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27.12.08

influência.

e tudo isso daí que eu escrevo embaixo parece e é, tão propositalmente, tão ridiculo e estranho. tão bonito-perfeito, porque eu li tantotanto caio fernando abreu e tudo ficou assim meio que.
nem gosto tanto, adimito pra ti assim, crua, que nem gosto tanto, mas me tira o tédio dessas noites cinzas que quase amanhecem vermelhas me fezando escrever sobre essas coisas que não são minhas mas que devem ser de alguém. as coisas sempre tem que pertencer a alguém, depois que se tornam algo. pelo menos eu acho que sim, não achas?
se não for de nenhuma valia, se não for de tocar por total se não te fizeres chorar ou pensar que bonito-que-foi-aquilo por alguns segundos, então...

... que seja doce.

para quem sabe se.

eu nem lembro o que eu pensei quando olhei pra você da primeira vez que te vi, mas deve ter sido algo que morou entre o abstrato e o idiota e que provavelmente não valeria a pena escrever em voto de casamento ou livro de amor nenhum. eu lembro bem mesmo de olhos bem azuis e de desajeitos tão grandes que me fizeram sorrir antes de eu resolver olhar a lua e pensar no quanto o mundo é vasto os amores são longíquos e estranhos. lembro disso, e só. depois devo me lembrar de milhares de conversas suas pra mim e minhas pra você, dessas conversas bobas que começam sem porque e terminam de um jeito que você nem saberia dizer como é mesmo que aquilo começou, e só é tão engraçado que dá vontade de pular, de tanta felicidade. felicidade é daquelas palavras que você pode usar em certos momentos, e eu posso dizer que a gente pode usar felicidade mesmo pra dizer isso aí que a gente passou. eu sei que eu ria, mas não sei porque eu ria. sei que você era sim, de algum modo, inteligente de um jeito que eu não sabia como era, mais era. e tinha uma habilidade grande em me fazer gargalhar que só não era maior do que me deixar sem jeito pensando comoéqueé que alguém pode ser tão ridiculamente atencioso com outro alguém só porque um dia ensinaram que assim seria e é. eu te ensinei algumas coisas, ainda me lembro de algumas tardes ali, vendo uns acordes, ensaiando umas batidas. mas sei que você me ensinou mais sobre mim e sobre tantas outras coisas que eu nem sei te contar.
ensinou também sobre músicas que eu um dia acreditei ser fantasia de compositor, me ensinou a ser alguma coisa que eu já não era há algum tempo, por medo de ser bem ridícula.

eu nunca sei porque é que as coisas duram, eu nem sei se eu sou do tipo que fica na memória de alguém. eu sempre achei que era perfeitamente aceitável que depois de dois meses eu virasse poeira cósmica em qualquer pessoa bem avisada. porque as pessoas vão em frente com as suas vidas e é normal que um dia elas resolvam desempoeirar suas cabeças e esquecerem quem foi mesmo que um dia disse aquela coisa engraçada ou mesmo esquecer daquela noite que te pediu pra ficar e você ficou, ali, sem fazer nada, conversando, olhos desconfortavelmente nos olhos e cabeça no colo, só por estar. é mais possivel ainda que se esqueça do desavisado abraço de despedida e dos seus olhos baixos com a certeza total de que não faria nada por orgulho e que se arrependeria calada no trajeto que demora quinze minutos entre luzes e carros de volta pra casa.

eu não ter virado poeira cósmica é algo que eu queria que, mas não sabia se. achei que tinha virado poeirinha ali, naquele dia. sabia que um dia você iria desempoeirar essa sua cabeça, limpar as gavetas, esquecer que um dia eu já fui uma insistência grande, uns olhos convidativos e uma boca cheia de palavras ridiculamente ensaiadas só pra que você culminasse em vermelhidão e elogios. pois acho que você limpou mal as gavetas, ou eu sou uma poeira cheia de gordura, ou justo aquele cantinho ali que você achou que ninguém ia ver era o cantinho em que eu morava. começaria tudo outra vez, mas nem tanto.

eu só sei dizer que somos duas crianças ridículas e inexperientes e que sinceramente foi tudo tão brega e de uma comédia romântica tão sessão da tarde que eu só posso te achar, mais uma vez, lindo. eu sempre achei que eram muito mais bonitos os amores que não são. não são e não existem assim, físicos, beijos, abraços, amassos e nem eu te amos que são ditos verbais " eu te amo". sei que te entendia pelo olhar e ria feliz, sei que me olhava quando eu não e eu te olhava quando não e as vezes encontros aconteciam, risonhos, como as mãos que se encostavam tímidas em brincadeiras de não querer. sempre soube que gosto mais do estar lado a lado sem olhar mas com o coração pulando rápido, e com aquela boca que engole seco a vontade de falar ou ser algo mais que silêncio. sei que somos tudo isso justamente porque não podemos ser independentemente de qualquer coisa.

mas sei que quero não virar poeira cósmica para os outros possiveis encontros porque eu sempre sei que vai sempre valer a pena esse não ser bonito que a gente é. e sinto porque teus olhos sempre dizem tanto, e o seu não conseguir falar é sempre mais expressivo do que se disseste tudo. o que eu sei é que sempre gostei dos amores que são por pequenas delicadezas. e são os pequenos cuidados, os pequenos toques que fazem com que eles não desempoeirem das nossas cabeças. só quero dizer obrigada por cuidar de mim, sempre sempre e por se preocupar tanto e tão. quero ser contigo essa coisa que não é, nas entrelinhas, para que um dia quem sabe esteja ali todo dia a te observar dormindo e cuidar de ti até poder dizer sorridente todos os bom dias pro resto da sua vida, sem despedidas casuais que de tão belas chegam a ser tristes. quero empoeirar tudo para que um dia quem sabe se.(jamos)

entende?

Você não entende, não adianta você não entende e eu poderia ficar aqui te escrevendo, te escrevendo total e completamente isso tudo que eu sinto e sou mas não adiantaria, você não entende e pronto. Você não entende e isso faz doer aquela coisa que aperta e dá vontade de chorar. Você nunca entenderia essas coisas que eu tento te dizer aleatoriamente e você sempre sempre me interrompe. E eu estou sempre esperando que você me responda o que eu quero ouvir, ou só uma coisa bonita, sabe? aquelas coisas bonitas que a gente vive esperando que digam pra gente, mas nunca é. você só diz, diz alguma coisa, ou me pergunta sem muita empolgação se eu sei se os mercados vão abrir agora, diz vinte e seis, logo depois do natal. eu nem brigo, só te olho e respondo que sim, que dia vinte seis logo depois do natal é só um dia comum e não é feriado nem nada e que um dia eu vou mesmo é enjoar dessa sua mania de ser tão absurdamente desligado. Depois de pensar isso eu penso em te explicar tantas coisas e te escrever um tratado, ou te dizer um monólogo sobre tudo isso que eu sou, sobre todas essas coisas que ninguém entende e só eu acho sentido, mas não vejo muito porquê. a gente nunca foi, sabe? a gente nunca disse ao mesmo tempo a mesma palavra e nem ao menos você soube exemplificar perfeitamente aquela coisa que eu estava sentindo com uma metáfora ridícula. nunca foi assim, mas eu queria tantotanto que um dia fosse. eu estava aqui, sozinha, na luz e pensei em te explicar porque eu gosto disso tudo, de luzes e tal, e de ficar escrevendo sem que ninguém esteja mais. queria te explicar sobre saudades e dores no peito, sobre os amores que eu sei que não vão durar, sobre sabotagens a mim mesma, sobre a empadinha de palmito que eu deixei secando aqui do lado na véspera de natal. queria te alugar pra te explicar tudo sobre mim, tudo que alguém um dia já entendeu, mas eu queria que você entendesse. sabe? tudo. tudo, grande, extremo, infinito, até amanhecer. Mas não adianta, você não entende mesmo.

23.12.08

Com entradas para o show mais esperado do ano, ele escolheu ficar com ela.

( e é isso que fez toda a diferença)

tarde de dezembro, nem quente nem frio. céu nublado. expectativas e contagens regressivas pro natal. pessoas indo. pessoas vindo. pessoas comprando. pessoas. a quinta feira a tarde tem gosto de cabo de guarda chuva, ao menos pra mim. roberta. desiludida. roberta-desiludida. nenhum telefonema, telegrama, sinal de fumaça, nada. solidão total em meio a consumismo exacerbado e uma cidade ( e uma alma) sem cor. passos rápidos, latinha de sprite na mão, all-stares andando rumo a volta pra casa. vazia. impessoal. mas casa. todo lugar onde se vive é casa. paredes brancas e silêncio passando marca texto amarelo na solidão. destacada e fria.

oi, roberta. é quinta feira a tarde e você não tem nada pra fazer. seu namorado se encontra há um estado e meio daqui, são paulo, ele vai ver o show da banda mais legal do universo. pra ele. pra você é só uns caras que fazem um som meio sem graça e sem cor e principalmente sem aquela pitada de coisa que faz com que você se apaixone por uma determinada banda sem nem saber porquê.

pois jazo em santa catarina cinza, no apartamento impessoal, alugado, na cidade de florianópolis. ali, do lado da faculdade e daquela padaria onde todo dia eu pego dois croissants de presunto e queijo. tão tão tão longe de casa. metrópole. São Paulo. Viaduto movimento barulho, namorado. ah, que saudade suicida.
l
igar, talvez-quem-sabe, pra que? são seis e dezenove e ele deve estar no metrô com aqueles amigos que só são amigos dele. e dizer o que? "oi, amor, tô com saudades queria tanto você aqui." ele, tickets na mão, tendo certeza que eu só devo ligar pra ele na intenção de estragar, ou pelo menos colocar uma pitadinha de culpa em todo e qualquer plano. tudo isso costurado bonito com aquele típico você-nunca-sai-com-a-gente-deixa-ela-pra-lá que escaparia da boca de algum dos amigos dele, no metrô que faz o caminho rumo ao credicard hall e ao show da banda mais legal do universo pra eles também.

mas é que às vezes santa catarina é tão cinza... e a solidão deixa tudo tão estranho e frio que eu preciso de. mas todos os meus pedidos se confundem perfeitamente com chantagem emocional e ele sempre vai no fim das contas, porque ficar não é uma escolha, mas um não-apareceu-nada-pra-fazer-hoje-posso-ficar-com-você. porque se aparecesse, ele ia. ligava, pedia desculpas, e ia. ia sim. ia se divertir. ele precisa de. ah, roberta. larga a mão de ser chata.

a tevê emite sons irritantes e eu deixo o telefone lá, porque eu não ia estragar o show da vida dele dizendo que eu estou com saudades, ou simplesmete com necessidade de. o " tá bom, eu fico por você" nunca foi uma resposta válida e hoje ia ser só sacanagem e minha.

horas, minutos, cada segundo demorando dois e a solidão ali, olhos abertos. telefone. telefone? marcelo. marcelo? oi amor. oi. e o show? não fui. como não? cancelaram? escolhi ficar com você. hoje? é. o show, marcelo, o show da sua vida. rendeu duzentos e cinquenta reais pra eu gastar em telefone com a mulher da minha vida. cambista, filha duma puta. sorrisos. e seu dia, como foi? teve gosto de cabo de guarda chuva o dia todo, mas agora tem gosto de escolha certa.

florianópolis nunca pareceu tão brilhante e pela primeira vez depois de meses, o gosto de cabo de guarda chuva deu lugar a uma certeza de escolha certeira que atendia ( e olha, escolhia ligar ) pelo nome de marcelo, que tinha escolhido assim, em negrito e bem destacado ficar com ela no dia do show mais esperado do ano. e são essas pequenas escolhas que fazem toda a diferença nesse dia a dia cheio de (re)validações necessárias chamado amor.

12.12.08

" me falem do sagrado coração porque eu preciso de ajuda."

