as mensagens o máximo possível, não checo tanto assim o facebook e estou me educando pra não parecer uma máquina de indiretas no twitter. até porque não é indireta nenhuma, eu só não tenho muito bem pra quem contar tudo isso, sabe, essas dores todas que eu nem sei sentir direito. não sou muito boa em sentir não, sou melhor em sair correndo, sempre fui. minha melhor amiga me dá um colo pela metade, porque anda muito longe. primeiro ela, por ser igual eu - uma histérica, me deu uns conselhos todos arbitrários "olha aqui, você tá proibida de ligar pra ele". depois eu disse que liguei, contei tudo, ela disse que eu também tava bastante errada, é, talvez seja isso, talvez a gente tenha que entender que as pessoas também ficam bravas com as coisas que a gente faz, daí vai de você aceitar ou não tudo isso. e ficamos as duas meio silenciosas, enquanto ela me deixa chorar, só que pouquinho pra não estragar a maquiagem. ela cazuza, toda cheia dos rompantes e eu caio fernando, poetizando a dor e querendo mapa astral pra saber quando é que a vida vai dar certo.
depois me refastelo no colo da minha mãe, que diz que eu não posso me martirizar tanto assim, e me indica remédios homeopáticos. faz cafuné na minha cabeça dizendo que tudo vai passar, embora goste um pouco mais de mim agora que eu lavo os pratos depois do almoço e parei de deixar bagunça na sala. ela fica feliz quando eu me arrumo direito pra sair e diz que eu ando muito fresca. eu rio, digo que tem gente pior, ela concorda um pouco. "é que eu sou fresca, mas sou muito desorganizada". depois derrubo um pedaço do meu waffle no chão da padaria rica em que vamos comer e ela ri, dizendo que a perfeição é esse ideal inatingível. mas pelo menos eu tenho me esforçado. não sei se ela te agradeceria se pudesse, mas às vezes eu acho que ela tem visto em mim um novo potencial pro crescimento. fica orgulhosa, do jeito dela, só que ri porque as golas das minhas camisas continuam meio desastrosas. ela me mima do jeito que pode, mas evita terminantemente me dar as coisas na mão. tem estado preocupada, desconversa dependendo do assunto, e assiste sempre à novela comigo.
sei que eu não vou morrer. nem de tristeza, e nem de hematoma. fico pensando que de repente, olhando de longe, dava pra confundir esse sintoma todo com amor. mas amor é um pouco mais que isso. não tinha dado tempo de construir. eu sei que você deve ter se assustado uma ou outra vez achando que uma hora, do nada, eu ia te pedir em namoro, mas eu nunca cogitei isso. pelo menos não no meio dessas situações. não que não pudesse ser, é só porque não era o momento certo. e veja, não era mesmo. sinto saudades, vou hesitar um pouco em dizer isso. mas é esquisita a vida sem o contato quase que diário de uma notícia sua aqui e ali. não tenho ninguém pra falar do meu dia, também. talvez você tenha. não sei se nos encontraremos de novo. tem sido dias difíceis por aqui, tudo que eu sei é que eu tenho que me cuidar antes de pensar em qualquer coisa que seja. às vezes penso em escrever um e-mail, ou dar oi nesses chats perdidos por aí, mas acho inadequado. estou inadequada pra qualquer situação, por enquanto. tenho evitado aglomerações de pessoas, a luz muito forte do sol, derivados de leite, bebida alcoolica, lugares quentes, gente desagradável, falar o que não devo, usar 212 sexy, ouvir radiohead, de caetano veloso passo longe, não tomo decisões imediatas e tento não me martirizar. tenho muita preguiça de sair de casa, acho que o universo aqui dentro desse quarto de paredes descascadas já é imenso demais. corro, ainda, só que devagar porque ando bem fraca da vida.
fico com medo de encarar o tal do psicologo, me irrito em pensar no psiquiatra fazendo um prognóstico do que eu posso vir a ter se não me cuidar, mas sei que é hora de ajeitar a vida. é bom saber que não se é louca, não assim, crazy bitch. é tudo uma questão de equilibrar os chacras. pelo menos não tem remédios que me impedem de beber na conta, mas também não ando com saco pra alcool, acho que quero ser sóbria nesse tempo em que coloco as coisas no lugar. todo mundo tem me entendido mais ou menos, me chamam pra ir no cinema, mandam as mensagens pra mim. eu fico sentada em casa esperando a carona. talvez eu chore vendo titanic. talvez demore meses até eu tomar um rumo na minha vida, mas acho que é melhor assim, sem afobações. estive em uma ânsia de ser feliz, e ser feliz (quando acontece), vem de pouco em pouco. acho que a felicidade se constrói e eu me atropelei. você foi atropelado no processo também, sinceras desculpas. a vida adulta é um processo complicado. tem dessas de falarem as coisas na sua cara, mas também tem quem te abrace depois. tenho amadurecido muito no processo, step by step. me sinto faxinando a vida, colocando cada coisa na sua gaveta certa. lembro dos teus defeitos com certo apreço enquanto arrumo a casa. hoje passei a esponja três vezes no prato e ri sozinha. minha mãe diz que eu vou acabar sendo mais fresca que ela, diz que eu puxei a vó. tudo vai se ajeitando. eu vou me desesperar algumas vezes ainda, e em outras vai ter chocolate no meu cabelo. nem tudo é perfeito. nem eu, nem você.
eu acho que ainda acredito no lado bom da vida
(ou estou dopada de resfenol).
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