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17.4.12

Will the fight for our sanity be the fight of our lives?

(divagações aleatórias sobre loucura & sanidade numa sacada qualquer no meio do isolamento)


Loucura e genialidade:  não tenho medo de ficar louca. Quer dizer, eu sei que a gente está ligado na sanidade por causa de uma linha tênue. Estar vivo é em potência poder ficar louco. Não acho que a gente esteja imune. Quer dizer, você está aqui conversando comigo, e de repente alguma coisa te esgota e você perde a conexão com a realidade. Todo mundo é passível de ficar louco. Acho que as pessoas geniais são taxadas de loucas, ou são loucas mesmo justamente porque em alguma hora foram a peça com defeito. Claro que há explicações ciêntificas pra isso. Dizem que os bipolares em fases de mania tem um raciocínio super rápido e isso faz com que sejam mais criativos. Eu desconfio ter umas fases de mania leve, em que me sinto muito produtiva, escrevo bastante, leio demais e é claro que isso ajuda, mas ao mesmo tempo todo esse fluxo de pensamento te impede de concatenar direito as ideias. Eu to aqui escrevendo, mas minha cabeça pensa muito mais rápido que isso. Se eu estivesse falando, as coisas sairiam mais claras. Ser louco não é uma vantagem, dá muito problema. Mas é exatamente o problema que te permite ser genial. Quando você não se encaixa, você fica uma peça com defeito, e com isso acaba tendo tempo pra criar, ou pensar em outras coisas. É preciso estar longe do processo todo pra poder ser criativo. Pode parecer estranho falar, mas nenhum gênio sai de um trabalho das oito as seis, sendo workaholic. Não tem tempo pra genialidade no processo da vida. Pelo menos não nesse em que a gente acostumou a viver. Quando você não nasce pra isso, uma hora ou outra você vai dar defeito. O que não significa necessariamente ter algum distúrbio de personalidade, é só uma coisa simples: você não se encaixa. Quanto mais encaixado você é, menos tempo há pra ser gênio em alguma coisa. Mas a loucura, por assim dizer, tem suas vantagens. A loucura, ou a improdutividade. Quando você está nesses processos, você acaba entrando em contato com partes bastante abissais da sua existência. É daí que eu acho que sai a criação. Se você está vivendo uma vida produtiva num emprego qualquer, acho que não existe tempo pra isso, e se não existe tempo pra entrar em contato, não existe tempo pra arte. É claro que eu estou falando aqui de loucuras leves. Romper de vez com a realidade pode acabar por romper até com a genialidade. É preciso ter cuidado. Até pra ser louco a gente tem que ter um pouco de equilíbrio. Mas ser desregrado eu acho que é uma constante. Não desregrado, mas é necessário ser um pouco peça com defeito se quiser ser gênio. Gente normal é normal pra sempre.  Tem que se romper com o comum se quiser ser criativo.

Sobre a improdutividade:  Acho que esses momentos em que a gente não faz parte do mundo são bastante interessantes. Por exemplo, eu estou desempregada e ao mesmo tempo meio doente, então não me sinto capaz de fazer parte de um emprego, ou algo do tipo. São cinco horas da tarde e dá pra ver as pessoas loucas da minha sacada indo e vindo de algum lugar. O que eu fiz? Fiquei em casa, assisti um pouco de tv, organizei minha estante de livros, pensei um pouco sobre diversos assuntos, mas não faço parte da mola propulsora do mundo. Eu não estou ali fora produzindo. É esquisita essa sensação. É também esquisita a sensação de que você só faz parte do mundo quando está produzindo alguma coisa. Quer dizer, eu seria melhor vista pelas pessoas se eu estivesse em um emprego qualquer, fazendo alguma coisa, mesmo que essa coisa fosse extremamente irrelevante num cenário mais geral. Eu faço sites. Talvez o site seja bastante importante pro dono da empresa, e também pra algumas pessoas que o acessam, mas e aí, se aquele site não existisse, será que o mundo seria tão afetado assim? Fico pensando nisso e sei que tem gente que faz coisas ainda mais irrelevantes num cenário geral, mas elas não podem ficar em casa fazendo o que lhes aprouver. Estar com 23 anos e não inserida no mercado de trabalho é malvisto. Eu deveria estar investindo numa carreira, mas também fico pensando até que ponto isso de ter uma carreira é mesmo super necessário. Quer dizer, existe minha satisfação pessoal ali, o fato de eu precisar de dinheiro, o jeito como as pessoas me veem.  Mas não sei. Acho problemático estar numa posição em que eu não acrescento nada na vida de alguém. Algo que dure, eu quero dizer. É claro que a gente pode pensar que nada dura, e tudo isso se torna então muito relativo, porque se nada faz muito sentido é completamente possível que qualquer pessoa ocupe qualquer cargo e assim todos eles teriam a mesma relevância, já que são coisas efêmeras.  O que eu quero dizer é que, de repente, a pessoa não teve uma carreira brilhante e acrescentou muito mais coisas às vidas das pessoas do que grandes diretores de empresa. Sempre penso no meu vô. Ele ensacava café. Não fez faculdade nem nada, e eu sei que vivo com muita coisa que ele me ensinou. Não sei se eu , no meio da minha faculdade-pós graduação-textos escritos, serei tão relevante na vida de alguém quanto ele foi na minha. É claro que existe uma culpa de eu não estar produzindo também, eu me sinto velha, sei que preciso de uma coisa qualquer pra poder ter uma casa, dinheiro pra viajar e tudo o mais. Mas agora sei que não sou capaz. Sou um pequeno ruído na roda propulsora do mundo.  Não estou inserida no processo. É esquisito ser a peça com defeito, mas sobrevivemos. 

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