"It might be a quarter life crisis
Or just the stirring in my soul "

O samuel rosa disse numa música que " diabo é quando não há mais poesia". Isso me martirizou várias vezes durante a minha parca existência. Mesmo antes de descobrir a música, mesmo antes de qualquer coisa. Diabo é quando não há mais poesia. Diabo é quando além de tudo, você não consegue transmitir em forma de palavrinhas o tamanho da coisa que está sentindo. Quando é felicidade é o normal. Você não consegue verbalizar, mas pra quê verbalizar a vontade de sair por aí saltitando e rindo na cara de todo mundo por eles não serem tão felizes quanto você? Não é necessário. Já a tristeza é necessário palavras. é necessário que ela saia de alguma forma. É necessário vomitar o sentimento como forma de alívio.
Oi, não estou conseguindo.
Tudo o que eu sei sobre mim é que eu durmo tarde e acordo mais tarde ainda. Não quero ficar acordada. E quando tento dói. Na maioria das vezes. Eu me embriago de programas de televisão ou entro em alguma história pra fugir da minha vida. Choro. Tenho chorado com uma facilidade mais que absurda. Por qualquer coisa, por qualquer indelicadeza. Estou sendo machucada com pequenos atos involuntários de qualquer pessoa. Me forço a sair pra me destrair. Saio pra não ficar aqui, me martirizando, relembrando as coisas que eu não quero. Me sinto presa. Atada. Tento me libertar e só fico mais dentro desse não sei o quê. Magoo quem eu amo. Quem eu amo vive me magoando sem se dar conta. Me sinto absolutamente sozinha. Choro. Não me sinto um ser importantante a pelo menos um mês. Há duas semanas as coisas pioraram de vez. Não tenho com o que me preocupar. Notas, faltas? Não. Me sobrou a minha vida. Eu estou sozinha com a minha vida e não gosto dela. Não sei o que fazer o que ela. Não espero que você saiba, também. Se você souber, não me diga. Eu não esprro mudar, eu não espero nada. Eu espero que você sente do meu lado e diga que me ama, e só isso. Bem da verdade eu espero que demonstrem que me amam, e isso não tem acontecido com muita frequência. Eu espero devoluções do que eu digo. Eu estou magoando, eu sei. A culpa não é minha. Tem algo aqui dentro, você não entende? Eu não consigo... Eu não consigo. Eu queria ser isso que você quer que eu seja. Ia ser melhor pra mim, até. Mas eu não consigo, entende? Eu sei que eu fico aqui me auto destruindo. Tem uma vida lá fora. Todo mundo fica vivendo suas respectivas vidas. As pessoas esquecem das coisas, se perdem no tempo. Eu não consigo. Se você soubesse o que fica aqui dentro, se vocês soubessem. Eu não devo estar bem, eu sei. Eu queria dizer trocentas outras coisas, mas eu não consigo. A coisa que está aqui dentro não consegue ser vomitada. Não quer ser. Mas dói, faz chorar, faz dormir, faz sentir carência, faz brigar por causa da carência, faz a pessoa que possui a coisa se magoar pela mínima não ação. Eu só peço que me entendam, e que me desculpem por qualquer coisa. E principalmente, não fica saindo de perto de mim, merda. Ainda não deu pra entender que eu preciso de ajuda? Não que me digam o que fazer. Só fiquem aqui perto de mim.
Eu estou absurdamente triste e isso não adiantou de nada.

" keep breathing, keep breathing..."
"- I can't do ito alone..."

8.12.08

as pequenas ausências.

o que você aprende, uma hora ou outra é que, você vai viver de pequenas frustrações. Uma aqui, uma ali. O mundo vai tirando de você pequeninos pedaços de cada vez e no fim das contas você já nem vai lembrar que pedaços tiraram ou deixaram de tirar. Um dia, entretanto, sentirá falta de um deles e ao procurá-lo, vai doer. A gente sempre diz que se acostuma com as pequenas faltas, as pequenas ausências. A gente está sempre desculpando os pequenos erros, mas a grande verdade é que, eles, como pequenos vermes vão tirando pedaços irreversíveis da sua alma e quando você vê, você virou pó.
Ou pedra.

1.12.08

A ausência.

"Não entre, não fique aqui", ele disse. Queria ficar sozinho, completamente sozinho como se o silêncio existisse ancestralmente antes de qualquer outra coisa. Queria observar cada mancha na parede do teto do seu quarto já inabitado há tempos. Não queria ninguém que lhe olhasse com olhos de desaprovação só porque faziam exatos três dias e duas noites que não saia daquele quarto nem mesmo pra observar se chovia ou fazia sol do lado de fora. Queria estar inerte, apenas o ser deitado na cama que observa o teto e pensa pensa pensa pensa. Pensa sem vírgulas nem pontuação, porquê os pensamentos são muitos e muito rápidos. Fazia muito tempo, anos, senão décadas que não parava e ficava. Eram tantos telefonemas, tantas pessoas, tantos compromissos, tantos afazeres, tantos e tantas que de repente sentiu vontade de estar só e parado. Pois ficou exatos três dias e duas noites ali, sem se levantar, sem comer, sem dormir. Apenas o homem que olhava para o teto que não olhava de volta e que pensava demais. Pensava em tantas coisas que não podia ordená-las. Pensava então que precisaria ficar meses pensando só para chegar em alguma conclusão depois de dez anos sem nunca parar. Desligou o telefone e pediu a todos que não o incomodassem. Precisava ficar ali, parado, no terrível encontro de um homem com ele mesmo. Na abissal tristeza de uma alma que já não falava há tanto tempo que quase tinha se calado. Precisava ficar ali entre paredes brancas e manchas feitas pelo tempo que nunca tinha sequer prestado atenção. Pensava talvez em ausência. Um dia viria a ausência, e aí? E aí sairia do quarto e viveria de novo, seria assim, o normal teria de ser assim.

Passaram-se então dias, e os dias foram formando semanas e as semanas formaram um mês e depois de um mês se sentiu a ausência. Ausência do que? A ausência. Se fala em ausência e a falta se faz presente. Mas é uma falta grande, uma falta grande de não se sabe o que. É simplesmente ausência. E pensou em se levantar para se livrar da ausência, mas já gostava tanto de seu quarto com paredes brancas e já tinha se apegado tanto as manchas de seu teto que resolveu ficar ali. Pensou que a ausência ou sumiria ou ficaria ali, mas já não tinha vontade de nada. E os meses foram formando bimestres e os bimestres foram formando semestres e dois semestres formaram um ano e ele continuava ali em seu quarto com paredes brancas e manchas no teto. Ficava deitado, ele e seus pensamentos e a ausência. A ausência se fazia persente todos os dias em todos os minutos em todo tempo. No começo incomodava, agora a ausência simplesmente se faz presente. Quando se faz presente a ausência logo sua presença passa a ser ausente. Entre paredes brancas e manchas no teto ela até está, mas é como se não existisse mais.


Acostumaram-se.

Senta-te, bebe.

Pega uma cadeira, senta-te. Não quer tomar alguma coisa? Podes pedir qualquer coisa, eu pago. Pago um vinho, uma cerveja, uma água com ou sem gás. Pago também pela sua companhia simples, se não quiseres beber nada. Estou sozinho aqui há tanto tempo. Esse bar é escuro, as pessoas estão todas bêbadas ao meu redor. Não que eu goste de sanidade, na verdade eu nunca gostei de gente sóbria, gente centrada. Mas queria alguém pra conversar, você me entende? É que às vezes a solidão dói. Tem alguma coisa em ficar sozinho que machuca. Já tive todas as conversas possíveis comigo mesmo. Já andei por todas as esquinas da minha alma e percorri caminhos que agora percebo que não tem volta. Entrei por portas fechadas à anos. Fiquei trancado em quartos que já criam teias de aranha de tão desabitados. Não tenho mais pra onde ir.

Acabei ficando no vazio que é a minha alma. Me perdi por aí, não sei mais por onde ando. Sei que esse andar por mim dói. Sei que me aperta o coração, me faz faltar ar nos pulmões e às vezes me sinto tão cansado de caminhar que tenho vontade de chorar. Chorar demais e de dentro. Chorar com aqueles barulhos feios que as crianças fazem quando estão muito sentidas. Ás vezes só sinto vontade de permanecer parado e inerte nesse vazio que nem tenho mais pretenções de preencher.

Aceita um cigarro? Não, eu não fumo. Não gosto de fumaça, nem dos dentes podres que me sobrariam e além do mais o cheiro me enjoa. Eu já sou enjoado normalmente. A vida me enjoa, me faz querer vomitar. Mas eu nunca vomito. Só choro. É um enjôo estrutural, eu sei que não vai passar nunca. Eu te ofereço cigarros para que não vás embora e continue me escutando. Nem estou pedindo que opines e nem que sejamos amigos ou coisa assim. Eu só preciso de alguém de carne osso e olhos me encarando e tendo alguma preocupação comigo. Eu já não me sinto mais vivo, se é que você me entende. Isso de passar muito tempo sozinho faz com que você, de certa forma, não pertença mais ao mundo. É só um ir e ir e ir para caminhos que você mesmo deve escolher, mas que não tem a mínima idéia de quais sejam. Numa dessas caminhadas vim parar aqui. Aí te avistei, finalmente um rosto conhecido depois de tanto tempo e pedi para que sentasses e bebesses comigo. Ninguém conversa comigo há tanto tempo...

Já não deixo mais meu telefone ligado e esqueço de carregar o celular. Há algum tempo ainda havia a esperança que um dia o telefone ia tocar, ou ia aparecer de surpresa alguém na minha casa. Algum amigo desses que eu não via há tempos e que resolveu lembrar de mim. Creio que essas coisas não existem, salvo em filmes, ou em livros. Depois de um tempo eu simplesmente desisti de esperar. Sei que ninguém vai aparecer. Sei que a solidão é minha amiga, minha companheira de bares e calçadas e já não há mais nada que eu possa fazer. E aí você apareceu e eu tentei comprar sua companhia com uma bebida, um cigarro. Compro qualquer coisa e pago qualquer preço só para que eu não sinta mais essa dor de existir e estar só.

Estar só dói as veias depois de um tempo. É um tipo de sangue que faz esforço para correr, para abastecer o seu coração. Por algum tempo eu me bastei. Depois tentei a tv, os livros, as músicas, a bebida... A companhia sintética me serviu por algum tempo. Depois disso não há mais o que fazer. Precisa-se de pessoas de carne e osso mesmo que elas apenas finjam te ouvir. Sentes-te confortável aqui? Não me parece o tipo de lugar onde virias, mas viestes e só agradeço por estares aqui sentado e me ouvindo falar essas coisas sem nenhum sentido. Creio que devo estar te entediando, já é a quarta taça de vinho que tomas e já não deves nem me ouvir mais. Eu não preciso que me ouças. Eu só preciso que estejas aqui, só por estar, só pela sensação louca de parecer conversar com alguém, coisa que não faço desde nem posso me lembrar quando.

Eu podia colocar um boneco na minha frente e fingir que ele é uma pessoa. Uma companhia plástica, até pareceria real. Não posso. Preciso sentir que alguém respira perto de mim. Nem falas, mas bebes e respiras. Posso ver que tens brilho em seus olhos e ouço colocares a taça na mesa depois de cada gole. Estás aqui, mesmo que não por inteiro, de corpo presente. Eu só peço por um corpo vivo perto de mim, ainda que não fales. Um corpo quente que eu possa ouvir respirar. Não preciso mais de companhia, só de alguém que ao menos finja me ouvir. Já não pertenço a esse mundo e sou completamente só. Senta-te, continua bebendo que ainda tenho o mundo pra te contar e não me ouvires, não comentares, não fazeres nem movimento de aprovação. Só fica, que me contar sempre parece o melhor jeito de me esquecer.

28.11.08

da obrigatoriedade da necessidade da melancolia e sextas feiras.

Melancolias de sexta de madrugada.

Ei, já é sábado.

Tem pessoas curtindo em esquinas pela cidade. Há pequenos grupos de pessoas assistindo shows em bares alternativos. Deve haver uma garota bebendo pra esquecer de seus problemas. Deve haver aguém que saiu as oito e vai voltar as cinco da manhã fingindo aproveitar sua madrugada. Há um garoto sedento por amigos e saídas. Há a riculariedade da obrigatoriedade de não se estar, não aqui, não casa numa sexta feira à noite.

Desculpem, sempre fui muito depressiva pra isso. Acho tudo só muito vazio. E detesto a palavra " pessoal." Prefiro sair com aqueles que a gente pode chamar pelo nome, e sinceramente prefiro a solidão em casos como esse, em que a gente quer dar pause no universo até conseguir se resolver de fato. Nunca pensei que alguém pudesse pensar assim, que nem eu, em dar pause no universo e você pensou e eu te expliquei o que era, a cena toda. Foi quase a mesma coisa quando você disse que o que você sentia era vontade mandar o mundo calar a boca. Não nos parece óbvio que isso exista? Mas é abstrato, tão abstrato. às vezes acho que só a gente entende.

Eu sempre acabo assim. Há de haver pessoas se divertindo, ou supostamente se divertindo em algum lugar longe daqui, ou na esquina da minha casa e tudo que a gente consegue é isso, de estar aqui, conversando.
São apenas palavras. Palavras de uma madrugada em que eu tinha me prometido nem entrar aqui, nem nada, só dormir.

As coisas definitivamente acontecem por alguma razão que eu desconheço.

Eu podia dizer que eu queria voltar a confiar em todo mundo outra vez, mas é como eu já tinha escrito antes... eu nunca confiei em ninguém pra que pudesse tentar uma outra vez, então prefiro deixar como está porque parece o único jeito de existir e não é como se eu fizesse pra ofender. Não é como isso viesse de você para. É uma coisa que nasceu e existiu aqui dentro e eu não vejo possibilidades de uma mudança muito brusca. Justo eu que detesto as pessoas que não mudam e comportamentos arbirtrários.

No meio da minha madrugada ainda tem uns carros passando aqui e ali, e gente indo. As pessoas estão sempre indo, já percebeu? eu nunca sei se elas sabem mesmo onde vão chegar. Elas chegam, mas será que era ali mesmo que elas queriam estar? A obrigatoriedade da ridicularidade de existir como se deve, de se divertir. Eu não sei, eu nem estou indo, sabe? Eu podia parar e tentar chamar o pessoal pra sair e só voltar as seis da manhã, quem sabe, esquecer, dormir e nem nada. Mas sabe, eu não tenho um pessoal, nem gente com apelido nem nada. Eu tenho vocês que eu chamo pelo nome e que, cara - expressão contemporânea que denota algo que vem mesmo de dentro - não sei mais viver sem.

Vocês que se cruzam sempre, porque eu fiz questão que se juntassem pra que continuassem perto, vocês que surpreendem a todo tempo, pensando o que eu penso, ou simplesmente gostando mais de mim do que eu imaginaria que. o que fica com ponto mesmo, não sei o que escrever depois disso, não quero ser sentimental.
Não sei ser sentimental, mas eu sinto e vocês sabem.

Deve ter alguém que se diverte mais que a gente, que saiu as oito e vai voltar as seis. Que aproveitou a noite e que está feliz e bem alto, drugs and alcohol, ou simplesmente a ridicularidade do estar feliz e curtindo só pra fingir que você não é, ali no meio dessas pessoas que só sabem de você seu nome e umas coisas que voce contou porque todo mundo pergunta como sua faculdade a sua idade e a sua religião e se você tem ou não namorado(a), uma alma solitária e ridiculamente superficial. sozinho, porque ninguém nem te conhece além das roupas que você veste e das coisas que você conta. O mundo está sedento de gente que te conhece pelo olhar, mas é melhor nem ver mesmo.

Nem ver que o dia que você precisar eles vão dizer que eu-não-posso-mas-a-gente-marca-outro-dia-valeu? E ninguém entendeu a obrigatoriedade da necessidade da ridicularidade de todo mundo precisar de alguém que saiba mais do que as coisas que você conta pra ele, ou contaria pra um estranho qualquer que conheceu ontem, ali, junto com eles enquanto tomava uma cerveja. Que você precisava ali, aquele dia, uma presença só. Porque existir precisa de companhia, por mais que você viva repetindo que não.

A Ridicularidade da obrigatoriedade de ser falsamente feliz me enoja e há tanta superficialidade, você não perecebe?

Estão todos andando rumo a lugar nenhum, chegando e ficando e indo embora sozinhos completamente com eles mesmos e seus fantasmas que nunca vão descobrir, porque estão muito ocupados tentando ser felizes a qualquer custo.

A minha obrigatoriedade consta com as pessoas que eu conto nos dedos, em dias não determinados e hoje eu estou sozinha depois de conversas sobre pausar o mundo e por mais depressivos que a gente pareça, os iguais se reconhecem entre si.
Agora eu estou sozinha, num silêncio total, eu nunca estive tão deslocada, tão estranha, tão ridícula e tão miserável. Mas nunca estive tão confortavel como.

A melancolia das sextas feiras a noite continuarão a existir e eu até poderia dizer que eu queria me divertir mais nas sextas a noite, mas como eu nunca acreditei em diversão desse jeito eu esqueço o mais e fico com o que eu tenho porque parece o único jeito de existir, e ainda bem.

7.11.08

Pensamentos aleatórios...

...Para aproveitar um dia em que o cérebro não consegue formar raciocínios inteiros.

Cólica da hora de dormir a hora de acordar, mais a manhã inteira. Buscopan tem um gosto amargo amargo amargo. Sair atrasada acontecerá toda vez que eu não reprogramar meu despertador. Acordar sozinha depois de cinco minutos é coisa de gente muito mais evoluída. Meu cabelo não está nada bom. Nada. Buscopan tem um gosto amargo amargo amargo. Os caras do quatro sempre pegam elevador no mesmo horário que eu, só que não devem parar para calçar os sapatos, então sempre ganham. Preciso de copos de mate pra levar de manhã. Esqueço das garrafinhas. Não aguento mais andar esses três quarteirões. Sempre me pergunto se os abacaxis do cara que também vende morangos são doces. Aquela menina na minha frente aguentava andar como com aquele salto desajeitado? Continuo nao entendendo isso de combinar sapato com blusa, é cafona. Eu consegui calcular exatamente o horário de chegar ao ponto para chegar na faculdade uma hora atrasada. Eu estou com cólicas e qualquer atraso é perdoável, pra minha consciência, é claro.

Não entro no ônibus se não tiver lugar pra sentar. Eu entro no ônibus pra ficar em pé, eu tô atrasada. Aquela tia ali devia descer, alguma hora. Ninguém desce quando você quer sentar. Afinal de contas, a minha blusa é muito quente ou realmente não está fazendo frio? Isso de músicas no aleatório faz você ouvir cada música por preguiça de mudar. Eu vou chegar no meu destino exatamente às oito e quarenta e cinco. Você entrou nesse ponto, da última vez pro nosso último encontro desagradável antes do próximo... mas hoje eu estou com cólicas, não fazria sentido nenhum isso de coisas mais desagradáveis. Sempre tem alguém que desce no hospital pra que eu possa ficar sentada cinco minutos. As pessoas que vão descer no hospital são completamente reconhecíveis por causa das roupas que elas vestem. Não gosto disso de ter que andar mais e detesto pegar o trezentosesete. Pessoas atrasadas não tem escolha. Um vídeo. Viu? aquela voz que te disse que você podia não ter ido estava certa. Não ia fazer diferença alguma, as cólicas não passaram de qualquer maneira. Se eu tomar mais trinta gotas, pára, ou eu dopo? Eu dopo. Gente dopada, inclusive eu mesma me assusta. Devolvi aquele livro de quadrinhos, era chato, não deu pra ler até o fim. Não gosto de ouvir falar sobre mercado e sobre estados unidos. Não gosto de ouvir falar sobre mercado estaduniense. As multas custam um real por dia. Dizem que é pra restaurar os livros e tal, mas pelo tanto de gente que deve atrasar é simplesmente absurdo. Eu nunca soube que se podia fazer tantas coisas toscas assim no flash.

Os onibus as onze e meia sempre tem lugar pra sentar. Mãe, não vou almoçar aí, tem trabalho. A gente almoça miojo porque não tem dinheiro. Cup noodels custam caro além de serem nojentos. Ainda me doem as cólicas. Dois litros de coca estão virando rotina. Eu, que sempre gostei de coca light. Não gosto de mate concentrado, tem aquele ranço estranho do mate. Chocolates da hershey's são os únicos que te fazem sentir o gosto de açúcar. Eu podia fazer brigadeiro mas tu ia e perguntar se está tudo bem, e no fim das contas está, mas só que eu prefiro não dar explicações. Eu podia comprar chocolates novos se eu tivesse dinheiro. Eu gosto de miojo sem água, você também. Meu estômago detesta miojo. Eu nem quis tomar coca cola hoje, acho que alguma coisa está rejeitando coca cola. Você chegou bem na hora do seriado besta. Dá tempo da gente assistir padrinhos mágicos. Sempre tem histórias engraçadas incluindo ônibus, celulares e músicas bregas. Padrinhos mágicos lembrava star wars. Acho que a gente não vai começar isso nunca.

Não gosto de semiótica, falo com orgulho. Não gosto de trabalhos em grupo que incluem escrever, também. Escrever é essencialmente um ato solitário. Sentir também. Não gosto de ficar por aí compartilhando sentimentos. Eu não confio em ninguém e isso soa triste quando se fala assim. A gente pode discutir horas sobre a vida de uma pessoa enqaunto come king nuts e toma coca. A gente pode ficar estranhamente feliz depois de ser meio cruel. Aquilo que você me disse sobre o que ele disse sobre mim nem tilintou na minha cabeça. Eu não preciso ficar assim, reavalidando. Eu não quero ficar assim, reavalidando. Isso de reavalidar te faz uma pessoa fraca. Você sempre aumenta as histórias que conta, tinha um " eu não sei se" no meio da frase toda. Homens são também fofoqueiros.

Sou viciada em café e faz dias que eu não tomo. Isso de sentir cólicas não faz o mínimo sentido. As cólicas comprimem seu útero. Eu gosto de ter útero porque eu quero ter filhos. Pra que eu quero ter filhos é uma pergunta irrespondível. Gosto das definições do dicionário, são interessantes. Falo pelos cotovelos de coisas que eu não entendo. Sou ciumenta e isso de ser ciumenta é bobo. E isso de vasculhações é vício e tudo junto e paranóia. Eu não seria eu sem a paranóia. Eu não teria destruído algumas vidas incluindo a minha própria se não fosse a paranóia. Eu queria descobrir, sr. professor, como você conseguiu ler tantos livros sendo um tantinho de anos mais velho que eu. Quero aprender francês. Quero ir morar fora do país. Quero aprender italiano depois. Adoro aquele chocolate de morango da traquinas, só não gosto dos biscoitos de chocolate que ficam no meio do recheio. Gambiarra é um nome horrendo. Dos dezesseis aos dezenove se perderam muito mais sonhos que noites de sono. Eu não lembro do número exato de nenhum dos dois. Preciso escrever coisas úteis. Preciso ler coisas úteis. Preciso ser uma pessoa útil, por prazer meu de o ser. Isso de falarem que eu escrevo bem me encabulam. Guardei pra você meia barra de chocolate ruim, um cd que eu não gostei e duas músicas que disseram ser ruins porque você adorará as quinquilharias que não combinam comigo. Tem um copo, também. O rei leão tem uma metáfora nazista. Conspiration teories. Minha médica não me respondeu. O novo cd do oasis, a primeira ouvida, é só muito ruim. Preciso terminar dois livros. Amanhã tem trabalho de novo, sabia? Eu volto a ter vida num dia indeterminado. Comi chocolate branco. Gostos dos seus quibes, mãe, com pimenta.

Cacete, novela é tão enrolada. Aquele filme, com o adam sandler só presta por causa do jack nickolson. Meu pai já deveria ter chegado, estranho. Já deu tempo do meu Ipod carregar. Vou ler, pra ocupar a cabeça. Eu estou escrevendo hoje, pela primeira vez em semanas, só por vontade mesmo. Eu preciso tanto de palavras pra viver. O resto opcional. " Então ele me disse que achou simplesmente assutador o jeito que você se refere à ele." É mentira, tilintou sim. Eu não ia admitir que chama defesa e que eu sou maluca, não é mesmo? É. minha cama está arrumada. Gosto disso de ler com luminárias. Ainda tem uns dois chocolates daqueles de morango. Eu tô com sede. Quatro páginas e eu durmo. No fim das contas ainda restou um pouco de mim nessa mistura louca. Legião Urbana depois Oasis. A explanation about the meaning of life. Buscopan é tão amarago amargo amargo. So as life, itiself. Só pra terminar assim, unindo. Gosto de cafeína. Me viciei porque quis. Não páro. Não acredito em nenhuma palavra. Nem mesmo a que eu escrevo e repito, quanto mais as escritas e repetidas por outrem? Céticos não são eu. " Sou niilista nas minahs redações, aprendi com você." Niilista, eu? Saudade do uno. Mate com pêssego, dormir. A foto de hoje comtempla cabeça pensante, risadas altas e um computador como trabalho. As coisas abstratas me povoaram o dia todo. Buscopam é o nome mais feio que eu conheço. Eu atéee ia comentar, mas eu faço meus votos imaginários a você que me ensinou a ser o que eu sou. Adormeço enquanto tiro os biscoitos do recheio e niilismo. e pontofinal.

29.10.08

The girl that's driving me mad, will ever go away?

Desculpem, mas hoje não tem como ser literária. Só literal.
Desabafos de um dia que não terminou. A frustração tocou logo as oito da manhã e vai dormir comigo.



Quarta feira, vinte e nove de outubro. Já perceberam que nós estamos no fim do ano? enfim, acordo no horário, mas não consigo acordar de modo algum. Maia dez minutos, mais dez minutos, mais dez minutos. Acordo atrasada, enfio a primeira calça jeans com blusinha preta que encontro pelos arredores do meu quarto, um jeito no cabelo, vício de lápis preto no olho, ondeéqueestãoospapéis?, mais um vício, copo de mate na cozinha, ondeéqueeuenfieiachave? no sofá, é claro. Você joga a chave em outro lugar que não seja no sofá? Espera o elevador enquanto coloco o all-star, sem meia mesmo, ondeéqueestãominhasmeias? Não sei. Chega o elevador, a pasta não cabe na bolsa, o papel não cabe na bolsa, mas e daí? eu estou atrasada pra única aula que eu gosto na faculdade, não posso demorar (mais).

Elevador, chave no portão, dois quarteirões até chegar a esquina. O moço guarda do hospital, o vendedor de morangos mais à frente, os carros, um ou outro aluno atrasado pro colégio. As coisas continuam seguindo a rotina normal. Parecia que ia esfriar, esquentou. A blusa também não cabe na bolsa, leva na mão. O relógio da rua marca oito horas. Eu só penso que vou chegar mais uma vez as oito e vinte. Minha aula começa quinze pras oito. O que são trinta e cinco minutos de atraso? Catracas, gente que eu nunca mais vou ver, um ou outro rosto conhecido que eu não faço questão de conversar, humaitá-faria lima-redondo-reitoria-ccb-ru-cch-cecalávoueu, tudo isso ao som de músicas que eu nem sei quais eram, eu não prestava atenção nem no trajeto e nem nas músicas. Descer do ônibus, correr o percurso, escolher a música " she's got a ticjet to ride, but she don't care". Eu não tenho um desses bilhetinhos, se eu tivesse estava andando por aí, também.

ntrar na sala, oi professor, atrasada de novo, ele nem deve se importar mais. As cadeiras mudaram, eu tomo um mate pra espantar o sono. Aula inútil número um, aula inútil número dois e uma decepção. Estou descontinuando, deixei de escrever por preguiça, vejo meu único projeto orgulhoso se esvair na minha frente. Tá, tudobem, eu posso melhorar da próxima vez, a gente sempre pode. Aula inútil numero três e discussão sobre política. Cidade de ninguém, coisas de Londrina, minha revolta já não serve pra nada, será que um povo unido muda alguma coisa? será que alguem ainda se junta por uma boa causa? Assembléia, issovaimefazerchegar tarde, não mãe, eu como miojo mesmo. Não, não tenho tempo de sair pra almoçar, vai ficar tarde, entende? Nunca gostei de almoçar sozinha.

Mais catraca, cartão, conversa, descer no ponto, divagações. Eu devia escrever sobre política e sobre design e literaturar, é, eu vou fazer isso. Depois de atravessar a rua, chegar em casa, botar a cabeça no lugar. Depois de elevador, miojo, computador. Depois que eu voltar a ter vida.

Computador, história em quadrinhos, quem disse que pintar no photoshop é legal? Não, tem que dar tempo. Não, não vai dar tempo. E vai chover. Agora senta, espera, assiste tv. Alguem ligou, tem recado no orkut? alguem pra conversar no msn? Ninguém escreve ao coronel. Minha mãe ligou, pediu pra ver as janelas. Eu já tinha visto, era um vento medonho, eu podia voar com aquilo. Meu quarto molhou todo, podiam trocar as janelas desse prédio. Mas ninguém trocaria janelas porque molha o meu quarto e molha o meu rádio e molha a lata de pringles que eu não guardei. Meu computador reinicia sozinho com mais um trabalho que ficou muito menos que a minha capacidade. No próximo a gente melhora, né? Eu só tive três dias, e ainda tá atrasado. Tudo bem, eu levanto amanhã-de-manhã e vou lá, as oito, depois vou pra uel. Tem que dar tempo, você sabe, tem que dar.

Mãe, acho que a tv queimou. Não gosto de assistir tv lá no quarto, mas assisto, canto um pouco pra desestressar, eu queria ter um "ticket to ride", joão e maria também é bonitinho. Minha mçae chega, a gente precisa ver tv. A gente não pode, a gente tem coisas pra fazer, mas a gente precisa. Todo mundo precisa parar, nem que seja com a cabeça cheia de tudo. Eles falam sobre neurose na televisão, eu sou neurótica, eu sei, dona psicóloga, que eu estou me auto destruindo, que a minha vida é mais importante, que enquanto a gente pensa besteira deixa de ser criativo. Eu sei de tudo isso, eu tenho pensado tudo isso desde domingo. Eu sei que eu estou abaixo de todas as minhas capacidades, que eu não faço nada, que eu não me concentro mais e que eu estou ficando cada dia que passa mais neurótica. Eu sei, mas... você sabe como muda isso? não é tipo desligar um botão e ei, não sou mais neurótica. Ei, sou despreocupada e relax. Odeio essa palavra, re-lax. Parece coisa que você diz depois que fuma maconha. Não, eu nunca fumei maconha. Nem beber direito eu bebo. Discuti as questões políticas de porque não se fumar maconha com meu companheiro de coca e trabalho, eu nunca tinha pensado por aquele lado. E a gente se mete a falar de desigualdade social e maldizer o mundo, somos dois velhos, mas pelo menos alguém discute isso comigo. Alguém não me fala que eu tenho que arrumar um emprego. Alguém entendeu o meu argumento ideológico de "porque não ser jornalista" e agora não quero ser mesmo. Certas coisas fazem muito sentido depois de meia hora de conversa com mentos de melancia.

Hoje não, hoje não fez sentido. Depois de comer macarrão, neurótica, novela cura neurose? não sei, dormi. Estou tão cansada que acordei com dores no corpo. Vou aproveitar e entrar mais cedo, aí termina o trabalho mais cedo, ai vou dormir porque não deve ser normal isso de sentir dores no corpo de cansaço. só quando o cansaço é muito grande. Depois de terminar, mais ou menos as onze e quarenta e dois, algum desespero. Você já chorou de cansaço? Já percebeu que não vai poder parar? que vai ter que correr e correr e correr e se parar de correr vai tropeçar e se machucar tão feio que não vai conseguir levantar mais? Eu já. E é medonho, porque dói o corpo, a alma e tudo que você quer é sair correndo e gritando " ei, moço, me leva pra longe daqui, qualquer lugar, eu não quero voltar logo". Eu não queria nem voltar, mas vou continuar correndo, catando cavacos e se pelo menos eu estivesse sentindo orgulho de mim. Mas não, eu sei que eu estou falhando, falhando e falhando continuamente. Que uma neurose estranha toma conta de mim e das minhas decisões. Que uma corda ridícula não me deixa ir pra frente e fica me puxando pra trás, um elástico, eu não sei. Como é que a gente evolui?

A gente não o faz, a gente acorda as sete e meia da manhã e continua vivendo entre catracas, gente que não conhece, trabalhos em que se podia ter dado mais, mas a coragem vai esvaindo, eu só queria sentar e ficar, sabe? Não sei viver correndo. Dói tudo, todos os lugares onde você pode imaginar e isso de chorar não adianta nada. Minhas neuroses não adiantam nada, minha vida não está adiantando de nada, onde é que você vai parar, dramaqueen?

Não sei, eu nem quero uma resposta. Só me dá um ombro, me ouve falar. Só isso, eu só tava pedindo isso só.

Vou continuar correndo então, e se eu cair, eu não levanto mais. Não faço questão.

Eu queria ter um bilhetinho pra andar por aí, e não ligar, porque a garota que está me deixando louca insiste em não ir embora.

24.10.08

Postando pra posteridade.

Certas conversas não podem simplesmente serem perdidas no histórico do msn.

Larissa. - quando voa o condor. diz:
COMO alguém não come COSTELA?
Larissa. - quando voa o condor. diz:
a carne nobre do churrasco, que desfia e nhami nhami.
Manuelli. [LUTO] diz:
ASOKASPOKASPOKASPOKASPOASKPOASKPASOKPASOKASPO
Manuelli. [LUTO] diz:
MEEEEEEEEEEEU DEUs
Manuelli. [LUTO] diz:
tu também AMA costela??
Manuelli. [LUTO] diz:
meeeeeeeu
Manuelli. [LUTO] diz:
casa comigo, please!
Manuelli. [LUTO] diz:
só você vai me fazer feliz.
Manuelli. [LUTO] diz:
OPASKPOASKAPOSKASPOKASPOAKSPOSK
Manuelli. [LUTO] diz:
eu queria tanto que você fosse homem. :~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Larissa. - quando voa o condor. diz:
KSOPAKDOSPAKASDKOPSDAKOSDAKOSOSAKOD
Larissa. - quando voa o condor. diz:
jesuiiis
Larissa. - quando voa o condor. diz:
estou tendo uma crise de riso.
Larissa. - quando voa o condor. diz:
manu, eu sei que uma de nós devia ter nascido homem para nos casarmos-nos
Larissa. - quando voa o condor. diz:
mas o destino foi cruel.
Larissa. - quando voa o condor. diz:
temos que achar clones masculinos uma da outra
Larissa. - quando voa o condor. diz:
o que quer dizer basicamente clones masculinos de nós mesmas.
Manuelli. [LUTO] diz:
o que quer dizer: morrer sozinhas!
Manuelli. [LUTO] diz:
aPOKASPOASKPOASKASPOKASPOKASPO

Moral da história? Igual a gente, não existe.
coaspiquicoaspiquicoaspiqui, sopasesapos.

te amo, cumadi mais tchonga do universo.

Clichê mal estar.

E depois do cansaço eram uns olhos vermelhos que lhe advinham e uma água com sal que lhe inundava os olhos todos. Tinha ouvido dizer, certa vez, que a água do choro fazia bem pra pele, mas naquele momento o choro só aliviava o mal estar. Um mal estar sem sentido, sem motivo, sem começo. Um mal estar tão natural como estar viva – se é que estar viva é natural – um mal estar que lhe fazia doer o corpo.

Não é como se ela vivesse num mundo de fantasias. Os pés estavam grudados no chão e a única coisa que lhe era vício e virtude era esse idealismo doente sobre as coisas. Achar que todas as coisas têm jeito é muito mais doença que virtude. Idealismo dá mal estar.

As plásticas unhas vermelhas seguravam o rosto que já não queria mais estar em pé. Estava em pé por vício. Há dias que dormir cedo já não era mais uma alternativa. Falta de sono dá mal estar, mas acreditar dá mais mal estar ainda.

Acreditar nas pessoas, no mundo e em uma mudança repentina e avassaladora que lhe traga o que um dia chamaram de felicidade plena. Devia estar escrito em algum desses livros, existem pessoas que estão sempre em busca de felicidade plena. Existe? Ela se perguntava. Se perguntava enquanto olhava fixamente para a luz que lhe fazia bolinha nos olhos. Tudo que tinha tido a vida toda eram pequenos pontinhos brilhantes de felicidade passageira.

Ninguém deve ser feliz o tempo todo, não é possível. Existiria alguém que vive no mundo sem nenhum traço de melancolia, sem jorrar água com sal dos olhos, sem decepção? Existe alguém que vive sem nunca sentir mal estar?

Esse mal estar de estar vivo, de ser decepcionado. Esse mal estar de ter dúvidas, de não saber se é esquerda ou direita. Esse mal estar que faz doer as juntas, apertar a cabeça, querer deitar e nem conseguir dormir. Esse mal estar que vêm com o peso de ser humano e sentir.

Ninguém deve ser pleno sem sentir mal estar.

E ela nem sabia direito o que era. Se era isso de estar cansada de tudo o tempo todo. Se era essa tendência ao drama, essa não resignação, esse não olhar as coisas do jeito que o resto das pessoas olham. Isso de acreditar em pessoas que a enxerguem por inteiro, de esperar no portão, de sempre tentar fazer um pouquinho mais, mesmo que custe umas horas, um sono, um dia, umas palavras. Seria isso de esperar demais, de se decepcionar sempre, de precisar sempre que não se pode ter. Será que era porque ela não via com os olhos de isso-tem-que-ser-feito ou de as-coisas-são-assim-mesmo. Seria isso de esperar que o mundo fosse um pouco mais como ela queria e um pouco menos o que lhe foi imposto. Será essa tendência suicida em acreditar e acreditar e acreditar até o último e derradeiro instante quando morrem todas as esperanças e um pedaço dela mesma?

Será que viver assim não é viver do jeito certo e é por isso que dá mal estar?

Não é como se pudesse dizer, não há como afirmar com certeza o que há de errado e dá mal estar. Talvez seja todo um conjunto de ações erradas que não correspondem ao que deveria ser feito. Talvez seja só vício suicida de acreditar e querer demais, o drama que dá mal estar.

É uma incompreensão. Uma incompreensão tão comum, uma incompreensão que parece ter nascido com ela. É normal, mas incompreensão dá mal estar. Dá mal estar e lhe tira água dos olhos.

Esse não-sei-o-que que dá mal estar lhe toma conta dos ossos na noite quente. Não há explicação ou consolo. Alguma coisa está terrivelmente errada e dá mal estar. Um mal estar que lhe toma conta, um desconforto estranho, uma vontade de gritar, de dizer tudo que entala de sair sozinha correndo noite afora pelos perigos, em passos silenciosos rumo a algo que ela sempre quis e sempre esperou. Os algos que lhe são tirados aos pouquinhos. Rumo a reaver as esperanças que desfalecem nas noites quentes de verão e as incertezas que lhe acometem todos os dias. Rumo a juntar pontinhos de felicidade que formem um clarão e quem sabe formem o que chamam de felicidade plena. Felicidade plena sem mal estar.

Mas o que ela quer, definitivamente, não existe.

E lhe dá um mal estar tão grande quanto a própria noção de exisitir.

23.10.08

aleatoriamente sem sentido.

eu tiro o esmalte das unhas vermelhas compridas. Eu dormi e estraguei tudo. Eu senti tanto sono tanto tanto sono e dormi. dormi em cima dos esmaltes vermelhos ainda molhados. Tem marcas da almofada nas minhas unhas. Tem marcas de tantas coisas dentro de mim.
Estou lendo estorvo, indo ao médico com frequencia, pensando tanto quanto posso e querendo me desligar. Tem algum botão, você conhece? acabei de baixar um cd novo, vivo ouvindo uma música que diz sobre amores requentados e microondas. Eu gosto mesmo é do sotaque. Vai morar comigo no rio grande do sul um dia? dizem que lá faz frio e a gente nem precisa tirar a blusa.
Tem um resquício de criatividade dentro de mim que aparece enquanto eu tomo suco de maracujá com manga e leite. Manga com leite não mata e suco de maracujá com leite parece mousse. De repente, três idéias.
Acabou minha salsicha, não tive vontade de comer miojo, estou com saudades.
Comprei ingressos para o show do zeca baleiro. terei um sábado cheio desde a hora que eu acordar.
Precisava te contar que eu peguei um daqueles livros que você me recomendou. Hoje. Era o único que parecia interessante na biblioteca. Eu quase parei no machado de assis, mas chico buarque é minha eterna paixão. A gente é parecido.
é, eu sei que eu posso mais. Posso mais do que esses textos de menininha. Sei que posso mais coisas sérias e até quem sabe histórias de ficção com coisas escondidas. Só não ando com cabeça para. Estou indo dormir pensando em dormir amanhã a tarde, vai dar tempo.
Semana que vem tem strogonoff e a noite a gente pode comprar pizza, né pai?

Faz uma semana que eu não consigo dormir antes das três, vou aproveitar.
Essas vinhetas instrumentais no final de cada música estão me dando nos nervos. Está quente, dou um rim por um ar condicionado. Tô viciada em mate, tomando desde que acordo. Isso é só mais um dia na minha existência, eu te prometo ficar feliz e arrumar as minhas unhas, e parar de sentir saudades.

Prometo não perder a hora amanhã, também.
Agora boa noite, minha semana está acabando mas eu tenho um monte de planos pro resto da minha vida, você me disse que eu precisava de metas. Você sempre tem razão, mesmo depois de quase três anos.

Não dá pra desacreditar assim.
Boanoite. Foi só um post pra dar tempo do cd acabar.
Minha vida agora é mate, sorvete de flocos na casquinha, ar condicionado de shopping e bidê ou balde. Minha vida é requentada como pão dormido e vem do microondas.

22.10.08

A incrível história da volta do povo a prefeitura e um rostinho bonito ( e sacana) para validar.

Estou quase me tornando uma criatura apolítica. Sei que a política está em todos os lugares. Sei que o ônibus que você pega pra ir na faculdade é política, que os computadores que você usa na universidade é política, que o fato de eu ter um monte de professores despreparados é política. Mas estou perdendo o gosto. É triste, eu não tenho nem vinte anos e já perco o gosto. A pequena história da pequena grande cidade em que resido no norte do Paraná me faz ter vontade de não apertar mais botões, de não escolher mais candidatos, de não me pronunciar. Tenho um grito calado na garganta, uma indignação que me dói a alma. Tenho o cansaço de alguém que já viveu anos e diz que não quer mais. A grande diferença é que eu só vivi duas eleições. Essa é a primeira eleição para prefeito, e eu quero dizer chega.

A volta do povo a prefeitura não é algo novo. Há trinta anos ou mais, Getúlio Vargas já tentava ser o pai dos pobres, já tentava trazer o povo a presidência. O que ninguém percebia, é que povo nenhum estava governando. Povo nenhum chegaria a presidência nenhuma. E que Getúlio não queria nada mais que o poder total e supremo para ele. As coisas não mudaram muito. Em pequena Londres grandes feudos aqui e acolá ainda acredtam que o povo voltará a prefeitura. Acreditam que o pai dos pobres fará algo por eles. Depositam sua esperança numa nova grande instalação. Depositam sua esperança em promessas vazias de obras gigantes, milhões de empregos, vindas de empresas. Grandes promessas para um povo que nada tem. Grandes promessas para um povo que espera muito e se contenta com migalhas. Grandes promessas e ações de fachada, só pra validar. A volta do povo a prefeitura trará um Getúlio Londrinense sem ditadura alguma. Mas que assim como o velho, espera o poder total e irrestrito para ele próprio. Espera contemplar dinheiro de obras megalomânicas para ele mesmo. A volta do povo a prefeitura não conta com povo nenhum, apenas com interesses particulares.

É a quarta tentativa de governar pequena Londres. Nossa grande Londrina já passou por isso uma, duas, três vezes. Sendo a última traumática. A última terminando em dois anos e com o excelentíssimo senhor prefeito cassado, preso, saindo pela porta dos fundos do lugar onde foi colocado pelo povo. Saindo com ele 450 milhões de reais, mas esse não é o problema. Com esses 450 milhões de reais saem escolas, remédios, hospitais, segurança. Sai com ele a esperança de milhões de Londrinenses, a comida de milhões de londrinenses, a educação, a saúde, a moradia, o lazer e o transporte de milhões de Londrinenses. O que o excelentíssimo senhor roubou não é só o dinheiro de uma prefeitura, mas sim a dignidade de um povo que não consegue nem enxergar que foi roubado. Que ainda acredita nesse suposto pai. Que ainda deposita sua esperança, e um voto precioso no mesmo senhor que um dia lhes tirou sem só tudo que agora lhes está prometendo.

Qual é a função de um político? A função de um político não é ser uma entidade mágica. Um político não faz as coisas porque é bonzinho, ou porque se preocupa. Um político tem que exercer sua função. Se você paga um médico, você espera que o dinheiro que pagou pela consulta seja utilizado para curar a sua doença. Caso sua doença não seja curada, você muda de médico, ou mesmo o processa. A mesma coisa deve(ria) acontecer com um político. O político recebe para exercer suas funções. Recebe de mim, de você, dos nossos impostos. A função de um político é garantir o bem estar da população, é gerir uma cidade da melhor maneira possível. Roubar, mas fazer não é a função de um político. O simples roubar já desvalida a ação de fazer. Um político tem que cumprir sua função e nada mais do que isso. Um político é pago para que a cidade funcione, para que se construa hospitais, postos de saúde, para que se tenha remédios nos postos, asfalto nas ruas, vagas e professores nas escolas. Um político é, acima de tudo eleito para que o dinheiro seja utilizado apenas na cidade e não para seus próprios interesses. Você não perdoaria o sei médico se ele roubasse o seu dinheiro, mas curasse a sua doença.

A grande coisa sobre nossa pequena grande cidade, é que ninguém enxerga isso. A população foi roubada, mas lhe deixaram um grande hospital. O que não se pensa é que com o dinheiro desviado poderiam ser construídos dez hospitais como esse, ou mais. O roubo prejudica ainda mais a população mais pobre, o povo. O mesmo povo que espera voltar a prefeitura. O povo que fica sem hospitais, sem remédio, sem educação, sem moradia e não se dá conta disso. Não se dpa conta disso porque vê seu nome estampado no hoarário eleitoral. Porque recebe um abraço, porque recebe um asfalto, uma cesta básica. Porque se acostumou com migalhas, porque está carente de atenção. Porque acredita piamente na primeira pessoa que diz se preocupar com eles, falsamente, mas diz. Nossa pequena Londres está sendo enganada de novo. Nossa pequena Londres vai depositar sua confiança numa volta de mentira. Numa volta de povo sem povo. Numa volta vazia de povo e cheia de individualismos baratos e feios. A volta do povo a prefeitura não vai custar caro pra ninguém, senão o próprio povo.

Já senti vergonha da pequena Londres em que resido, sinto indignação a cada vez que o rostinho bonito antes neutro aparece dizendo que apoia o nosso ilustre candidato por amor a cidade. Todos sabemos que esse também só tem amor a si próprio. Que amor é esse pela cidade que quer voltar o homem que nos roubou dinheiro e progresso? que tirou da boca das donas Helenas e Marias tão citadas e abraçadas o direito a uma cidade melhor, um hospital, uma nova escola? Que amor é esse por Londrina que apoia o mesmo senhor que há anos atrás foi preso e cassado? Isso não é amor, isso é interesse, é barganha, é uma coisa sem nome. É falta de caráter de uma pessoa que não tem as posições firmes, que ontem afirmava neutralidade e hoje afirma um apoio por um falso amor por Londrina. De você, só sobra um rostinho bonito e cínico que não deve amar ninguém além do próprio bolso.

Hoje, além de indignação sinto pena. Sinto pena do povo que acredita no seu falso pai e no rosto bonito que entra nas suas casas. Sinto pena da esperança depositada em alguém que nunca lhes fez nada, só lhes deu migalhas. Sinto pena da senhora que andará quilômetros e apertará dois números repetidos acreditando na mentira que aparece falada e contada depois de dois bipes, por um senhor que se aproveita do povo que diz que trará de volta à prefeitura e quando lá estiver lhes jogará fora, se aproveitará deles e embolsará Deus sabe mais quantos hospitais, escolas, merendas e esperanças de marias e josés.

Minha pequena e amada Londrina, sinto pena de você. Sinto vergonha e sinto o casaço ancestral. Mais que isso sinto medo. Sinto medo de acordar e lhe ver de novo nos braços de quem não lhe merece, por mais quatro anos. Clamo por você, clamo que abram os olhos desses que aqui moram. Porque com a volta desse, povo nenhum voltará a prefeitura. Mas todo o povo com certeza padecerá, e sem mesmo se dar conta disso.

Acorda, Londrina.
Só nós podemos mudar essa realidade. Eu não quero desistir logo na primeira tentativa. Já não é cruel, é só triste.

15.10.08

Porque ( é esse porque que usa?) hoje foi um dia essencialmente de saudades.

Onde foi que a gente foi se perder?

Faz calor. Qualquer ser humano em pleno estado de consciência odeia esse tempo. Qualquer ser humano fica imprestável. Qualquer ser humano fica sedento por banhos e copos de água, e não de coca cola, que loucura. Seres humanos como eu, aproveitam o ar condicionado do shopping e tomam coca.

Não sozinha. Isso de não ter companhia é deprimente principalmente em dias calorentos, sudorentos, febris (ainda) e com pessoas devorando batatas recheadas com pouco recheio por todos os lados. Eu só senti saudades, o dia todo, a conversa toda. Eu só conseguia tentar me lembrar ondeéqueagentefoiseperder.

Eu não sei. Não sei o dia exato, não sei a sucessão dos fatos. Mas primeiro foram vocês dois. De jantares semanais com baralho à nada. Tudo virou nada, nenhum contato, nenhum telefonema e raproximações sem sucesso. A gente se perdeu, eu não sei onde, eu não sei como nem quando. Mas parece não ter mais volta. Nem panquecas com frango, duas garrafas de coca cola, carrot cake and wine, jogos de menino, proteção dos meninos, filmes de meninos e visitas persistentes e necessárias, com pipoca. A gente perdeu. Isso ficou ali, guardado na minha sala junto com as músicas bregas que a gente nunca mais cantou. Ficaram as saudades. Acho que a gente já se perdeu demais pra poder voltar. Eu acho que eu quero estar tão errada que chegue a ser feio.

E depois foi você, dadas as sucessões dos fatos, eu não sei que dia, que dia depois dela que a gente nunca mais trocou mais do que oi. Eu gosto tanto de você. Sabe, é daqueles amigos que eu queria pro resto da minha vida. Eu gosto das conversas e das preocupações provocações e eu odeio o seu jeito ridículo de se portar diante dos fatos, eu odiava resolver seus problemas, suas posturas infantis, seu ar superior, as infantilidades e as piadas sem graça e é de tudo isso que eu sinto saudades. A gente ainda não se perdeu. E eu fico colocando bandeirinhas brancas e fico pensando que não podia e não vai poder acabar assim, não por isso, por aquilo, por essas coisas bobas que não levam ninguém a lugar nenhum. Não porque a minha vida era uma chiquititas e porque alguma coisa ficou podre ali no meio e eu nem tinha nada a ver com isso. Eu fiquei pensando que tem volta, tem que ter volta, não faz sentido. Amizades não se acabam assim, no meio do nada, por nada, não é possível. Eu não quero que seja. Cansei de perder pessoas por não fazer manutenção.

Isso é só o que eu lembro hoje, mas as coisas foram se perdendo, eu fui me perdendo, a gente foi se perdendo. Sobrou a gente ali, duas coca colas, bolachas de chocolate e conversas sem fim sobre como a vida é meio boba e sem sentido. Sobre como é que a gente foi se perder deles, dele, de todo mundo. De como não existem mais tardes de sexta feira felizes, de como os sábados vêm sendo trocados por outros programas com outras pessoas e a gente ficou. A gente ficou ali, dois velhos de vinte anos reclamando que a vida já foi melhor, as sextas feiras mais felizes e os sábados mais cheios. Reclamando que a gente nunca mais fez comentários sobre como um pouco de bacon pode custar 1,20 e isso é um absurdo, reclamando porque deve fazer meses desde o último macarrão e a gente nem lembra quando e porque direito a gente foi se perder. Mas a gente se perdeu, um dia, foi gradativo. A gente só espera que tenha volta, porque esperança é nosso vício, sempre foi e acabar é normal na minha e na sua vida, só que não faz mais sentido, não tem razão de ser, enjoou.

Entre as outras saudades a necessidade do estar junto ali, fisicamente, beijos, abraços, colo e conversa de perto. Loucura, ainda sinto seu cheiro, seu gosto, seu beijo. Cada parte dessa casa e de mim tem um pedaço seu. Já me imaginou estar descontrolada? Eu, assim, saudades invadindo e não é como se fosse ruim. É só saber que certa presença é necessária, precisa, quase que impressíndivel e que deixar você ir embora vai ser cada vez mais difícil, mas tudo bem, estamos chegando cada dia mais perto, ainda que a passos lentos do dia que você não vai embora e nem eu vou. A gente eu sei que não está se perdendo, não vai se perder, não agora. Eu não quero, não deixo, eu te aperto forte, eu faço você ficar, eu te amo tanto tanto e isso é meio novo pra mim. é sempre assim, uma semana de " eu não gosto quando você vai embora". Eu nunca vou gostar. Mas bagunçaram o tempo-espaço e eu acostumo, o importante é a gente ter se conhecido, o importante é a gente não ter se perdido do caminho certo e ter se encontrado. O importante é eu, fora do prumo, do jeito, um pouco menos racional, mas nunca tão feliz, eu só te amo, você eu não perco.

É só um dia de saudades, perdas, coca-cola, chocolate, muito calor e um pouco de manha pra fazer passar. Mas essencialmente, saudades.

13.9.08

Enquanto a insônia não passa.

Quanto tempo você consegue encarar a tela do computador, antes de sentir sono?
Com quantas pessoas você queria falar, agora?
Porque eu não consigo dormir mais?

E eu fico pensando em tantas tantas tantas coisas, em planos frustrados de domingo de manhã, no enjoo que eu sinto ao comer pastel. Na verdade, eu não estava pensando em nada disso. Eu dormi ouvindo música hoje, sabe? A última coisa que eu me lembro de ter ouvido foi a mesma coisa que eu escrevi no texto anterior " se tu quiser que eu te leve, eu aprendo a dirigir." e na verdade a última coisa que eu ouvi foi " aqui onde eu não moro, não existo sem você." Não faz sentido.

O que eu na verdade estava pensando é subjetivo. Parei e pensei que, com que borracha você apaga o que eu senti? É sério, com o que? Em semanas você esquece milhões de eventos desagradáveis, " meu pai disse que o passado a gente esquece e que sempre arruma alguém novo pra amar" e eu fiquei pensando que o passado a gente esquece, mas quem apaga o que você sentiu? quem te substitui as horas que você perdeu chorando? quem te devolve o vazio, a dor? quem te recompensa em forma de sorrisos aquela noite perdida e chuvosa em que você se vestiu com mletom e shorts e ficou em casa enquanto a cidade inteira estava supostamente se divertindo? não faz sentido.

desculpas não fazem o mínimo sentido, perdão não faz o mínimo sentido, nada faz o mínimo sentido. Ninguém te devolve, o que você sentiu já sentiu e não há nada que ninguém possa fazer quanto a isso, desculpando, não desculpando, fingindo não ter acontecido, é tudo exatamente a mesma porcaria. Eu só estou escrevendo enquanto a insônia não passa, eu deveria estar dormindo mas não consigo. Minha cama é grande, tem alguma coisa que roda e os cobertores me incomodam. Tem alguma coisa em mim que me incomoda e dá dores perto da costela e bem dentro da alma.

tem alguma coisa em mim que não está em sintonia, não hoje, não agora e meu sábado chuvoso só precisa aparecer num domingo bonito, só pra que eu comece a viver a partir dali, porque o que eu já senti, ninguém recupera mais.

Eu nem sei o que eu quero dizer, e eu nem ia querer saber te explicar.
Eu não sei com quantas pessoas eu queria estar falando agora, e eu demorei uns vinte minutos pra consguir dormir de novo. Não consigo dormir porque alguma coisa em mim é maior do que o sono, mas meu pai me disse que o passado a gente esquece.

tudo bem, só não cresci o suficiente pra me acostumar com isso.
e eu não peço nada, eu só queria estar gritando agora, e acho que preciso de remédios ou de um manual de instruções.


Eu estou ficando com muito muito muito medo mesmo.


"protect me from what I want"

e com mais vêemencia ainda, de mim mesma. Deve ter alguma coisa a ver com aquela palavra de-cep-ção, mas eu só sinto, não sei te explicar. Quero me vomitar pra fora, fazer de novo, entende? Não, nao entende. Eu também não. Eu só olho no espelho e não reconheço isso daqui. Devia ser interessante, mas só é triste.

( linhas e linhas e linhas aleatórias, sem sentido, frases jogadas, eu precisava, nem que fosse só pra sentir sono de novo, boa noite.)

Sem julgamentos e sem perguntas, Is just how I fell (today).

"Só um muro de batom, e frases sem fim."

Nas noites chuvosas eu ouço constantemente o tique taque do relógio, no meu relógio digital. Há um minuto atrás era uma e seis e agora ainda são, algum dia você já teve noção do quanto sessenta segundos podem demorar pra passar? Você já teve noção, em contrapartida do quanto a sua vida passa rápido?
Estou tão cansada, eu te digo, e soa como se fosse banal, eu te digo isso pra todo mundo, todos os dias, o tempo todo. Eu estou sempre cansada. Eu estou sempre fazendo esforços e perdendo horas e horas inutilmente, eu nem me lembro quando foi a última vez que eu fiz algo por mim, tipo sentar na sacada e ouvir música. Eu não posso, eu simplesmente não posso. Se passam quinze minutos e eu volto, volto pro mesmo lugar e agora são uma e oito, parece que eu estou escrevendo à tanto tempo...
Isso se chama descontrole. Quando eu estou descontrolada eu não consigo escrever. Tudo sai sem nexo, e transparente demais. Não gosto, não gosto de ser transparente e definitivamente, não gosto disso.

Disso daqui, desse lugar, desse aperto que eu sinto e dessas lágrimas que eu estou soltando sem nem saber porquê. Eu também não sei usar porque direito, você sabia? Nunca sei quando usa separado ou junto, se alguém entender de português certamente vai me corrigir e então eu te pergunto o que importam os erros gramaticais nessa maldita noite de sábado? Choveu, a barra da minha calça está molhada e você pôde perceber como a vida é triste? Quem não teve uma relação estranha, alguém me perguntou, e alguém riu indagando, relação estranha, pontodeinterrogação. Todas as relações são estranhas, eu ia dizer, mas fiquei pensando que não valia a pena, eu sempre pareço tão descrente quando digo isso pra alguém, e eu não sou descrente. São justamente as pessoas que não são descrentes que tem relações estranhas. Se eu simplesmente não acreditasse em nada, não ia fazer a mínima diferença. Mas faz, sempre faz.

Se você para e olha, as pessoas estão decepcionando as outras o tempo todo. A vida é triste, só isso. As coisas acontecem e são tristes. E todo mundo está cheio de relações estranhas, você deve estar certa. A de todo mundo é, e eu só estou cansada de tudo, e das minhas estranhas coisas. Estou gostando menos ainda de mim. Você algum dia já se sentiu intrinsecamente ligado à alguma coisa como se aquilo fizesse parte de você? Isso sempre parece obrigação, depois de um tempo, mas toda vez aparece um tipo de pessoa que não consegue fugir das obrigações, e prazer eu estou aqui. Passe um batom, ou não e vá se divertir, faça alguma coisa por você. Desculpe, eu já não tenho o que. Já não tenho. Essas coisas já não fazem mais parte de mim tão intrinsecamente como se estivessem coladas, eu não consigo mais. Eu podia ter pegado aquele filme, se soubesse, mas não assistiria sossegada. Eu poderia tentar um livro, eu tentei uma música e não adianta nada. É uma e vinte agora e pra mim parece que faz meia hora que eu estou escrevendo essa bobagem. Queria ser subjetiva, usar uma metáfora bonita. Eu não sei, alguma coisa descompensou e eu estou vomitando palavras ao invés de comer chocolates. O mundo é ridículo e triste, não só quando você para pra pensar, mas o tempo todo.

Eu devia gritar, mas não, eu prefiro ficar quieta aqui, escrevendo. Eu devo gostar mesmo de machucar e de me machucar, além e acima de tudo. Abrir feridas, dizem que as pessoas que se suicidam viram funcionárias públicas no mundo dos mortos, isso definitivamente não é o que eu quero. Keep, keep going. Deve ser o slogan de alguma marca famosa, você percebeu que eu não estou fazendo sentido? que hipócrita, isso é até meio moderno. É. Que nem as minhas blusas listradas, calça xadrez e o bidê ou balde que eu postei no meu fotologuepontocom. Eu estou sempre seguindo as tendências, mas no fundo, tem alguma coisa normal aqui. I don't fit at all. E eu gosto de " se você quiser que eu te leve, eu aprendo a dirigir" acho bonito e coisa e tal. Mas hoje estou no repeat com duas músicas aqui, pra ver se alguma coisa entra.

Eu não entendo o mundo, queria. Queria ter a cabeça mais aberta, queri.. Não, eu não queria. Eu fico olhando com estranheza zilhões de coisas e acabo meio que me calando, eu devo ser fruto de uma educação tradicional e repressora pautada nos parâmetros da sociedade judaico-cristã. É, foi isso sim, mas eu gosto, sabe? Eu gostava de futebol também. E eu não consigo, não consigo além disso de roquiepop nacional, quer me explicar por favor quando é que você foi se perder?

Eu estou com medo, e devo parar antes de machucar. Eu não consigo, eu sou cruel. Sou cruel inclusive comigo, fazem só dez minutos, você sabia? Você tem noção de quanto os outros sessenta segundos que formaram duas horas e meia também demoraram pra passar, mas tudo bem, se tu quiser que eu te leve, eu aprendo a dirigir. Eu sabia machucar, agora só sei pedir desculpas e esquecer bem esquecidinho, tudo tudo tudo. E principalmente esquecer o hey, garota, faça algo por você. Entra por um ouvido e sai pelo outro, eu dizia que não, nunca ia acontecer, mas acho que desaprendi. Viver pra mim? Não sei mais. Acho que nunca soube, se eu for te ser aquilo que eu nunca sou: sin-ce-ra. Queria achar nobre, mas só acho triste. Tudo bem...

O mundo está cheio de relações estranhas.


" São todos iguais, o difícil é saber quem é clone de quem."

24.8.08

sinceramente, você não ia gostar de ser eu.

E todas as implicações e loucuras que isso me causa.


Tudo o que eu sei é que sinceramente, você não ia querer ser eu, nem como eu ou mesmo passar um dia que fosse morando na minha cabeça, pensando o que eu penso, sentindo o que eu sinto. Eu que sou eu já não aguento viver na minha própria pele.

De verdade, você odiaria acordar todos os dias morrendo de sono e sem vontade de levantar. Você detestaria sentir preguiça de arrumar seu cabelo própriamente ou de colocar uma roupa mínimamente mais decente. Odiaria, detestaria sim. Você não gostaria de sentir um cansaço enorne naquele percurso que te leva ao ponto de ônibus pensando que você devia sim ter aprendido a dirigir, afinal todos os seus amigos que fizeram aniversário bem depois de você já dirigem, e detestaria bem mais saber que você só não faz isso porque não se sente preparada o suficiente. Não ia gostar de ficar em pé por quinze minutos, torcendo pra que a pilha do mp3 não acabe para que você não seja obrigada a pensar em alguma coisa mais que a letra da música que na maioria das vezes é algo que não te faz pensar muito. Ia achar ruim demais ter que abaixar a cabeça e entrar na sala fingindo que não, que não está quase uma hora atrasada mais uma vez. Voce não ia gostar de sentir sono de não conseguir se aguentar, de pensar em um mesmo lanche todos os dias e de fugir sempre dos compromissos. Você não ia achar nada interessante pensar que aquilo ali é contagem regressiva e menos ainda ia se sentir satisfeito de saber que aquilo pode ser alguma coisa que você nem, gosta de fazer. Você não ia achar legal não saber o que você vai fazer pro resto da sua vida.

Não ia gostar de sentir gosto amargo na hora do almoço, de comer pouco por falta de vontade e de sentir um sono tão absurdo que te consome por inteiro. Você não ia gostar de não ter coragem de andar sozinha, de não aguentar ficar sozinha com você mesma por muito tempo. Não ia gostar de ter dezenove anos e ainda ser completamente ligada à sua mãe. Não ia gostar de não ter liberdade alguma, de nunca ter tomado um porre, de nunca ter voltado pra casa depois das duas horas da manhã. Não ia gostar de morar nessa cidade, de estar longe da sua melhor amiga, do seu namorado, de todo o resto.

Você sinceramente ia odiar não conseguir falar tudo o que te consome, nem pra quem importa.

E ia detestar não saber o que fazer com o resto da sua vida.

Você ia odiar chorar por tudo que te deixa mal. Não ia gostar nem um pouco de cobrar das pessoas o que elas não podem dar e esperar das pessoas o que elas não vão saber que você espera. De se preocupar com quem nem lembra que seu nome apareceu por aí um dia. Ia odiar não saber se você tem feito as escolhas certas ou erradas, ser neurótica, possessiva e completamente insegura. Você não ia se sentir bem em ir dormir todo dia bem mal humorada e com vontade chorar por não ter conseguido ficar feliz, só por isso. Não ia gostar de viver de passado, de chorar toda vez que ouve legião urbana, de ninguém entender seu gosto musical e tampouco suas convicções e mais ainda de acharem que tudo isso que você acha é uma grandessíssima bobagem misturada com uma frescurona.

Você não ia querer que as pessoas achassem que você é forte o suficiente para fazer coisas das quais você sabe que não é capaz. Você não ia querer saber que você não é capaz de fazer milhões de coisas que gostaria, por pura e simples falta de coragem. Não ia querer se sentir tão mal quando te julgam ou te criticam, ou simplesmente quando te dizem que você é de um jeito ou de outro. Você não ia gostar de se sentir incapaz de amar com todas as forças que pode. Você ia detestar ser tão fraca e covarde e ia odiar sentir essa dor nas costas e mais ainda essa dor na alma.

Não ia gostar dessa incerteza que me acomete sempre sempre sempre. Não ia gostar de ter que pensar milhões de vezes antes de tomar uma escolha e de saber escrever milhões de vezes melhor do que fala. Não ia querer odiar ligar pra casa da alguém pelo simples medo de outra pessoa atender, de não saber falar com estranhos e de não dizer o que te irrita. Você ia querer morrer se estivesse se sentindo um lixo assim como eu me sinto invaríaveis vezes e em milhões de momentos.

Ia odiar nunca saber onde deixou as coisas, essa mania de desorganização horrorosa e ia querer ser mais responsável, se pudesse. Mas você não pode. Ia se sentir mal em ver mil sonhos frustrados, em não lutar pelo que quer, em sempre deixar pra um pouco depois o que deveria ter falado tão antes. Não ia gostar de perder várias e várias pessoas só por não falar o que deveria na hora certa e ia gostar menos ainda de ninguém nunca entender isso e nunca estar te dando um maldito de um colo.

Você também não ia gostar de ser hipócrita, de sempre preferir coca cola, de ter vergonha de admitir que assiste novela, de ficar mau humorada no calor, de não mandar tudo à merda sempre, de ter esse medo absurdo de ficar doente, de ficar esperando ligações que mudem a sua vida e visitas surpresas que nunca chegam, de ser viciada em internet, de não ter certeza, de se preocupar com tudo sempre, de ter cabelo enrolado, intolerância a lactose, dentes sensíveis, de ficar implorando por um pouquinho mais sempre, de ficar brava por coisas pequenas, de querer o que não existe, de não ter mais paciencia pra ler, de fazer piadas estúpidas, de esperar que tudo se resolva sozinho, de ficar puxando assunto só pra não perceber que é sozinha, de saber que foi muito melhor antes de você, de ter medo de magoar as pessoas, dessa sua manía estúpida de continuar sendo todas essas coisas que você odeia e principalmente de não ser sincera, quase nunca.

A não ser em textos como esse, de noite, quando tudo parece fazer menos sentido ainda do que fazia há alguns minutos atrás.

21.8.08

E o gmail continua guardando minhas velharias.

Não ter o que fazer na aula acaba com você fuçando a sua velha mania de escrever textos nos rascunhos dos e-mails, pra não perder e postar por não ter nada de mais interessante pra fazer. não lembro direito quando, nem porque. Fato é que por falta de vontade de outra coisa, vai isso mesmo.

Sobre Cappucinos e ausências.

Uma pequena lembrança daquela saudade.

Ela ficou pensando enquanto colocava a água quente em cima do cappucino, quando é que foi que ela resolveu que ia mesmo tomar café sozinha. Um ano, nem isso atrás eram sempre perespectivas de cafés juntos, pra sempre. " Você quer café? vou fazer um pouco pra mim" " quero sim, claro." o café dele um pouco fraco pra ela, mas ainda era café e tudo o que importava era a companhia.

Ficou pensando também quando é que ela resolveu que ia trocar as roupas pretas por calça jeans e blusa branca e não deixar mais o cabelo crescer. pensou também em porque era que ela não ouvia mais aquelas músicas e nem ria das mesmas coisas. pensou com mais força ainda quando é que ela tinha escolhido que ele saísse de vez da sua vida.

Aquilo não foi bem uma escolha. as coisas foram acontecendo e numa noite, às quatro ou cinco da manhã ele disse que ia embora e foi mesmo, e ela achou que como sempre ele iria voltar, de calças cinzas ou não, mas ia. ele não voltou. ele não voltou e ela pareceu não se importar, porque ela nunca se importava demais com nada e menos ainda com essas coisas de amor. o amor da vida dela era só uma perspectiva de café e algumas outras coisas que o tempo levou e ela nem consegue lembrar mais.

Mas ao pegar aquela xícara de água quente e dar passos largos e leves até o computador alguma coisa faltou. uma ausência. uma ausência daquilo que era e não é mais, e quem sabe nunca mais vai ser. aquilo que era pra ser pra sempre, bonito, indivizível e real.

Mas até as coisas pra sempre, bonitas, indivizíveis e reais um dia acabam. só acabam. depois de uma conversa, depois de um achar que era a escolha certa. depois de uma simples conversa de noite que acaba tudo que foi construído em anos num simples tchau.

Nem era nada, nem era perspectiva de que eles fossem voltar. era só e simplesmente saudade. saudade daquilo tudo que era pra ter sido e não foi. desde os passeios de bicicleta no fim de tarde, idas a praia, shows e viagens internacionais. cafeína, café, coca cola e o abraço. estranha ausência, um aperto no peito. mas peloamordedeus, esra só uma xícara de cappucino e ela nem lembrava se ele gostava de cappucino também ou se era só de café.

Era só mais uma música, zé ramalho nos fones de ouvido e o fato dela lembrar que ele era a única pessoa que tinha dito que gostava de zé ramalho, justo aquela música mais brega e ainda sim bonita que ele cantava com chitãozinho e xororó. era só porque ele era o único cara que tinha coragem de falar pra ela o que pensava de verdade e era porque ele era o único que respeitava o fato de ela ouvir essas coisas que nem são legais. era só porque ele até gostava de sertenejo escondido e ela bem que sabia, e achava graça e porque ele era o único com as cantadas de pedreiro legais e também com as declarações simples e bonitas mesmo quando essas declarações vinham em forma de brigas que a faziam perder o chão.

Era, na verdade, domingo, um pouco de água quente na xícara, um pouco de água com sal nos olhos e lembranças de algo que um dia pode até ser de novo, quem sabe, um dia e ela só ficou pensando que era tudo porque existia uma ausência imensa, um buraco meio sem cor no meio de tudo e que ele talvez, tinha sido a única coisa, pessoa ou ser que ela já amou de perder o chão, as chaves, a cabeça e todo o resto. era talvez porque era isso que preenchia o coração frio dela coisa que nem mil xícaras de cappucino ferventes fariam mais. nunca mais.

19.8.08

the rest...

E eu posso até acordar amanhã e não estar mais viva - se é que se acorda, quando não se está mais viva..-
e tenho medo de estar passando pela rua e num acidente tudo acabar.
mas me assusta muito mais viver, viver me dói a alma e os dentes
viver me dá dores nas costas.

eu tenho muito mais medo daquilo que chamam de "o resto da sua vida".

18.8.08

O retorno de saturno

- dizem que ele morreu com dois tiros na cabeça, no dia do retorno de saturno. E ele odiava astrologia.
- Eu nunca penso nisso...
- Em tiros?
- Não, em saturno.
- Eu sempre fico pensando nisso.
- Em saturno?
- Não, em tiros.
- Por quê?
- Porque eu penso em tiros?
- Não, porque você nunca pensa em saturno.
- Eu penso, às vezes. Por causa dos anéis. Acho bonito. Sabe, aquele planeta amarelo-alaranjado e os anéis... Acho muito bonito. E você?
- O que eu acho dos anéis?
- Não. Por que você nunca pensa em saturno.
- Eu penso. Quando me perguntam qual é meu planeta predileto eu respondo saturno. Talvez porque eu nunca lembre de nenhum outro planeta pra falar. Gostava de Plutão, por causa do nome: plu-tão. Me parecia qualquer coisa engraçada que fazia rir. E eu sempre preciso de coisas que façam rir. Agora Plutão foi rebaixado, não pode mais responder isso. Mas pra pensar em saturno precisa de um estímulo. Não é espontâneo como pensar em tiros. Gosto de Vênus, mas Vênus sempre me parece mais uma estrela.
- Por quê?
- Porque Vênus me parece mais uma estrela?
- Não. Por que você pensa mais facilmente em tiros.
- Porque tiros me lembram morte e quando se está vivo fatalmente se lembra de morte. Todo começo pressupõe um fim.
- Como assim?
- Como todo começo pressupõe um fim?
- Não, como você interliga tiros e morte. Você acha interessante?
- Acho.
- A morte, ou os tiros?
- Os tiros que antecedem a morte.
- Só os tiros que antecedem a morte?
- Só. Se você vive depois de um tiro é algum tipo de milagre, de descontinuação. Me interesso mais pelas coisas que seguem uma certa lógica.
- Por que isso?
- Porque eu prefiro coisas que seguem uma certa lógica?
- Não. Por que você só se interessa por tiros que antecedem a morte.
- Porque é rápido e simples. Um projétil estranho adentra o seu corpo e estoura suas veias, explode seu frágil corpo e jorra sangue por todos os lados, sem parar. Não importa se você era uma pessoa forte ou qualquer coisa. A bala perfura seus órgãos e em alguns segundos é só sangue e uma dor insuportável, um grito e o alívio. É como dormir, só que pra sempre.
- As crianças costumam dormir depois de chorarem. Talvez elas queiram sentir o alívio.
- Os depressivos dormem para esquecer a dor de estar vivo.
- Dizem que a morte é o alívio para dor de viver.
- Você acredita nisso?
- Que a morte é o alívio pra dor de viver?
- Não, que viver dói.
- às vezes. É mais ou menos como pensar em saturno. Só penso nisso quando me perguntam. Não é como pensar em morte, ou em tiros.
- por que?
- Porque eu nunca penso se viver dói?
- Não. Por que você pensa em morte e tiros.
- Não é pelo mesmo motivo que você. Eu só penso em morte e tiros porque tenho medo. Medo que aconteça comigo. Medo que um dia eu esteja andando na rua e um projétil estranho adentre as minhas víceras e depois de uma perfuração rápida e muito sangue, uma dor insuportável, um grito e o alívio.
- Todo mundo que vive tem medo de morrer.
- Você também?
- Também. Mas tenho bastante medo de estar viva.
- Tenho mais medo de levar um tiro e morrer. Por mais que seja rápido e simples. Mas e você?
- Se eu tenho medo de levar um tiro?
- Não. Se você acha que a vida dói.
- Continuamente.
- E você pensa nisso?
- Não.
- E como você sente que dói?
- Eu não sinto. Eu sei. É como uma dor crônica. Depois que dói todos os dias você esquece da dor. Mas você sabe que está doendo. É como dores crônicas nas costas, ou um casamento falido. Você se acostuma a viver com isso. Mas sabe que dói.
- E você nunca sente?
- Quase ninguém sente. Porque você acha que as pessoas estão sempre correndo o tempo todo?
- Por causa da dor?
- Pra não sentir.
- Sempre?
- Sempre. Você sente a dor quando está só você e você mesmo. Sabe, aquela hora que você acorda no meio da noite, ou o breve caminho do ponto de ônibus até em casa, quando seus pensamentos roubam seus monstros mais escondidos e colocam pra fora. É aí que dói. Não tem como evitar.
- Você faz isso?
- Se ocupar?
- Não, ficar só você e você mesma.
- Só quando eu não posso evitar.
- E se acontecer?
- Eu penso no alívio.
- Os tiros?
- Não. Dormir.

[ To be continued...
Isso ainda vira uma história total, um livro, um filme, ou o que eu inventar e me permitirem. Só a prévia. ]

15.8.08

Eu não aguento mais esperar

Por intervalos comerciais e (principalmente) pelo resto todo.

Dá licença, fui pegar um chá com bolachas de chocolate e já volto aqui pra botar meus pensamentos em ordem antes que meus olhos fechem.

Não creio que cafeína continue fazendo qualquer efeito. Meus olhos teimam em fechar assim mesmo. Depois do experimento " fique dias sem dormir" era meio natural que eu acabasse acabada e errando continuamente as letras desse teclado maldito. Mas eu acho que estou aqui pra falar de cansaço e espera. Eu acho, porque desde que eu nasci eu não tenho certeza de nada. nadinha. nunca.

Os intervalos comerciais tem me irritado profundamente. Eu não aguento mais esperar os cinco minutos, ou três, ou alguém sabe quanto dura o intervalo comercial? que demora pra recomeçar o meu programa. zapeio a tv continuamente em busca de qualquer coisa que não seja o intervalo comercial e sempre acabo perdendo a mtv pública, ou qualquer vinheta idiota que podia até ser engraçada. Nas zapeadas é um pedaço de uma novela aleatória, um desenho, um clip idiota, um programa com legendas, qualquer coisa. Depois é voltar pro porgrama que eu estrava assistindo e zapear tudo de novo no próximo intervalo comercial.

Minha vida é cheia de intervalos comerciais, de momentos que eu não aguento mais esperar. Não aguento mais andar os cinco minutos que me levam até o ponto que me levam até a univervidade. Não aguento mais os quinze minutos dentro desse mesmo ônibus que me deixam na universidade. Não aguento esperar até o intervalo. Não aguento mais pegar dois ônibus e esperar até chegar em casa de volta. Não aguento mais o tempo que demora até chagar duas horas pra que passe alguma coisa que preste na televisão, e não aguento mais segurar o sono até meia noite e meia, todos os dias pra no fim, nada. Eu não aguento mais essa espera infinita por coisas aleatórias que não chegam nunca.

Dois anos e meio até terminar a faculdade. Duas semanas até a viagem. Três meses até as férias. Quinze minutos e você chega? Tudo bem, eu espero mais meia hora roendo a unnha do meu polegar esquerdo e fazendo cara de quem não está se importando. Eu vivo a minha vida toda roendo a unha do meu polegar esquerdo na espera de qualquer coisa que eu nem sei bem o que é. Términos, recomeços, oi como foi seu dia? Esperas são vazias, enchem os minutos de segundos infinitose se eu ainda conseguisse fazer alguma coisa enqaunto espero... Mas o nome é, espera. O que você quer ainda está pra chegar e não tem nada que preencha o espaço.

Minha vida é uma eterna espera. O que eu quero ainda está pra chegar e não tem nada que preencha o espaço.

Mas eu vou continuar esperando roendo o canto da unha do meu polegar esquerdo, fingindo não me importar enquanto meu chá esfria e toda a minha vontade de que chegasse já passou. No fim das contas é só uma sucessão de vazios aleatórios e impreenchíveis sem fim, e um pouco de cansaço pra completar o pacote.






Eu não aguento mais esperar, vou dormir que as unhas do meu polegar já acabaram e o vazio só está começando.

10.8.08

prazer,

Gosto de nomenclaturas, de datas, de televisão.
Não fumo, bebo muito pouco e não vou às festas legais.
Sempre estou em casa depois da uma da manhã.
Tenho medo da palavra compromisso.
Tenho medo de mim mesma.
Não pintaria meu cabelo de colorido, nem mesmo de vermelho vivo.
Uso franja por ser testuda, e nada mais que isso.
Odeio resolver coisas e problemas. Deixo tudo que eu puder pra depois.
Eu não ligo muito em perder nada, nem pessoas.

Teria um gato, se eu não preferisse olhar a sacada sem tela.
Eu nunca mais fiquei na sacada.
Espero muito mais das pessoas do que elas podem me dar.
Me frustro, diariamente.
Sou melancólica.
Detesto que esqueçam meu aniversário. ou qualquer data comemrativa.
Eu não acredito que datas não representam nada.

Gosto das aparências.
Odeio ter que secar meu cabelo todos os dias.
Imito comportamentos e estilos.
Acho o Jude Law lindo e não tenho mais vontade de morar na inglaterra.
Decoro números de telefone com uma facilidade absurda.
Ninguém nunca foi a minha vida.

Gosto de rock brasileiro dos anos oitenta.
Não gosto de coisas moderninhas.
Ando com preguiça de ler. desenho mal.
virei designer por dinheiro.
agora quero o idealismo.

imprimo em papel reciclado.
me sujo enquanto como.
deixo as luzes acesas.
as coisas não são mais como eram antes.

rio alto, mas não sou feliz.
digo que preciso de inúmeras coisas sem as quais viveria bem.
gosto de telefonemas.
gosto de mensagens de texto.
gosto de visitas.
gosto de abraços mas nunca abraço ninguém.


sou absurdamente ligada à minha mãe.


sou absurdamente parecida com o meu pai.


sou intrinsecamente ligada à minha família.


durmo quando amanhece.
acordo tarde.
chego atrasada todos os dias.

gosto de cinema, mas só o básico.
meus personagens sempre fumam.
as problemáticas, pelo menos.

respeito, mas não aceito inúmeras coisas.
eu gostava tanto de futebol...
não gosto de meninos e meninas.
só de meninos.
não entendo quem gosta dos dois.

tenho medo do que o mundo vai virar.
quero ter dois filhos, um menino e uma menina.
everything is broken.

daqui há dois anos, eu não me imagino.

sou cristã, presbiteriana.
não acredito em mil coisas que a igreja prega.
mas acredito em Deus.


gosto de beatles, mas só o necessário.
não acho o radiohead tão foda assim.

assisto novela da globo.
discuto política.
não consigo terminar o livro do franz kafka.

sentaria num café pra conversar com o chico buarque.
deixaria passar o david bowie.


me perdi.

sou viciada em café e coca cola.
não gosto tanto assim de videogames.
odeio gente prepotente.
You're not that smart.
ninguém nunca é.

respeito as limitações das outras pessoas.
burrice me irrita.
falta de capacidade, não.


gosto muito de fotografia.
mas não detesto o photoshop.
não tenho paciencia pro laboratório PB


sei de quase tudo um pouco, e quase tudo mal.


odeio quem menospreza o trabalho dos outros.
posso ter p.h.d, mas espero nunca me portar como se eu soubesse muito.
entendo o só sei que nada sei.

sou normal.
gosto de gente esquisita.
depois me irrito com elas.

nasci pra conviver com normais.


gosto de tosquisses em geral.
fui no show do charlie brown jr.
e fiquei triste em saber que o engenheiros do hawaii acabou.
por mim, Los Hermanos que se exploda.

Notívaga.
só não gosto da vida noturna.

detesto cheiro de cigarro.
não tenho paciência pra gente bêbada.
não procuro bandas que não são conhecidas, é fato.

quando eu estava no colégio, eu era simplesmente uma menina normal.

hoje eu não sei quem eu sou.


po-ten-cial cri-a-ti-vo.

se for pra ter um porre, vai ser de vinho.
sinceramente, você pode se abrir comigo.
eu sinto saudades. tantas.

acho zeca baleiro mais romântico que chico buarque
preciso de validações.
gosto de falar sério às vezes.


sinto saudades.


estou com sono.
estou sempre com sono.
vou dormir sem ter revelado nem metade de mim.


prazer, eu também não me conheço.

soledad

às vezes eu fico pensando se essa coisa de sen-ti-men-to
de qualquer espécie, valor, tipo
desde as relações de amizade, de conveniência, amor e essas coisas todas
eu fico pensando se isso não é só uma maquiagem
para o fato inevitável de que nascemos e vamos
morrer sozinhos
e que necessidade de convivência é só um egoísmo que a gente tem
porque morre de medo de enlouquecer
na
solidão.

16.7.08

O telefone (não) tocou novamente.

Você sabe, eu nunca tive vícios muito fortes. meus vícios vem e vão como tudo na minha vida. ultimamente, e algum mérito ao fato de ser julho e época de estou comendo morangos adoidada e inveteradamente, com creme de leite e açucar, leite condensado e cozinhando doces de. além disso tomo um copo de mate que compro por apenas oitenta e nove centavos no mercadorama, mais pelo preço do que pelo sabor e faço uma xícara de cappucino quase todos os dias um pouco antes de dormir, mas mais para ter um pretexto para ficar um pouco mais na internet: " tudo bem, mãe, só vou fazer um cappucino e dormir" sempre sempre. exceto quando eu quero mesmo ir dormir no horário, coisa que tem acontecido com certa frequência, junto com as minhas dores de cabeça.

Internet é outro vício que hoje é mais rotina que vício. é todo dia, as dez horas, às vezes um pouco mais tarde ou com pouco mais cedo, desligar a televisão e ligar o msn. meu pequeno universo paralelo, ou nem tão paralelo assim. tirando isso são os mesmos programas, as mesmas coisas, pessoas, rotinas e uma ou outra música diferente. o mesmo o mesmo o mesmo o mesmo. o mesmo vazio.

não é nada de especial, mas um dia você olha pra sua vida e não vê nada. você se vê sozinha, encolhida sobre o vaso sanitário de um banheiro, típica cena de qualquer filme para menininhas de franja, às 10 pras onze da noite, chorando pra depois ir olhar o quanto você se encontra decadente e toltalmente estranha no espelho. não que a sua vida seja uma porcaria, não que seus pais não te amem com toda a força que podem e menos ainda que você não tenha amigos com quem compartilhar as partes boas e ruins da vida, mas é que acontece assim, sem mais em menos e você vê tudo meio que desmoronando sem motivo, você nem queria nada demais era só um " tudo bem, eu estou aqui com você" encostar no ombro e só. era só uma companhia pra não fazer nada, ou pra fazer alguma coisa, tantofaz, nessas horas que nada faz muito sentido a gente nem pede muito, só um pouco de redenção, qualquer coisa que faça acreditar de novo, qualquer coisa bonita como escreveu o caião um dia.

eu não bebo, eu não fumo, eu nem saio. e eu fico aqui e o que me resta fazer? nada preenche direito, tem todos aqueles livros na minha estante mas eunão tenho vontade de ler aquilo, eu nem sei mais o que eu gosto de ler. as músicas me enjoam e o que me resta é aqui, meio que escrever como é que eu sinto pra ver se saí essa ausência que não é solidão. ou é. mas dói daquele vazio branco que eu já falei algumas vezes. você percebeu? percebeu que isso nem está saindo bonito nem nada. eu nem sei, eu estou vomitando palavras atrás de palavras. vontade mesmo eu estou de vomitar tudo que está aqui dentro. eu fico pensando pensando pensando, há dias que eu só penso. ainda se eu chegasse a alguma conclusão, mas eu só percebo um monte de nada. e tem piorado, tem piorado tanto e hoje nem aguentar eu aguentei. e aí podem até perguntar o que está acontecendo e eu não sei, eu não vou saber explicar essa merda toda, você entende? não, você não entende. alguém consegue explicar o vazio? alguém consegue conceber o que é a falta de? a faltade ainda que fosse a falta de algo que se sabe, mas não é, é só faltade e entendam o 'de' como um belo e bonito artigo indefinido que só quer dizer o que falta e não se sabe.

enquanto isso a adriana calcanhoto fica dizendo pra alguém entrar pela porta e dizer que a adora. talvez fosse isso que eu queria, talvez nem seja, eu nem sei o que eu quero. é, é adriana calcanhoto sim o que eu ouço, tantofaz. eu tentei ouvir radiohead e não consegui, eu acho que eu não gosto daquilo e tem um cd do verve que eu também não consigo ouvir e tem uma única música do sonic youth que eu até poderia, mas eu paro antes dos barulhos todos. páro mesmo e acabo terminando aqui junto com a adriana calcanhoto e chorando um monte e eu nem consigo enxergar mais direito o que eu escrevo, você já sentiu como se fosse desmaiar? eu já. e ela diz de correr demais e sofrer demais e eu correria demais muito mesmo até chegar a um lugar nenhum onde nem soubessem meu nome e aí eu inventaria um nome qualquer tipo sheila, assim bem suburbano e ruim. eu pararia numa cidade dessas de tres mil habiltantes onde nem chegou televisão e eles ainda conversam na calçada enquanto ouvem sertanejo da pior espécie, essa gente bem preconceituosa e sitiana, esses lugares em que todo mundo casa de véu e grinalda com o filhododonodavenda. queria parar lá, sem essa juventude idiota que sai todas as noites e acha legal fumar um baseado, longe de todas essas meninas de franja e all-star e seus róquiandróus modernetes, longe, longe desses meninos afetados que parecem aidéticos e se vestem com jaqutinhas de couro ou não, longe desses bis todos, longe de tudo.

longe de você, longe de mim inclusive, ou aliás, bem perto de mim porque eu estaria muito perto de mim. e longe das coisas que eu engulo pra parecer educada e evoluída, sem os ' gostei, sim' mesmo tendo odiado, longe da possibilidade de uns lugares em que eu sei que eu vou me meter e odiar, sabe? longe de tudo isso pra ver se eu me encontro um pouco, pra ver se eu descubro o que eu REALMENTE gosto. porque eu não sei, eu estou perdida. eu perdi as chaves eu estou aqui sozinha e eu não sei, eu não sei mesmo. é adriana, eu perdi as chaves e perdi o freio e eu não sei nem onde eu estou quando mais vou saber ondeseráquevocêstáagora. o chão e as palavras eu já perdi há muito tempo e eu ando triste e pela sala todos os dias, e morar em mim? rá, até parece, eu não moro, faz tempo que eu não moro.

Eu estou em milhares de cacos também, eu também estou ao meio, prazer, eu me enxergo nessa música. decadência decadência decadência. na única conversa útil que eu estou tendo está escrito bem em cima " I look arround and I all see is decadence" ou pelo menos estava, ou pelo menos era alguma coisa assim. agora não está mais, mas enfim eu também, tudo que eu vejo é decadencia, começando por mim mesma. ou começando pelo mundo, aaah meu Deus, eu lembrei dela me falando que a gente apoia o tradicionalismo. é, a gente sempre apoia, a gente apoia a gente sentada na calçada tomando chimarrão, você me entende tanto e amanhã a gente faz dois anos, mais do que qualquer outra coisa na minha vida. mas eu dou parabéns quando eu tiver menos decadente ou me sentindo menos, sabe?

eu sei, nem eu sei. eu vou esquecer isso amanhã, vou fingir que está tudo bem e vai continuar tudo do mesmo jeito. mas eu sou normal. simplesmente uma menina normal e eu fico olhando pro mundo a minha volta e às vezes acho um saco. a paula toller está dizendo que queria cruzar as pernas e viver na esquizofrenia dela, eu também, na minha junto com o momento só pra mim. mas o momento só pra mim me dói porque eu fico vendo onde eu estou me enfiando e meu deus, minhas pernas sentem vontade de sair correndo dizendo, por favor, pare agora que nem na música do casamento. mas tudo bem porque faz uma hora que eu escrevo sem parar e quem sabe, se eu acreditar eu sei mesmo voar. e se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais, assim com letra maíscula, porque eu acredito.

No mais eu vou me render aos morangos, meu vício de momento docedocedoce enquanto eu sinto um gosto amargo na boca e no coração, mas no coração a gente não sente gosto, só peso. talvez a vida seja meio que nem os morangos, azedo azedo e que só adoça com um monte de leite condensado que a gente coloca pra conseguir comer. ou que nem o mate, que você vai tomando tomando tomando mas uma hora chega no fim do copo e tudo amarga de uma vez, pra que você perceba que nada é sempre bom, mas mesmo assim a gente continua tomando, por descuido, poesia, ou até só até enjoar mesmo, só porque o telefone (não) tocou novamente mas eu nem fiz questão de atender. (?)


Eu só estou cansada cansada cansada cansada
assim mesmo, sem vírgula e continuamente de mim mesma e de todo o resto todo.